História de amor originou hospital-palácio na França e leilão de vinhos
O piso do Hospices de Beaune, construção histórica do século 15, símbolo da cidade francesa de Beaune, é uma declaração de amor de seu fundador, o negociante Nicolas Rolin, à mulher, Guigone de Salins. O revestimento é formado por quadrados dispostos lado a lado. Cada um trazendo, em letras góticas, as iniciais dos primeiros nomes de ambos e a palavra “seulle”, que em francês antigo quer dizer “única”, e o desenho de uma estrela, formando a mensagem “minha esposa, minha única estrela”.
A história de amor por trás do edifício não é a única coisa que o faz diferente da maioria dos hospitais. O lugar não tem uma aparência fria e austera, normalmente associada a essas construções.
Construído em 1443, o Hospices mais parece um palácio. E foi essa a intenção do casal fundador, que usou obras de arte para decorar o local, que recebeu doentes atingidos pela peste negra na Idade Média.
O glamour foi tanto que, a despeito de ter como função acolher pessoas debilitadas sem recursos, o hospital passou a ser procurado por indivíduos com dinheiro, que lá queriam ficar mesmo sem estarem enfermos.
O projeto também foi audacioso por causa da idade que Nicolas tinha quando se aventurou na construção do Hospices: 64 anos. A considerar a expectativa de vida da época, ele era quase um ancião, que foi convencido a se lançar nessa aventura pela mulher –que foi sua terceira esposa--, 29 anos mais jovem do que ele.
Hoje o prédio original é um museu, que reproduz o funcionamento do hospital na época, com os leitos, manequins com as vestes das irmãs-enfermeiras, a farmácia onde eram feitos os remédios e muitos outros detalhes. A entrada custa quase oito euros (R$ 29,50).
A fundação hospitalar segue como referência importante na área de saúde para a cidade, só que atendendo em uma instalação mais moderna, em outro local.
Tudo passa pelo vinho
A história do Hospices se entrelaça com a vocação principal de Beaune: o vinho. A cidade faz parte da Rota dos Grands Crus, sucessão de vinhedos de onde saem os vinhos mais famosos da região da Borgonha (hoje Borgonha Franche-Comté).
Em 1457, o hospital recebeu uma doação vinhas, o que deu início a tradição que persiste até hoje: a produção de vinhos com seu nome, que são leiloados para arrecadar fundos para sua manutenção. Atualmente, a famosa casa de leilões Christie’s é a responsável por conduzir os leilões.
O hospital possui 60 hectares de vinhedos, e 85% dos vinhos produzidos são “premiers crus” e “grands crus”, o que significa que estão no pelotão de elite dos feitos na região.
Boa mesa
Beaune fica a 40 km de Dijon (cidade que pode ser acessada a partir de Paris pelo trem de grande velocidade TGV), a capital da região da Borgonha Franche-Comté. Apesar de pequena –tem pouco mais de 20 mil habitantes--, o fato de ser local de produção dos vinhos mais importantes da área coloca-a na rota dos amantes da bebida. Há, inclusive, um Museu do Vinho.
Ao redor da localidade, ainda há vestígios das muralhas que a protegiam na Idade Média. Outras construções também atestam a antiguidade do lugar, como o hotel cinco estrelas Le Cep, que é, na verdade, uma junção de construções históricas, sendo a mais antiga datada do século 14.
Como para estar completa uma boa mesa precisa de um bom vinho e de uma boa comida, Beaune também abriga um restaurante com uma estrela no prestigioso “Guia Michelin”: o Loiseau des Vignes, um dos estabelecimentos do grupo que leva o nome do famoso chef Bernard Loiseau (1951-2003), que inspirou a animação “Ratatouille”.
Na casa, há um sistema de armazenamento de garrafas abertas de vinho que permite a venda de taças dos mais prestigiosos rótulos da região. Por isso se não dá para levar para casa uma garrafa de um vinho “grand cru” talvez dê para imprimir na lembrança o gosto de uma taça da bebida.
A jornalista viajou a convite da Atout France e da Air France.
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