Luciana Bugni

Luciana Bugni

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Jane Fonda no SXSW: 'Não transem com quem polui o planeta'

Jane Fonda está brava. Segundo ela, há mais de 50 anos.

"Estamos dando dinheiro para que as pessoas destruam esse planeta. Isso não deixa vocês bravos? Temos de parar de ficar na cama preocupados com o futuro do planeta e fazer eles pararem. Vocês não podem dormir com os caras da indústria dos combustíveis que está destruindo tudo!", grita ela no microfone, arrancando aplausos dos presentes no painel do qual participou no SXSW, o maior festival de inovação do mundo, realizado em Austin (EUA).

A cientista Sweta Chakraborty, presidente da We Don't Have Time, maior plataforma do mundo para problemas climáticos, e o ativista David Fenton, que luta há mais de 50 anos na promoção de causas sociais, também fizeram parte da mesa. "Jane é a mais furiosa de todos nós", afirma Sweta.

De fato, a atriz americana de 86 anos tem vitalidade de jovem para lutar. Ela já foi presa dezenas de vezes para chamar a atenção para suas causas. "Eu venho de uma linhagem de pessoas deprimidas na família. Há alguns anos, senti que estava começando a ficar assim também. Mas aí, quando eu saio de casa para ser presa, faço amigos, me divirto. Militar é muito legal", ela convoca os presentes a se juntarem a ela.

Somos a primeira geração a sentir os reais efeitos da crise climática e os últimos que podem fazer alguma coisa a respeito disso.

Jane reclama da cobertura da ABC, diz que a Disney devia controlar melhor isso, ridiculariza a Fox News e clama pelo apoio do Texas, onde acontece o SXSW, nas eleições americanas de 2024. "Votem com o clima em seus corações", ela diz, antes de chamar Trump de "aquele cara vermelho" e afirmar que empresas como Exxon e Chevron são "criaturas diabólicas".

Eles chamam lugares em que o solo deixou de ser fértil de zonas de sacrifício. É isso que acham de nós.

A situação, segundo ela, é uma junção de crenças. Não existiria crise climática se não existisse racismo e machismo, garante, citando a hegemonia masculina branca entre os tomadores de decisão.

"O projeto é de individualizacão desde o século passado. Cada um pensa em si. De fato é o melhor jeito de ir mais rápido. Mas juntos a gente pode chegar mais longe. Como é que pode estarmos optando por isso se a outra saída leva à sobrevivência da humanidade?"

Continua após a publicidade

A tentativa de mobilizar mais pessoas para a luta climática faz sentido. Foi com a força das pessoas nas ruas que o casamento gay saiu do papel ou a corrida nuclear terminou. "Artistas, criem poemas, filmes, canções. Falar de clima deveria ser tão popular quanto falar de música."

David completa que o jornalismo está fazendo um trabalho falso de dar voz aos dois lados dessa briga. "Tem um lado só: estamos matando todo mundo. Se 97% dos cientistas ambientais preveem o colapso, precisamos estar com eles." Ele cita também a gravidade da epidemia de dengue no Brasil.

"Eu sou Jane Fonda e faço pouco, imagina quem não está fazendo nada", diz, com quase nove décadas de vida.

Imagina quem não está fazendo nada, a gente abaixa a cabeça envergonhado.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes