Chico Barney

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Opinião

Farofa da Gkay sofre do mesmo mal que a Marvel nos cinemas

O sucesso arrebatador dos filmes de super-heróis ao longo dos últimos 15 anos transformou Hollywood em um típico sebo de rodoviária dos anos 1990. Os personagens da Marvel invadiram as salas de exibição até o ponto de exaustão: é uma oferta tão generosa que as pessoas simplesmente preferem deixar pra lá.

Chegou numa hora em que ficou difícil fingir que a gente realmente se importa com tantos capitães, soldados e alienígenas revolucionários. Os filmes podem até ser divertidos, alguns atores carismáticos continuam contratados, mas sejamos francos, no ritmo frenético da produção de conteúdo do século 21, o multiverso da loucura virou mera paisagem.

E se não está fácil fingir interesse no destino de Nick Fury em sua trigésima quarta aparição cinematográfica, fora as séries relacionadas, ou então prestar atenção para descobrir de qual linha temporal veio o Fera interpretado pelo cara do Frasier, imagine só dar a menor pelota para quem está beijando quem na Farofa da Gkay.

O bunda-lelê corporativo organizado pela influenciadora blockbuster do Instagram seguiu o rumo natural de todas as coisas que existem sob a égide do sistema em que vivemos: virou um pastiche de si mesmo. E não há qualquer juízo de valor nisso, apenas a constatação do que salta aos olhos.

A Farofa da Gkay é uma plataforma poderosa de conteúdo e engajamento. Os influenciadores vão para lá no intuito de performar alegria, diversão e sacanagem -como se fosse um vislumbre na vida íntima das pessoas mais públicas do terceiro milênio. Um convite à espiadinha, como diria Pedro Bial -mas em vez do Boninho, o buraco da fechadura é dirigido ao vivo pelos próprios participantes.

Causa um certo fascínio o atual rebranding do Fiuk, outrora sofrendo de pressão baixa no BBB e agora entregue às delícias do subcelebridadismo nacional? Não vou negar que é um fenômeno curioso. Mas todo o entorno do evento não consegue provocar as mesmas sensações que chacoalharam o país uns anos atrás.

Assim como Hollywood e seus filmes de hominho, o star system nacional não para de lançar novos nomes, sempre mais obscuros que os anteriores. A dificuldade para entender a importância de cada estrela em ascensão, além da inevitável repetição de tramas, como o périplo a respeito da quantidade de beijos por noite, faz com que o frisson se perca pelo caminho.

Um problema central para isso é que a produção de conteúdo desse gênero aumentou muito de uns tempos para cá. Não precisamos mais esperar o Super Bowl dos influenciadores para degustar as fofocas mais escabrosas e os relatos selvagens da busca por likes.

Para fugir do cansaço dos ávidos internautas, a Farofa da Gkay precisa enfrentar com coragem o mesmo desafio da Marvel nos cinemas. Como continuar relevante enquanto apresenta novos protagonistas e busca repetir uma conexão autêntica com os telespectadores já calejados de tantas emoções passageiras?

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É uma equação difícil e ainda em processo de construção. Vejo que Carlinhos Maia tem sido conceitualmente bem sucedido no formato da Casa da Barra, reality que conduz nos stories do seu perfil no Instagram. E a própria Gkay já demonstrou fôlego e talento de sobra para se reinventar sempre que necessário.

Enquanto a próxima evolução do mundo em que vivemos vai sendo desenvolvida pelos principais ourives da internet, sigo louvando a vigorosa linha de produção de conteúdo da Farofa da Gkay. Contemporânea, colaborativa e diversa como poucas outras iniciativas da comunicação brasileira, ainda há de ser melhor compreendida pelos analistas da nossa mídia.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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