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Aline Ramos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estupro e gravidez de Klara Castanho não deveriam ser tratados como fofoca

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

26/06/2022 13h37

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A carta aberta publicada por Klara Castanho é devastadora. O relato enumera uma série de violências sofridas pela atriz: o estupro, o momento do parto do bebê e a abordagem de colunistas de celebridades, que trataram a sua história como mais uma fofoca bombástica.

Por mais que Leo Dias tenha escolhido não publicar o caso de Klara Castanho em sua coluna no Metrópoles, ele se tornou um agente da violência contra a atriz. Afinal, não respeitou o momento do parto e depois falou sobre o assunto como uma fofoca cifrada no programa de Danilo Gentili no SBT.

Essa fofoca contada pela metade foi usada pela atriz e apresentadora Antônia Fontenelle. Em um vídeo, ela usou o que Leo disse para jogar um canhão de luz sobre a história, com direito a julgamentos preconceituosos e acusações de crime.

Fofoca atraiu "urubus"

Mesmo sem dizerem quem era a artista, Leo Dias e Antônia Fontenelle levaram inúmeras pessoas às redes de Klara Castanho para investigar a vida da atriz. As pistas dadas por ambos indicaram que a famosa envolvida no caso era ela.

Em sua carta, Klara cita outro colunista que a procurou no momento do parto. Ainda não se sabe o nome, mas há outras pessoas envolvidas nessa história de terror.

O jornalista Matheus Baldi chegou a publicar sobre a gravidez, mas apagou a nota depois. Após o caso vir à tona, ele explicou que foi procurado pela atriz e, ao saber da história, preferiu apagar sem dar explicações.

Mesmo que Matheus tenha apagado e feito silêncio sobre a história, ele também colaborou com os "urubus" que estavam em busca de sinais para revelar que Klara Castanho era a tal moça citada por Leo e Fontenelle.

De vítima à alvo

Ao tratarem a história de Klara Castanho como uma fofoca cabeluda, essas pessoas fizeram com que ela passasse de vítima à alvo de críticas nas redes sociais. Uma mulher que sofreu violência sexual não deveria ter a vida avaliada e investigada por curiosos dessa maneira tão cruel.

Leo Dias ainda piorou mais a situação ao publicar dados do nascimento da criança em sua coluna. A entrega legal para adoção é um direito da mulher e o sigilo também é um direito da criança, protegido pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Há procedimentos técnicos para proteger a criança e a mulher, e nenhum deles passa por coluna de celebridades. O texto já foi retirado do ar.

Mulheres famosas são mulheres

O corpo de uma mulher é apenas dela e deveria ser respeitado, sendo uma artista ou não. Mulheres famosas são antes de tudo mulheres e não deveriam ser forçadas a se expor apenas por terem um trabalho público.

Esse episódio tão triste é uma oportunidade para todos repensarem a forma como lidam com casos delicados dessa maneira. Situações de violência e íntimas como a de Klara Castanho não podem e nem devem ser tratadas e alimentadas como uma mera fofoca por imprensa, colunistas e público.