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Brasileiros em Berlim conquistam alemães com queijo Minas e pão de queijo

Pão de queijo da Nena, marca da brasileira Fernanda Nomoto em Berlim - Divulgação
Pão de queijo da Nena, marca da brasileira Fernanda Nomoto em Berlim
Imagem: Divulgação

Rodrigo Silva

Colaboração para Nossa, de Berlim (Alemanha)

08/08/2022 04h00

Uma cidade para todas as pessoas. Esta é sem dúvida uma boa definição para a cosmopolita Berlim. Em um rápido passeio pela capital da Alemanha, é possível ouvir as mais variadas línguas. Às vezes, escuta-se até alemão! Já o nosso bom e velho português é muito marcante, como em qualquer outra parte do mundo.

A gastronomia acompanha essa efervescência cultural e proporciona a moradores e visitantes de tudo um pouco. Os brasileiros que vivem em Berlim e têm saudades de casa podem encontrar, através de aromas e sabores, uma maneira de suavizar as nostálgicas lembranças. Tudo feito de maneira artesanal e com muitas referências.

Caio Rossiter, de 34 anos, nasceu em Mossoró, interior do Rio Grande do Norte, e ainda na adolescência se mudou com a mãe para São Paulo. Lá descobriu o gosto pela gastronomia. Em 2015, foi fazer um intercâmbio na Irlanda e acabou ficando por lá. E como ele mesmo diz, foi na cozinha de um restaurante em Dublin "que o bicho pegou".

Com a correria diária do estabelecimento, especializado na culinária espanhola, veio o ofício de cozinheiro. Em Dublin, ele conheceu e se casou com o irlandês Damien. Desde 2019, o casal vive em Berlim, onde o Caio trabalha atualmente como motorista.

Queijo Minas e pão de queijo tipo exportação

Caio Rossiter e seu queijo Minas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Caio Rossiter e seu queijo Minas
Imagem: Arquivo pessoal

Há cerca de dois meses voltou a fazer o que mais gosta: cozinhar. Decidiu vender queijo Minas — e foi quase que por acaso.

Na despedida da Michele, amiga mineira que estava voltando para o Brasil, Caio ganhou de presente uma sugestão e uma receita.

Ela me perguntou por que eu não fazia o queijo Minas para vender. Fiz uns testes e deu certo. Uma receita de família mineira passada para um nordestino. Se algum dia as coisas prosperarem mais, a família dela pode até me cobrar os royalties (risos)", conta Caio.

Caio teve a ideia de criar uma marca baseada na culinária mineira. Para incrementar o negócio, decidiu, também, vender pão de queijo. E agora, com uma receita própria. Assim nasceu a "Uai que trem bom sô".

Segundo ele, durante a preparação dos produtos, fica impossível não se lembrar das origens. O que virou inspiração para uma nova receita, ainda em fase de testes.

Caio Rossiter e seus pães de queijo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Caio Rossiter e seus pães de queijo
Imagem: Arquivo pessoal

"Traz a referência do Nordeste, lá do sítio, aquele queijo caseiro. Tiro bastante soro desse queijo Minas que eu faço e transformo em uma espécie de queijo coalho. Fica muito gostoso. Lembro da minha casa lá no sertão", recorda Caio.

Sucesso internacional

A guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe para a Alemanha alguns problemas econômicos. No primeiro lugar da lista de reclamações, a alta dos preços no setor alimentício. O leite que o Caio usa para fazer o queijo, em dois meses subiu de euro 1,10 euro para 1,39 euro, o litro. Um aumento de 26%.

Para se ter uma ideia, ele precisa de 3 litros de leite para fazer um queijo de 400 gramas que vende a 11 euros. Por enquanto, o brasileiro garante que o preço do queijo não vai ficar mais salgado.

