Carisma de Piovani: esquecer o que sociedade espera da mulher cai bem
Luana Piovani está lindíssima em um podcast, tal qual há 30 anos na TV, falando em alto e bom som que não quer mais se casar nessa vida. Justifica: pelos na pia, toalha molhada na cama e outros entreveros que mulheres acostumadas a viver sozinhas não têm muito mais paciência para encarar.
Recebi o recorte do vídeo que pautou a conversa do fim de semana de umas três amigas diferentes, todas divorciadas ou em vias de se divorciarem, animadas com a fala raivosa e debochada de Luana.
Parece que a atriz diz, sem se preocupar com os bons costumes, o que muitas outras gostariam de falar. Fala palavrões, faz piadas. E se enaltece —uma mulher pode falar bem de si mesma em público? Luana pode tudo.
"Faço o que quero e o que me apetece", diz a atriz bem alto, gesticulando. Ninguém duvida. No vídeo, está ridicularizando quem a chama de amargurada. Descreve os atributos físicos do namorado, 15 anos mais novo. Afirma que, aos 50, faz fotos de biquíni para catálogos. E pode isso? Oras, já disse, Luana pode tudo. E toda essa liberdade tem uma razão apenas: ela se permite.
Ricas criaturas
A conversa lembra a genial personagem de "Pobres Criaturas", filme protagonizado por Emma Stone que concorre ao Oscar. Bella, a personagem, foi criada por um cientista meio malucão em um laboratório e, por isso, não é dotada do verniz que é dado às mulheres desde seu nascimento.
É extensa a lista do não pode. Abrange desde o inocente sentar de pernas abertas até falar mal de casamento em público. Isso inclui também o pecaminoso fazer sexo com desconhecidos. Bella desconhece essas regras inventadas por homens e para o bem de homens.
Se é gostoso dar "saltos furiosos" em cima de um homem (o jeitinho dela chamar o sexo quando a mulher fica por cima), por que não saltar em cima de todo mundo que parecer interessante? Um dos homens, no filme, chora quando sente o ciúme corroê-lo e ela responde inocentemente que não entende aquele sentimento complicado. Dá para saltar furiosamente com todo mundo, é só organizar, a personagem sugere.
Bella está descobrindo o mundo a partir de sua perspectiva e ali não cabe o machismo. Vendo por seu ângulo, os homens parecem realmente uma desvantagem difícil de carregar — eles impedem alguns saltos furiosos e ainda, como pontuou Luana, largam a toalha molhada pela casa. Não são todos, eu sei. A generalização é só a divertida premissa da ficção. Mas se servir a carapuça...
Ser assim como Luana rende críticas desde sempre. Mas, com o amadurecimento, ela percebeu que nada disso importa. Se vão falar de sua ficcional amargura, ela veste seu biquini e faz o que apetece (aqui, separando as sílabas que estalam no céu da boca para enfatizar: a-pe-te-ce).
Não ter a mente programada para sentar sempre de pernas fechadas ou para agradar os homens porque é difícil arrumar outro por aí parece vantajoso. Afinal, profetiza Luana, por que é que precisa arrumar outro?
Minha mãe (que me ensinou que é errado sentar de pernas abertas) diz que é preciso ter um pouco mais de paciência com os caras. Imagina só, ela provoca, oprimir a vida toda e, de repente, se sentir oprimido? A gente ri no almoço de domingo.
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