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Pedro Antunes

Edi Rock | Faixa a faixa de 'Origens Parte 2': 'É o resumo da minha vida'

Capa de "Origens Parte 2", disco do Edi Rock - Divulgação
Capa de 'Origens Parte 2', disco do Edi Rock Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

24/10/2020 07h30

Sem tempo?

  • Edi Rock é um dos pilares do rap nacional ao lado do grupo Racionais MCs
  • Em 2019, o rapper lançou o álbum 'Origens'
  • Um ano depois, ele apresenta 'Origens Parte 2'
  • "É um disco sobre passado, presente e futuro", diz Edi Rock
  • O álbum tem as participações de MV Bill, Thiaguinho e nomes da nova cena de rap nacional
  • Aqui, Edi Rock detalha cada uma das 15 músicas do novo álbum

Edi Rock está a mil por hora. Em 2019 lançou o álbum "Origens" e, um ano depois, o rapper do Racionais MC's entrega "Origens Parte 2" (pela Som Livre).

Como o nome diz, é uma invariável continuação do trampo anterior, mas, aqui, o MC que é uma das pedras fundamentais do rap brasileiro vai ainda mais longe.

"O álbum é um resumo da minha vida, dos tempos. Atemporal. Faço um rolê no passado, presente e futuro. Como já diz o título: 'ontem, hoje e amanhã"
Edi Rock

Nessa pegada, o rapper experimenta. Vai pro rap cru, de rua, de sample e rima, como em "Origens Parte 2", a música que abre o álbum e pode ser o "passado".

O futuro está em participações de uma molecada, como Flacko (em "De Angola'"), Guto GT (em "Vai Chover"), e Lourena e Morcego (juntos em "Liberdade").

Esteticamente, ele se arrisca neste álbum. Rima sobre um afrobeat contemporâneo em "Heads Up", também vai para o futuro em "Som de Iemanjá". "Nunca tinha feito algo parecido com isso", conta Edi Rock.

Sem dó, Edi Rock escancara feridas. Canta "Vidas Negras", single do álbum, também canta a noite de São Paulo, entre perigos e delírios, como em "Paranoia" (com Sombra) e "Tá Tendo". Ali estão o "presente".

Edi Rock e Thiaguinho - Leonardo Muniz / Divulgação - Leonardo Muniz / Divulgação
O rapper Edi Rock e Thiaguinho, que cantam juntos a música 'Um Novo Amanhã'
Imagem: Leonardo Muniz / Divulgação

Ele emenda referências que vão de Bootsy Collins a Tupac Shakur, Ice Cube, Nate Dogg. Reúne parcerias, como a inédita com Jorge Du Peixe (do Nação Zumbi), em "Vai", e Thiaguinho, em "Um Novo Amanhã".

A ideia deste faixa a faixa é apresentar "Origens Parte 2", disponível em todas as plataformas digitais desde sexta-feira, 23, pelas palavras do próprio Edi Rock. Ele comentou cada uma das 15 músicas do álbum com exclusividade para o blog. Todas as músicas podem ser ouvidas enquanto lê o que Edi Rock tem a dizer sobre cada uma delas.

Vamos lá?

Edi Rock - Divulgação - Divulgação
O rapper Edi Rock lança o álbum 'Origens Parte 2'
Imagem: Divulgação

1) 'Origens Parte 2'

"A abertura tem início com o mesmo tema da saga Origens [álbum lançado em 2019]. Tento resgatar e fazer o que é lógico (e que mais gosto): é o estilo rap de rua crua. Sample e rima, como foi o começo do hip-hop, batida e rimas, rap e poesia, metáforas, trocadilhos e jogo de palavras. 'O fundamento do Rap' sem perder a mensagem.

2) Dá um Grito (feat. Big da Godoi)

"Dá um grito vem com um feat do meu amigo Big da Godoy no refrão, também com jogo de palavras e rimas, como eu gosto de fazer, numa batida mais que me lembra a escola de Los Angeles, Nate Dogg e Ice Cube.

Eu digo na rima como o dia a dia de São Paulo é, maluco, corrido, viciado, acelerado, sintético e psicótico. Tudo acontece ao mesmo tempo num lugar só. São Paulo é um hospício!"

3) 'Só Deus' (feat. Daniel Quirino)

"'Só Deus' conta com participação no refrão de outro parceiro de anos, Daniel Quirino, com a uma pegada gospel blues numa batida que lembra essa linha 2Pac de som. Venho rimando e jogando com as palavras sobre a mentira. Digo que a mentira tem perna curta, em todas as situações, da maior à mais inocente.

Tetos de vidro, everybody, uns usam-na para o bem maior, talvez, e outros usam a mentira para o próprio bem. Mentira e dinheiro andam juntos. Mentira e vantagens, mentira e ganhos, mentiras e trapaça são aliados na maioria das vezes."

4) 'Um Novo Amanhã' (part. Thiaguinho)

"Essa música vem com o feat do ídolo popular e um grande representante do pagode numa batida clássica dessas que a família inteira pode ouvir, falando sobre um dia melhor, juntos, que é o que todos queremos em meio a tantas agruras e mazelas atuais.

"Pura energia e harmonia boa como a Thats my way eu vejo! Com videoclipe já gravado, que irá ao ar no fim do ano. Desejando boas energias ao mundo."

5) 'Grão de Areia'

"Nesta música, chego com um som mais intimista trocando ideia com meu parceiro. Saiu assim mesmo, numa rima corrida. Chego nas ideias com um parceiro falando em se trombar e matar a saudade, digo como tô a milhão no trampo e que logo tô de volta pra revê-lo.

Arrisco, também, na experiência de usar o autotune fazendo o refrão na pegada moderna. Minha inspiração foi Bootsy Collins, mas vão dizer que não. Junto duas coisas nesse som: 2Pac e Bootsy"

6) 'Vidas Negras'

"Vejo essa música como um manifesto, uma posição política e uma granada sem o pino nas nossas mãos diariamente. Som, rimas e ideia atual. Vejo como uma crônica do que é na real.

Esse tema já tenho em mente há algum tempo, soltei como single em junho fazendo a prévia do álbum por explodir neste ano o que há anos o rap vem falando.

Quis participar dos protestos do #blacklivesmatter por meio da música, que é o que acho que faço bem. Música e mensagem ou mensagem com a música"

7) 'De Angola' (part. Flacko)

Essa música chega com o feat e a produção de um talento da nova geração chamado Flacko, do Rio de Janeiro. Quis arriscar mais uma vez. Ousadia e alegria é o lema.

Vamos vê no que dá. Rap é atemporal, quis tentar vir nessa linha dos meninos, os moleques estão abusados, mas eu sou também. Gostei da ideia de estar junto deles. Curto de desafios e, na real, o que vale é o som, o resultado.

Pra mim, é satisfatório, moderno, com conteúdo e pesado. Flow corrido, mas como digo nesse som: 'quem corre é a bola'! Esse som também fala sobre a opressão com o negro, sobre a violência policial nas periferias."

8) 'Paranoia' (part. MC Sombra)

"Nesta música, tenho de novo a felicidade de contar com um representante do hip-hop brasileiro, o Sombra. Mais uma vez, nos encontramos em uma pancada que relata a noia que é São Paulo à noite.

Das baladas dos Jardins às quebradas. Das diversões às decepções. Música crua, pesada. É a cara de São Paulo. 'Paranoia noia para só que não', rima o Sombra MC. Muito bom! Ele está representando o [grupo] SNJ. Ele trouxe o espírito sombrio que eu vejo em certos momentos e horários de São Paulo, quando as ideias batem errado na mente."

9) 'Tá Tendo'

"É uma das poucas músicas que não têm mensagem - se não for a única. É um som pesado e palavras soltas, abusando novamente de um refrão com efeitos jogados ao extremo. Lembra a banda de funk americana Zapp.

A história da faixa rola em São Paulo e engata no gancho da faixa anterior. O mano sai no rolê com os amigos pra curtir, ficar doidão e depois volta acompanhado pra goma. Um dia de loucura, normal. Já que só tem louco no mundo, a realidade é depressiva."

