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Monges dividem espaço com cobras enormes em templos budistas da Ásia

Devotos no templo de Hmwe Paya, em Mandalay, Mianmar - Getty Images
Devotos no templo de Hmwe Paya, em Mandalay, Mianmar Imagem: Getty Images

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

09/08/2022 04h00

Vista como ameaçadora por grande parte do mundo, a cobra é um animal que tem relação com uma história positiva dentro do budismo.

Segundo a lenda, um ser com forma de serpente protegeu Buda de uma chuva torrencial enquanto ele meditava embaixo de uma árvore.

Quando começou a cair água do céu, a entidade serpentina teria aparecido junto ao tronco e aberto seu "capuz" sobre a cabeça de Buda, como um verdadeiro abrigo.

Em consonância com essa história, há, nos dias de hoje, templos budistas em Mianmar que abrigam cobras de verdade, venerando os animais como seres que podem trazer proteção para os fiéis.

Um desses templos se chama Yadana Labamuni Hsu-Taung Pye Paya, fica na região da cidade histórica de Mandalay e, em seu interior, vivem cobras enormes que são tratadas sem medo e com muito carinho pelos frequentadores.

Cobras em templo de Paleik, Mandalay, Mianmar - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Cobras em templo de Paleik, Mandalay, Mianmar
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Periodicamente, as pessoas se reúnem no Yadana Labamuni Hsu-Taung Pye Paya para dar banho nos bichos (em rituais realizados em tanques de água onde são jogadas pétalas de flores) e alimentá-los com carne de cabra.

Há também fiéis que fazem pedidos para as serpentes, colocando notas de dinheiro ao redor delas para que seus desejos sejam atendidos.

E os pais não têm medo de deixar suas crianças pequenas ao lado das cobras: mesmo com seu enorme tamanho, elas não representam grande ameaça para os seres humanos, pois são pouco agressivas e não venenosas.

Possíveis reencarnações

Mas como surgiu essa adoração às cobras no Yadana Labamuni Hsu-Taung Pye Paya?

Além da tradicional imagem positiva que serpentes têm no budismo, há uma segunda história que ajudou a estabelecer essa veneração.

Em um dia qualquer dos anos 1970, um monge se deparou com duas enormes cobras enroladas junto a uma estátua de Buda dentro de um antigo templo que existia nessa mesma área de Mianmar.

Templo de Bago, em Mianmar, foi fundado em 1974, quando um monge budista encontrou duas enormes cobras ao redor da estátua de Buda - Getty Images - Getty Images
Templo de Bago, em Mianmar, foi fundado em 1974, quando um monge budista encontrou duas enormes cobras ao redor da estátua de Buda
Imagem: Getty Images

O homem pegou os animais com todo o cuidado e os levou para uma zona de mata nos arredores.

Porém, diz que a história que, no dia seguinte, as cobras voltaram para o templo. Novamente, o monge as carregou para fora. Mas os bichos continuavam retornando para perto das estátuas budistas.

Os fiéis, então, começaram a considerar as serpentes como possíveis reencarnações de monges que haviam cuidado do templo em épocas passadas.

Um novo templo, então, foi erguido nessa mesma área - e acabou virando um centro budista onde as cobras são reverenciadas.

Templo perto de Yangon

O Yadana Labamuni Hsu-Taung Pye Paya, porém, não é o único templo de Mianmar onde cobras são veneradas.

Perto de Yangon, a principal cidade do país, existe um centro budista conhecido como Baungdawgyoke, localizado no meio de um lago.

Em todos os cantos do templo é possível identificar diversas serpentes que chegam a ter 3 metros de comprimento.

Cobras circulam livremente no templo Baungdawgyoke - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Cobras circulam livremente no templo Baungdawgyoke
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Os bichos aparecem enrolados atrás das estátuas, pendurados na estrutura das janelas, imóveis junto aos cantos e rastejando lentamente pelo chão.

Os monges não se abalam. Pelo contrário: não é raro vê-los fazendo carinho nos animais (aqui, eles também são vistos como seres que podem trazer proteção e sorte).

Os fiéis chegam ao local, fazem pedidos e jogam pequenas quantias de dinheiro perto ou em cima das serpentes, na esperança de que seus anseios sejam atendidos.

Os desejos podem envolver diversas áreas da vida, como amor, finanças e saúde. Mas há uma regra que deve ser seguida: as pessoas só podem realizar um pedido a cada visita, para evitar a ganância.

Há registro da presença de pelo menos 30 serpentes dentro do Baungdawgyoke, trazidas principalmente por fiéis, que as encontraram nas redondezas desta região do país asiático.

E ainda existem mais centros budistas em Mianmar nos quais serpentes são adoradas.

Um deles é um templo da cidade de Bago conhecido internacionalmente como "snake pagoda" — e onde, segundo os fiéis, vive uma cobra com mais de 120 anos que seria a reencarnação de uma princesa que viveu na região.

Templo de cobras, em Bago, Mianmar - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Templo de cobras, em Bago, Mianmar
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Pela Ásia

Monges e devotos brincam com cobras na Tailândia - Thierry Falise/LightRocket via Getty Images - Thierry Falise/LightRocket via Getty Images
Monges e devotos brincam com cobras na Tailândia
Imagem: Thierry Falise/LightRocket via Getty Images

Lugares onde cobras são veneradas não estão restritos a Mianmar — e podem ser encontrados em outros países da Ásia.

Em Penang, na Malásia, por exemplo, há um templo budista (conhecido no mundo do turismo como "snake temple") que abriga cobras vivas em seu interior e em seu jardim — o que atrai muitos visitantes estrangeiros.

Templo de cobras na Malásia - Getty Images - Getty Images
Templo de cobras na Malásia
Imagem: Getty Images

As cobras são venenosas, mas, segundo uma das histórias contadas no templo, têm uma atitude dócil por causa da fumaça de incenso espalhada no local.

E, na Índia, há templos e festivais que veneram diversas figuras relacionadas às serpentes que fazem parte da mitologia do hinduísmo.

Um desses centros de culto é o templo de Nag Devta, situado na localidade de Mussoorie e que é frequentado por peregrinos devotos de Shiva.

Aqui, os fiéis veneram a imagem da cobra que Shiva carrega em seu pescoço.