Inspiração, noiva e na 1ª fila: Brasil 'invade' Semana de Alta-Costura

É comum a pergunta: o que a moda em Paris tem a ver comigo? A resposta pode ir mais além do que a explicação já dada por Miranda na cena icônica sobre os cintos azuis no filme "O Diabo Veste Prada".

Nessa temporada, o Brasil invadiu a passarela de diversas formas: desde atriz desfilando vestida de noiva à cultura e arquitetura tupiniquim como inspiração para coleção.

Oscar Niemeyer, mosaicos amazônicos e até o manto de Nossa Senhora foram referências fundamentais para a criação das peças do estilista francês Stéphane Rolland, apresentadas na última terça-feira (24), em Paris.

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Esta coleção é dedicada ao Brasil. Fazia tempo que queria realizar um desfile sobre o Brasil", confirmou à agência AFP.

"Valha-me Nossa Senhora", diria Chicó de Suassuana se estivesse na primeira fila do desfile e visse o longo vestido de noiva dourado, o último a ser apresentado. Seria como estar, novamente, diante do altar como em "O Auto da Compadecida". Afinal, a lembrança do longo manto que encobre Nossa Senhora é imediata. Não apenas pelo design da peça, mas ainda pela trilha sonora que entoou o poema "Prece", de Fernando Pessoa, recitado por Maria Bethânia.

Mas, para além da inspiração sacra barroca que permeou a família final do desfile com mantos, véus e muito dourado, as linhas e formas da arquitetura de Oscar Niemeyer também se traduziram em vestidos estruturados.

Um momento oportuno, inclusive, para relembrar a beleza e a importância histórica de espaços como o Palácio da Alvorada, inspiração para o tubinho branco da passarela. Preservar e enaltecer.

Ainda teve a Amazônia feita vestido com símbolos em 3D, as pedras brasileiras como adornos, as curvas do calçadão de Copacabana dando fluidez aos tecidos e até os grafismos da arte marajoara em forma de estampa.

Na trilha, bossa e MPB com João Gilberto, Caetano Veloso, Tom Jobim e Maria Bethânia entoaram os passos das modelos. A ancestralidade indígena, a arquitetura, a música, o sagrado e as culturas brasileiras reconhecidas como fonte inquestionável de inspiração e admiração. Lembremos sempre disso.

Uma nova mulher, uma noiva e o funk

Quem tem chamado todos os flashs também é a comediante GKay. Sim, já falamos sobre a relação da atriz com a alta-costura, em suas aparições mais recentes utilizando peças de grandes marcas internacionais.

A atriz segue na sua missão fashion e, após um período reclusa cuidando da própria imagem, ressurge como convidada especial dos desfiles de Schiaparelli e Stéphane Rolland — vestindo looks exclusivos das duas marcas.

E tem mais Brasil! Marina Ruy Barbosa foi destaque do desfile de Giambattista Valli ao cruzar a passarela com o look mais emblemático das apresentações do designer francês: o vestido de noiva que encerra o desfile.

A pantalona e o bolero com aplicações em pedrarias fizeram de Marina uma noiva moderna e deslumbrante. A atriz foi a primeira brasileira a participar de uma apresentação de haute couture da grife.

Além de GKay na 1ª fila e Marina na passarela, vale lembrar que ainda houve mais presença brasileira nas temporadas masculinas, como o funk de DJ Gabriel do Borel no desfile da Louis Vuitton, em Paris.

A música "Sento no Bico da Glock", parceria com MC Lucy e MC Rogê, fez parte da trilha da apresentação que contou com curadoria musical e show ao vivo de Rosalía.

Pataxó na passarela

A invasão brasileira já havia dado as caras desde Milão, na semana passada. O modelo de descendência Pataxó Noah Alef, de 22 anos, fez parte do casting das grifes Dsquared2 e Emporio Armani.

Natural de Jequié, no interior da Bahia, Noah trabalhava como ajudante de pintor e empacotador. Hoje, carrega sua ancestralidade pelas passarelas internacionais.