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Conexão no Panamá: por que vale a pena sair do aeroporto e curtir a cidade

Prédios coloniais de Casco Viejo, uma das partes turísticas da Cidade do Panamá - Matthew Micah Wright/Getty Images
Prédios coloniais de Casco Viejo, uma das partes turísticas da Cidade do Panamá
Imagem: Matthew Micah Wright/Getty Images

De Nossa

24/10/2022 04h00

Quando o avião aterrissa na Cidade do Panamá, os passageiros logo cruzam o terminal em busca da conexão. É gente da América do Sul querendo ir para a Central e a do Norte (e vice-versa) o mais rápido possível.

Ainda são poucas as pessoas que colocam o país como destino final ou que decidem alongar a parada. Mas para quem pensa "o que é que eu vou fazer lá", assim como eu pensei um dia, vai o aviso: o país oferece aos turistas uma atrativa mistura de natureza, agito e história.

E é pela diversidade de atividades que vale aproveitar o programa de stopover da companhia aérea panamenha que opera no hub, a Copa, para ir além do corrido bate e volta do Aeroporto Internacional Tocumen e organizar uma viagem estilo "dois em um" de até sete dias sem custos adicionais.

Em uma semana, dá para explorar as atividades de aventura nos parques nacionais, os passeios pelas prestigiadas fazendas de café de Chiriqui e o mar do Caribe, em destinos como Bocas del Toro e San Blas (Kuna).

San Blas: conjunto de ilhas no Caribe - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
San Blas: conjunto de ilhas
Imagem: Gabrielli Menezes
Costa leste do país é voltada para o Mar do Caribe - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Costa leste do país é no Mar do Caribe
Imagem: Gabrielli Menezes

Mas se o plano é ser breve, foque na Cidade do Panamá. Reserve dois dias para provar um pouquinho da vida calorosa que acontece entre o horizonte de prédios altos espelhados estilo Miami e os cortiços que escancaram a desigualdade latino-americana.

Veja, abaixo, a minha sugestão de roteiro com passeios e comidinhas:

Dia 1

8H. CANAL DO PANAMÁ

Os portões que se abrem após o nivelamento da água - Kathy Tuite/Getty Images/EyeEm - Kathy Tuite/Getty Images/EyeEm
Os portões que se abrem após o nivelamento da água
Imagem: Kathy Tuite/Getty Images/EyeEm

Tem que acordar cedo para chegar à ponta oeste da cidade a tempo de ver o navio passar. Às 8 horas da manhã, todos os turistas sobem ao terraço de Miraflores, única comporta onde a entrada de visitantes é permitida, para assistir ao que é considerado uma das maravilhas mundiais da engenharia.

Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Turistas assistem navio do centro Miraflores
Imagem: Gabrielli Menezes

O sistema que facilita a passagem do oceano Atlântico ao Pacífico e é rota de 6% do comércio mundial conta com um lago artificial e diversas eclusas para levantar as embarcações acima do nível do mar e conduzi-las pelo canal.

Enquanto a "mágica" acontece, explicações sobre o projeto são dadas em espanhol e inglês por uma guia turística do espaço.

Depois de responder aos simpáticos tchauzinhos dos tripulantes do navio, é hora de explorar a pequena exposição sobre a construção, que começou a cargo dos franceses em 1880 e só foi inaugurada oficialmente em 1914 por estadunidenses.

Ingresso: US$ 10
Endereço: XCW5+WF2

12H. CANTINA DEL TIGRE

Cantina Del Tigre - Cidade do Panamá - Divulgação - Divulgação
Ceviches e outras comidas que incorporam cultura panamenha
Imagem: Divulgação

Instalado nos fundos de um imóvel, esse novo estabelecimento de clima despojado e comida boa fica a menos de meia hora de Uber de Miraflores (Canal do Panamá).

As mesas ocupam uma antiga garagem e estão espalhadas pelo quintal de pedrinhas no chão e teto retrátil.

A culinária panamenha, que mescla influências da Espanha e dos Estados Unidos às origens caribenhas, aparece em forma pratos como croqueta de polvo, ceviche, arroz de coco, porco frito e peixe na brasa.

Preço: entradas e pratos de US$ 5 a US$ 32
Endereço: Plaza Centenario, C. 68 Este

14H. MUSEO DEL CANAL

Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Prédio histórico reúne memória do Panamá
Imagem: Gabrielli Menezes

De barriga cheia fica fácil percorrer 7 quilômetros de carro para desembarcar no museu e entender como a memória do país está conectada ao canal visitado pela manhã.

Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Parte das instalações carregam tom crítico
Imagem: Gabrielli Menezes

Os dois andares do prédio histórico reúnem objetos, documentos e informações desde o período pré-hispânico, passando pela independência da Colômbia em 1903 e pelo financiamento dos Estados Unidos a movimentos separatistas em razão do interesse na rota marítima.

O impacto social, econômico e cultural dos 34 anos entre o início e a finalização das obras são apresentados em detalhes como a quantidade e a nacionalidade de imigrantes que chegaram para ser mão de obra no projeto.

