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Arte Fora do Museu

REPORTAGEM

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Presença russa ameaça patrimônio da humanidade na Crimeia

Felipe Lavignatti

Colunista do UOL

29/09/2021 11h19Atualizada em 29/09/2021 11h19

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Resumo da notícia

  • Arte muçulmana da região está em maior risco
  • Rússia retirou obras de arte da cidade

No mês passado falamos aqui sobre o patrimônio artístico em risco no Afeganistão com a tomada do poder pelos Talibã. Ainda na Ásia, há uma cidade inteira com seu acervo arquitetônico, cultural e artístico ameaçado. Quersoneso, na Crimeia, foi uma colônia grega há 2500 anos, conhecida como a "Pompeia ucraniana" e a "Troia russa". Desde a anexação em 2014, a Rússia vem se apropriando de arte na região.

Minarete de uma mesquita no palácio Bakhchysarai - Aleksander Kaasik - CC BY-SA 4.0 - Aleksander Kaasik - CC BY-SA 4.0
Minarete de uma mesquita no palácio Bakhchysarai
Imagem: Aleksander Kaasik - CC BY-SA 4.0

Um relatório da Unesco divulgado este mês sobre o patrimônio cultural e as violações dos direitos humanos na Crimeia afirma que a Rússia se apropriou de milhares de monumentos, exportou e exibiu ilegalmente artefatos de museu e conduziu escavações arqueológicas não autorizadas. De acordo com o documento, escavações iniciadas em junho ameaçam a antiga cidade grega, listada como Patrimônio Mundial da Unesco em 2013.

Segundo a Unesco, a Rússia se apropriou de bens culturais ucranianos na península, incluindo 4.095 monumentos nacionais e locais sob proteção do estado. A Unesco não reconhece a jurisdição russa sobre o local, onde está sendo desenvolvido um parque temático parte de um progama chamado "Rússia, Minha História". O relatório é baseado em informações fornecidas pela Comissão Nacional da Ucrânia para a Unesco e pela Delegação Permanente da Ucrânia a pedido do diretor-geral da Unesco.

Ainda é denunciada a perseguição aos tártaros da Crimeia e a violação de seu patrimônio cultural. O Palácio Bakhchisaray dos Khans da Crimeia, por exemplo, o único conjunto arquitetônico remanescente do povo indígena tártaro da Crimeia desse tipo, passou por uma restauração distorcida, apagando elementos originais. Segundo o relatório, medidas assim visam enfraquecer os traços muçulmanos da região para justificar a ocupação russa.

Uma carta do Conselho Internacional de Museus e Sítios incluída como um adendo ao relatório observa que uma missão de está pronta para visitar e avaliar a cidade desde 2016, mas o convite não foi respondido ainda.