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Ator Marcelo Médici sai em defesa da comédia: 'O humor sempre é punido'

Fui ver mais uma vez o espetáculo "Cada Um Com Seu Pobrema" com o mestre do humor e da comédia Marcelo Médici aqui em São Paulo e depois conversamos por vídeo.

Antes da entrevista de fato começar, relembramos a grande e querida atriz Mara Manzan, que nos deixou em 2009 e comentou como a vida da gente se esbarra. Marcelo lembrou que Mara se mudava muito, mas que sempre levava consigo duas fotos, uma dela nua, artística, com os cabelos na frente e uma foto em cena, comigo, na peça "Viva o Cordão Encarnado" de Luís Marinho.

Me surpreendi com a formação dele como ator no CPT do grande diretor Antunes Filho, onde muitos começaram e hoje fazem belas carreiras como ele.

Quis saber como foi para o humor. Lembrei que talvez seja desta formação que ele foi na contramão de muitos que foram para o stand up, construindo diversos personagens inclusive a Cleusa faxineira, o Sanderson motoboy e o delicioso Mico Leão Dourado, o meu preferido. E ele lembra que era o preferido também do saudoso Jô Soares, um dos maiores mestres do humor brasileiro.

Uma curiosidade, o personagem Sanderson era uma brincadeira dele no camarim, já que já trabalhou como office boy quando era mais jovem.

Marcelo conta que Claudinha Rodrigues levou seus trabalhos para Chico Anysio e que quase entrou na "Escolinha do Professor Raimundo", mas como recebeu o convite para ir para "A Praça é Nossa" pois Marcelo de Nóbrega estava assistindo o Prêmio Multishow de Humor, no qual ele saiu vencedor, optou por ir para o programa do SBT e brincou que o salário também era maior.

Falamos também do fazer humor em tempos de "politicamente correto" e Marcelo contou que sempre quando irá voltar com a peça, assiste a última apresentação da temporada anterior para ver o que não cabe mais no texto da próxima temporada de sua peça.

Ele contou que o único autor que ele realmente pediu para participar de algum trabalho foi Silvio de Abreu - que como comentei na entrevista, apostava muito em Marcelo - e conta que para ir atrás de Silvio, acabou descobrindo seu endereço e deixou seu material com um bilhete explicando que sempre foi seu sonho fazer uma novela dele e que seria um ator frustrado e que jamais imaginaria que Silvio iria entrar em contato apenas uma semana depois para um trabalho, porém, Marcelo não pode fazer pois ainda estava no SBT, porém cinco anos depois, foi convidado para fazer a novela das 21h "Belíssima".

Nós abordamos também esse desmanche que a Globo vem promovendo do seu castelo hollywoodiano e como os artistas deixados para trás, sem contratos, estão vivendo ou sobrevivendo.

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Sobre o humor: "Eu sou a favor de que o humor esteja de acordo com o tempo dele. Porque se a gente assistir hoje em dia um filme ou mesmo um programa humorístico antigo. Tem coisas que realmente não cabem mais".

Piadas que já não cabem: "Lembro que uma vez gravando a 'Praça' tinha uma piada envolvendo um atriz gorda e eu lembro que aquilo me incomodou e que foi questionar a atriz, que disse que se não fosse assim, ela não trabalhava. E isso eu acho muito triste e eu não gosto disso. Por isso eu sempre fui muito chatinho nesse sentido".

O público: "Eu acho que o humor exige uma inteligência de quem assiste e uma capacidade de elaboração do que está assistindo. Se a pessoa vai preparada pra criticar (ele dá exemplos), aí não vai dar pra fazer humor, vai acabar o humor".

Inimigos do humor: "Eu não tô querendo ofender ninguém, mas tem gente que não gosta de comédia, mas temos os 'inimigos do humor', as pessoas que não gostam de olhar o mundo por esse prisma e tem todo o direito, mas aí não vai assistir uma comédia".

Em defesa da comédia: "O humor é o mais punido sempre. Se você vai fazer um filme com um tema polêmico e ele é dramático não existe limite pro drama. Você pode falar 'Ah fui assistir um filme, foi muito pesado', mas esse filme não vai ser cancelado porque ele foi às últimas consequências do drama. O humor parece que é sempre um deboche, um desrespeito, uma forma de depreciar aquela questão e as vezes não é. Às vezes é uma crítica".

As mudanças na TV: "Existe uma fantasia que os atores ganham fortunas ou de que aquela pessoa fez dez novelas e que ficou rica. Eram outros tempos. Essa fusão, essa chegada dos novos, é claro que é incrível porque eu também já fui o novo chegando lá em 2005 na televisão, mas eu acho que essa fusão precisa ser muito bem equilibrada porque a experiência é uma coisa que não pode ser jogada fora em nenhuma profissão".

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