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Andreza Delgado

'Bum Bum Tam Tam': todos amam melô da vacina, mas funk segue criminalizado

MC Fioti no Instituto Butantan, em São Paulo - Kondzilla / Divulgação
MC Fioti no Instituto Butantan, em São Paulo Imagem: Kondzilla / Divulgação

Colunista do UOL

27/01/2021 12h48

Lançada em tempos mais leves, "Bum Bum Tam Tam" já era um sucesso espetacular desde 2017. A música do MC Fióti, que começa sampleando o compositor clássico Johann Sebastian Bach, atingiu 12 milhões de views no YouTube e ganhou inúmeras versões.

Tomou não só a internet, como o rádio e a TV.


E como 2021 chegou com altas emoções, com o começo vacinação no Brasil, o MC Fióti, cria do Capão Redondo, bairro da zona sul de São Paulo, voltou aos holofotes com o remix da música, que já vinha sendo usada como homenagem à Coronavac, produzida pelo renomado Instituto Butantan (pescou?).

Ele brilhou ainda mais ao entrar na onda e gravar um clipe na sede do Butantan, protagonizado pelos funcionários públicos que tornaram a vacinação no Brasil possível. Até a Naja de Brasília, levada ao Instituto, faz participação especial!

Quer campanha de vacinação mais brasileira que essa?

Se vacina aí, pow.

MC Fióti no remix de "Bum Bum Tam Tam", chamado de "Vacinabutantan"


Mas nem tudo é felicidade

O mesmo gênero musical que brilha na tão necessária campanha para convocar a população a se vacinar segue sendo criminalizado na cidade de São Paulo. E um dos responsáveis é o governador João Doria.

Dória, que fez do combate aos pancadões (bailes das periferias) uma verdadeira bandeira da sua gestão, compartilhou o vídeo da campanha, celebrando "a união do funk com a ciência".

O que era para ser muito bacana, mas voltando um pouco a fita a gente lembra da repressão do governo Dória aos bailes.

O governador é o mesmo que declarou que o estado iria manter sua política de repressão às festas da periferia depois da chacina da PM no baile de Paraisópolis, que terminou com 9 mortos e 12 feridos. O secretário de Segurança, general João Camilo Pires de Campos, inclusive classificou a ação da polícia como de "muito profissionalismo".

 vitimas Paraisópolis - reprodução internet - reprodução internet
Da esq. para dir. em cima: Denys Henrique Quirino da Silva, 16; Gustavo Cruz Xavier, 14; Gabriel Rogério de Moraes, 20; Mateus dos Santos Costa, 23; Da esq. para dir. em baixo: Bruno Gabriel dos Santos, 22; Dennys Guilherme, 16; Marcos Paulo, 16; Luara Victoria de Oliveira, 18 e Eduardo Silva, 21; jovens mortos durante uma ação da PM em um baile funk de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo.
Imagem: reprodução internet

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a brutalidade policial contra os pancadões não se resume apenas a Paraisópolis. A PM de São Paulo, comandada por Dória, coleciona diversos episódios de abusos. Ao todo, a Folha contabilizou 16 mortes em três anos.

É realmente muito bom ver o funk novamente tomando o imaginário das pessoas, funcionando como incentivo à vacinação. Mas não dá para esquecer todo o processo de criminalização que outros mesmos jovens parecidíssimos com MC Fióti sofreram, perdendo sua vida ao buscar lazer nos pancadões.

MC Fioti  - Divulgação / Kondzilla - Divulgação / Kondzilla
MC Fioti
Imagem: Divulgação / Kondzilla