O restaurante abandonado na floresta de Lisboa que virou ponto turístico
No coração de Lisboa, capital de Portugal, há o parque florestal Monsanto, três vezes maior do que o Central Park, de Nova York, nos EUA.
E a 205 metros de altitude, no Alto da Serafina, há um tesouro que ficou mais de 15 anos esquecido: o antigo restaurante Panorâmico de Monsanto.
O edifício recebia, há 50 anos, a nata da elite portuguesa, mas passou anos completamente abandonado até que sua história — e paredes — foram coloridas por intervenções artísticas e, por fim, se tornou point de quem gosta de arte urbana.
Sem falar de ter uma vista 360 graus do horizonte lisboeta.
A ideia de ter um restaurante de luxo no meio da floresta nasceu junto com o projeto do parque Monsanto, ainda nos anos 1930, do arquiteto Keil do Amaral.
O edifício de sete mil metros quadrados só foi construído, no entanto, em 1967, sob o comando do arquiteto Chaves da Costa.
O local, aberto ao público em 1968, já contava com obras de arte como murais de Luís Dourdill e painel de azulejos de Manuela Madureira -alguns deles ainda podem ser vistos pelos frequentadores.
O Panorâmico foi concebido com cinco pisos para que pudesse receber grandes eventos, como banquetes e festas do governo. De acordo com documentos do Arquivo Municipal de Lisboa, foi ali que França Borges se despediu do cargo de presidente da Câmara Municipal da cidade em 1970, por exemplo.
Além de recepções e jantares para figuras importantes como o cantor David Bowie.
Uma jornada instável
Porém, problemas estruturais na área da cozinha nunca permitiram que o lugar ficasse o tempo todo aberto ao público. Ele funcionou como restaurante apenas de 1984 até 1985, porém teve pouca clientela por conta da distância do centro de Lisboa.
Depois dos tempos áureos, o local foi uma casa noturna, um bingo, um edifício de escritórios e um armazém de materiais de construção.
Mas, em 2001, fechou definitivamente e ficou completamente abandonado. Ficou cheio de entulho, os vitrais foram quebrados e tinha pouca segurança. Era frequentado apenas por curiosos e fãs de ruínas urbanas.
A história do Panorâmico ganhou um novo capítulo em 2017, quando a Câmara de Lisboa revitalizou o local e o transformou em um mirante. Colocou barras de segurança e policiamento.
Do local, os visitantes conseguem ver o Aqueduto de Águas Livres, uma estrutura do século 18 que fazia parte da distribuição de água em Lisboa; a Ponte 25 de Abril, que liga a cidade à margem sul do rio Tejo; além de cidades vizinhas como Alcochete e Trafaria.
O encontro com a arte
O edifício também foi preparado para receber eventos, principalmente de música e arte urbana. Até que, em 2020, quando Lisboa fez sua primeira reabertura durante a pandemia de covid-19, o Panorâmico foi o palco e suporte do Festival Iminente, que levou para o Panorâmico algumas das intervenções artísticas mais conhecidas e fotografadas do local.
A arte que deve chamar mais atenção dos brasileiros é um painel esculpido na parede com o rosto da ativista e vereadora do Rio de Janeiro (RJ) Marielle Franco, morta em 2018.
A arte foi feita pelo português Vhils, como parte do projeto "Brave Walls" (murais corajosos, em tradução literal do inglês), da organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional.
Um dos pontos mais fotografados é o janelão de vidro "Equality", assinado por Akacorleone. A arte, que emula um vitral, colore a escadaria central do Panorâmico e, de acordo com o artista, procura criar "um diálogo entre a monumentalidade e a decadência características" do edifício.
Outra obra muito registrada é a cama de cimento de Wasted Rita. Em uma das varandas do Panorâmico, a escultura convida as pessoas a deitarem ou sentarem enquanto veem a vista do mirante. Fala, ainda, sobre a pandemia, ou como diz a artista, o início do fim do mundo em 2020:
Bela adormecida, mas acordada, não bela. Usando calças de moletom por dois meses, não esperando o beijo de um príncipe, mas evitando chamadas de vídeo. Comendo comida vegana, lendo Samantha Irby, assistindo 'Survivor' e tentando lidar com toda a tragédia que está ocorrendo no mundo.
Do lado de fora, há um carro que parece estar abandonado à porta do antigo restaurante. É, na realidade, a obra "Until You and I die and die and die again?", de Tamara Alves. A artista é mais conhecida por suas obras em papel e parede, mas criou um veículo em fibra de vidro para representar "um universo que evoca e invoca a visceralidade primordial".
Originalmente, a intervenção continha plantas e uma estátua de um lobo e hoje conversa com os grafites que outros artistas fizeram por cima da estrutura.
O panorâmico tem entrada gratuita e funciona, do dia 21 de março a 20 de setembro, das 9h às 20h, e do dia 21 de setembro a 20 de março, das 9h às 18h.
Para chegar lá, você pode pegar um ônibus que te deixará próximo ao pé do Alto de Serafina. Dali, você pode escolher fazer uma caminhada de 20 minutos pelo parque ou pegar um táxi.
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