Para alinhar as expectativas: a exposição em inglês e espanhol é interessante, mas também densa. Não conta com interatividade.

Ingresso: US$ 15
Endereço: Plaza de la Independencia, C. 5ª Este

16H. SISU COFFEE STUDIO

Sisu Coffee Studio - Divulgação - Divulgação
Sisu pertence à família premiada por grãos de café
Imagem: Divulgação
Sisu Coffee Studio - Divulgação - Divulgação
Cafeteria tem estilo manimalista
Imagem: Divulgação

Bastam cinco minutinhos a pé para a melhor xícara de café da sua vida. Isso porque a charmosa cafeteria é comandada pela família Lamastus, uma das responsáveis por colocar os grãos cultivados no Panamá entre os mais desejados — e valorizados — do mundo.

Os empreendedores são donos de três fazendas que, embora estejam localizadas nas terras altas do país e em solos vulcânicos, possuem terroir distintos. Ou seja, por combinarem fatores únicos relacionados à geografia e ao clima, dão origem a bebidas de sabores particulares.

No ano passado, o leilão de 1 libra (menos de meio quilo) do grão verde da variedade geisha foi comercializado a 4,1 mil dólares. Felizmente, para provar o café in loco paga-se (apenas?) US$ 10.

Claro e delicado, o líquido lembra chá pelo sabor altamente floral. Docinhos, como cookie e canelé (bolinho francês típico de Bordeaux aromatizado por baunilha e rum), vão bem para acompanhar.

Preço: US$ 10 o geisha
Endereço: Calle 9na Y, Av. B

16H30. CASCO VIEJO

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Casco Viejo: ruínas do século XVII
Imagem: Gabrielli Menezes

Tanto o Museo Del Canal quanto o Sisu estão em Casco Viejo, San Felipe ou Casco Antiquo. Todos os nomes batizam a região de ruelas estreitas e charmosas.

O cenário é fruto da reconstrução que ocorreu nesta área peninsular cercada por muralhas em 1672, um ano depois de um ataque pirata.

A ideia, aqui, é andar sem destino e "se perder" entre as ruínas e os espaços restaurados a partir de 1997, quando o bairro foi considerado Patrimônio Mundial da Humanidade.

Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Imagem: Gabrielli Menezes
Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Imagem: Gabrielli Menezes
Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Imagem: Gabrielli Menezes
Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Imagem: Gabrielli Menezes
Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Imagem: Gabrielli Menezes
Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Imagem: Gabrielli Menezes

Além de ver lojas e barraquinhas de artesanato, vale passar em frente ou entrar na Catedral Metropolitana, no Teatro Nacional do Panamá, no Palacio de las Garzas e no que resta do Convento de São Domingos após dois incêndios.

Ah! Certifique-se de que a bateria do celular está boa — é certeza que ficará louco para fotografar cada achadinho arquitetônico ou cultural.

19H. TACOS LA NETA E ROOFTOP DO SELINA

Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Taco de peixe: vale a visita
Imagem: Gabrielli Menezes

Os rooftops estão em alta no Panamá. Um desses hotspots é o Selina, hostel descoladinho com unidades pelo mundo que recebe no bar do terraço quem não está hospedado.

Espaçoso e colorido, o lugar tem decoração com temática tropical e vista para o horizonte. A noite fica mais animada aos fins de semana, quando rola música ao vivo ou DJ.

Nos outros dias, a atração é o Taco La Neta, estabelecimento do chef Mario Castrellón, que também comanda o Maito, restaurante de alta gastronomia entre os 50 melhores da América Latina.

Selina Hostel - Divulgação - Divulgação
Rooftop do Selina é aberto para não-hóspedes
Imagem: Divulgação

A taqueria que nasceu como foodtruck oferece clássicos mexicanos combinados a ingredientes panamenhos a preços atrativos. O taco de peixe empanado crocante é imperdível!

Preço: US$ 10,50 (quatro tacos)
Endereço: Plaza de la Independencia, C. 5ª Este

Dia 2

10H. KRUME

Krume Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Padaria fica em centro comercial
Imagem: Gabrielli Menezes
Krume Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Tostada de pera
Imagem: Gabrielli Menezes

Os pães que fermentam por 24 horas sem adição de químicos saem do forno quentinhos todas as manhãs para a vitrine desta padaria que fica escondida num centro comercial qualquer.

As receitas de alta qualidade da austríaca Natalie Salzmann, como a fatia do azedinho sourdough servida com queijo feta e pera assada no mel, funcionam como um apetitoso "bom dia".

Antes de seguir o roteiro, peça para levar o kipferl, pão doce em formato de meia-lua que, segundo a dona, é o antecessor austríaco do croissant francês.

Preço: tostadas de US$ 8 a US$ 14.50
Endereço: Plaza Corner 68, San Francisco

12H. CALZADA DE AMADOR

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Região oferece aluguel de bicicletas para família
Imagem: Gabrielli Menezes

Uma larga ponte de quase 6 quilômetros aterrada sobre o mar para conectar quatro ilhas. Essa é a Calzada de Amador.

