Travessia: será que a Globo está com vergonha de fazer novelas?

De uns tempos para cá, parece que a Globo ficou com vergonha da estética consagrada de suas novelas. Como se para mostrar que está à altura do estilo e da técnica dos novos concorrentes internacionais, desistiu da linguagem visual que consagrou suas melhores obras.

Um Lugar ao Sol já tinha sofrido bastante com essa urgência de parecer qualquer outra coisa que não seja novela. Mesmo o remake de Pantanal exagerava em firulas que não serviam para nada, mais ou menos como os longos solos de guitarra do Yngwie Malmsteen.

Travessia segue pela mesma toada. Cada capítulo é recheado com diversos maneirismos que não ajudam em nada a contar a história —na verdade atrapalham. Tiram o foco do que está sendo contado para mostrar que a emissora está antenada às tendências.

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Mas é um volume tão grande de referências que acaba deixando a novela parecida com uma colcha de retalhos. Não tem identidade nenhuma, além de parecer uma colagem das séries mais bregas disponíveis na Netflix.

Tem tela de celular pulando na nossa cara, câmera posicionada em locais inusitados para tentar passar a sensação de tensão, mas apenas desviando o foco, uma versão meio sem contexto ou alma de Euphoria da HBO, flashback parodiando novela mexicana apenas para ser abandonado na lembrança seguinte... E muito mais.

As novelas costumavam fazer sucesso justamente pela simplicidade das tramas e a facilidade de apreensão por parte da audiência. Encher uma história da Gloria Perez de cacarecos visuais é caminhar na contramão do sucesso.

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