10) 'Vai Chover' (part. Guto GT)

"É a única faixa romântica do álbum. Conto com mais um talento da nova geração chamado Guto GT, com produção do filho do meu parceiro KL Jay. Sonzeira moderna e harmônica, com jogo de vozes desse novo talento. Canto bonito de ouvir e apreciar a qualidade vocal desse garoto. Uma das minhas preferidas do álbum!"

11) 'Liberdade' (part. Lourena, feat. Morcego)

"Aqui, voltamos ao rap tradicional e moderno ao mesmo tempo. Usamos sample, mas também têm as participações de jovens do nosso rap nacional. Conto com participações da nova geração como Morcego e Lourena, produção de DJ Cia. Um rap harmônico e com mensagem boa, relatando o valor de ser livre e questionando: o quanto somos livres?; Qual a direção que seguimos?; Qual o valor de tudo? Falamos em valores e sonhos! Destaco também os vocais dessa garota Lourena, talento único."

12) 'Som de Iemanjá'

Entendo essa música como som olhando para o passado, para minha escola, pros bailes que frequentava, pra aquilo que me formou. Ao mesmo tempo, é uma música que abusa de efeito na voz, lembrando uma referência à Nate Dogg... Só que não!"

Uma das minhas preferidas do álbum também. Ainda não tinha feito algo parecido, então talvez seja por isso eu gosto tanto dela. Tem um som futurista. É uma música pra ouvir em som bom. Prepare os falantes. Ouço como um mantra pra mim. Ouço treinando. Aliás, como muitas músicas que eu faço, eu faço treinando também. Tem essa intenção de ouvir em atividade, em movimento, em festa, no carro, na estrada. Penso em uma trilha sonora em tudo o que faço. Minha vida é uma trilha sonora. Até meu nome é música, Edi 'Rock' (risos)"



13) 'Vai' (part. Jorge Du Peixe)

"Conto com a participação de Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi, um sonho realizado. Há anos queria ter essa parceria, ou lá ou cá, mas "cá" veio primeiro. Conheço alguns da banda, mas nós nunca tivemos a oportunidade de se trombar. Muito feliz em rimar com ele num som tribal produzido também fora de casa e fora do normal. Digo, seria um som tribal até meio a cara deles, cheio de atabaques e toques de berimbau.

Falamos sobre o momento atual: o apocalipse, fim dos tempos. Tivemos uma boa junção, uma sintonia completa. Por conta da pandemia, o Jorge Du Peixe gravou a parte dele em casa, com pouco recurso e me enviou. Essa música também tem videoclipe e será lançado em breve."

14) 'Dinheiro' (part. MV Bill)

"Aqui, eu tenho a força e o grave desse meu aliado do Rio de Janeiro, o MV Bill. Esse é mais um sonho realizado, assim como alguns que estão na gaveta ainda. Chegamos fortes falando sobre o mal necessário que é o vil, o metal, as suas neuroses e vícios na alma do homem. Som retrô na batida anos 90 e guitarras lembrando shaft ao longo da história, casando com a levada e assunto atual. Essa é uma música muito boa também! Mais uma das minhas preferias que eu destaco. Pod pá!"

15) 'Heads Up' (part. Meaku)

Uma música que chega numa pegada afrobeat moderna. Mais uma vez, arrisco em outras sonoridades e tento fazer algo diferente. Inclusive, em conversar com as raízes do outro lado do Atlântico. Meus conterrâneos de lá vão se identificar, assim espero.

É um recado pela união e força mundial dos negros, independentemente de fronteira, local, divisa ou bandeira. Conto com produção e vocal de dois nigerianos que moram em Los Angeles, Essa base chegou na minha mão como um desafio e eu aceitei. Achei um bom resultado. Desafiador como eu gosto. O Rincon Sapiência vai curtir também, já que ele ama esse ritmo.

Encerro o álbum com a mente e a intenção de uma aliança mundial pela liberdade e guarda dos direitos de viver e ser feliz"