Arquitetada em 1913 com os resíduos das escavações do Canal do Panamá, foi reduto militar dos Estados Unidos para proteger a entrada da hidrovia durante anos.

Ao longo da história, porém, seu uso foi ressignificado. Recentemente, tornou-se um ponto de encontro de moradores e atrativo turístico.

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Restaurantes com vista
Imagem: Gabrielli Menezes

Bunkers foram transformados em lojas e restaurantes e obras delimitaram uma área para crianças e outra de ciclovia, onde é agradável fazer exercício ou passear com a vista da orla da cidade e do mar, repleto de lanchas, barcos e navios.

14H. BIOMUSEU

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Biomuseo: projeto arquitetônico de canadense
Imagem: Gabrielli Menezes

No início da Calzada de Amador chama a atenção uma estrutura cheia de telhados coloridos. Trata-se do Biomuseo, primeiro prédio na América Latina projetado pelo arquiteto canadense Frank Gehry, famoso por obras como o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles (EUA).

A atração conta a história do Panamá pelo ponto de vista geográfico. A estreita porção de terra que abriga o país é chamada de istmo, foi formada no período Piloceno e mudou muita coisa no mundo.

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Parque ao redor do museu
Imagem: Gabrielli Menezes
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Atrás há vista para o mar
Imagem: Gabrielli Menezes

Conectou a América e suas biodiversidades, promovendo um "intercâmbio" de espécies de plantas e animais, e separou os Oceanos Atlântico e Pacífico, esfriando o primeiro e contribuindo para o aumento das calotas polares, o que diminuiu o nível dos oceanos.

O museu opera de sexta a domingo, mas eu indico a visita em qualquer dia. Além da estrutura impressionar pelo lado de fora, fica em meio a um parque, de onde se vê a Ponte das Américas.

Ingresso: US$ 18
Endereço: Calzada de Amador, 136

17H. FONDA LO QUE HAY

Fonda Lo Que Hay - Cidade do Panamá - Divulgação - Divulgação
Mandioca crocante com carpaccio de atum
Imagem: Divulgação

As fondas, restaurantes baratinhos de beira de estrada, serviram de inspiração para o chef José Olmedo Carles Rojas.

Os pratos tradicionais são reinventados à sua moda e preparados com excelência. Não à toa o estabelecimento apareceu na publicação 50 Best Discovery, que aponta locais novos com potencial gastronômico e bacanas de conhecer.

Comece o seu "almoço jantarado" com o concolón, petisco feito do arroz que queima no fundinho da panela servido com molho agridoce, e passe para a mandioca crocante sob camada fina e temperada de atum.

Também invista sem arrependimentos no pescado do dia ao molho curry de vegetais ao lado de patacones, os famosos discos de banana-da-terra amassados e fritos.

Em tempo: o ambiente que mistura metal e neon traz a sensação de despretensioso, mas não se engane. Se converter os valores para real, sentirá o peso na carteira.

Preço: entradas e pratos de US$ 4 a US$ 35
Endereço: Edificio el Colegio (Calle Jose de Obaldia), Casco Viejo

19H. LA RANA DORADA

Cidade do Panamá - Gabrielli Menezes - Gabrielli Menezes
Um brinde à viagem
Imagem: Gabrielli Menezes

O brinde de cerveja artesanal é a minha dica para finalizar a viagem. A fábrica, que ocupa uma esquina do Casco Viejo a dois minutinhos a pé do Fonda Lo Que Hay, é comandada por Brad Kraus.

Consultor há 25 anos, foi jurado de competições internacionais e conquistou uma série de prêmios, alguns à frente da La Rana Dorada.

A variedade de rótulos é grande. Há latinhas, sempre estampadas com o simpático sapinho dourado do Panamá, e chope tirado na hora, em estilos clássicos como IPA, Pilsen, Pale Ale e Porter.

Para experiência ser perfeita só faltou um brasileiro no time para dizer que cerveja no calor tropical deve ser beeeeem gelada!

Preço: US$ 4 (250 mililitros)
Endereço: Calle 9 con Calle Boquete, Casco Viejo

Informações extras!

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Calzada de Amador
Imagem: Gabrielli Menezes
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Casco Viejo
Imagem: Gabrielli Menezes

Clima: a Cidade do Panamá é quente até no inverno. Por isso, mais do que a temperatura, o que rege as estações é a chuva. De abril a dezembro, a cidade é úmida. Fui em agosto e me senti numa pequena estufa.

Saúde: o Panamá exige comprovação de vacina de febre amarela. Todas as restrições e requisitos relacionados à covid-19 foram suspensos em setembro de 2022.

Transporte: embora tenha ônibus e metrô, o jeito de se locomover com mais conforto e rapidez é de uber — as corridas raramente ultrapassam os 5 dólares. O trânsito, porém, é um obstáculo. Evite circular no horário de pico, que é lá pelas 18h.

Segurança: vi muito policiamento em todas as áreas turísticas da cidade. Como paulistana atenta, tomei cuidado, mas não me senti em perigo. Também conversei com alguns motoristas e funcionários de atrações que afirmaram que eu não precisaria preocupar com isso.