Caio Rossiter e o preparo de seu queijo Minas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Caio Rossiter e o preparo de seu queijo Minas
Imagem: Arquivo pessoal
A mesa "mineirinha" de Caio Rossiter em Berlim - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A mesa "mineirinha" de Caio Rossiter em Berlim
Imagem: Arquivo pessoal

Entre os principais clientes, muitos mineiros, cariocas, paulistas e gaúchos. Mas segundo o Caio, os estrangeiros que provaram, aprovaram. Caso do espanhol, residente em Berlim, Imobach Martin.

Há muito tempo procurava um queijo assim. Depois que experimentei o queijo do Caio, parei de procurar. É simplesmente espetacular. Eu recomendo muito", diz o espanhol.

E como sonhar ainda não custa nada, o Caio sonha. De um café mineiro na Alemanha, a um quiosque de frente para o mar em Valência, na Espanha. Mas com os pés fincados no chão, ele comemora as primeiras conquistas nas vendas. E com esse dinheiro ele está ajudando na reforma da casa de sua mãe no Brasil.

Delícia brasileira pra alemão ver

Pão de queijo da Nena, marca da brasileira Fernanda Namoto em Berlim - Divulgação - Divulgação
Pão de queijo da Nena, marca da brasileira Fernanda Nomoto em Berlim
Imagem: Divulgação

A paixão pela gastronomia também mudou a trajetória de Fernanda Nomoto. Nascida em São Paulo, capital, ela se mudou para Berlim em 2018. E foi no velho continente que a economista de 32 anos, que sempre trabalhou no mundo corporativo, resolveu dar um novo rumo a sua história.

Desde 2019, com a marca "Nena", ela deixa a vida das pessoas um pouco mais feliz com seus deliciosos pães de queijo. Fernanda, que também trabalha em uma padaria francesa na preparação de caterings, batizou sua marca, em homenagem à avó, Dona Nena, hoje com 95 anos e saúde para dar e vender.

"Ela sempre cozinhou muito e temos uma ligação super forte até hoje. Foram horas e horas da minha infância cozinhando juntas. Ela é minha maior inspiração e é a responsável pela minha paixão pela gastronomia", conta Fernanda.

Pão de queijo da Nena, marca da brasileira Fernanda Namoto em Berlim - Divulgação - Divulgação
Pão de queijo da Nena, marca da brasileira Fernanda Nomoto em Berlim
Imagem: Divulgação

A receita do pão de queijo é da Dona Nena, mas, segundo Fernanda, tem algumas adaptações. A paulistana descobriu que a Alemanha é o segundo país no mundo a consumir produtos orgânicos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, então decidiu criar um produto sem conservantes, glúten, e totalmente vegetariano.

Além é claro da grande procura dos brasileiros, o pão de queijo da Nena, aos poucos, caiu no gosto do exigente público alemão.

Isso é um indicador do quanto a população se preocupa com saúde e qualidade de vida. E apesar do povo alemão gostar de opções mais tradicionais, a aceitação do pão de queijo entre eles é ótima", comemora Fernanda.

Além da venda virtual pelas redes sociais e física em uma loja de produtos latinos, Fernanda frequentemente participa de eventos musicais e feiras de rua. E como o processo é artesanal, tudo feito na cozinha de casa, a produção mensal não passa de 600 pãezinhos.

Pão de queijo da Nena, com doce de leite - Divulgação - Divulgação
Pão de queijo da Nena, com doce de leite
Imagem: Divulgação

A brasileira pensa em expandir a marca para além da Alemanha e até chegou a ouvir algumas propostas de negócio, mas diz ainda não ter encontrado o projeto certo. Enquanto isso, apenas quem mora em Berlim tem esse privilégio.

A memória afetiva com a culinária brasileira é super forte para quem mora fora do país. E isso vem desde o manuseio dos ingredientes, o cheiro quando eles estão no forno e a hora de sentar à mesa e degustar", lembra Fernanda.

Berlim é uma cidade que aprendeu com a história. Derrubou um muro para unir povos, combate diariamente a intolerância em todos os níveis, une mineiros, paulistas, potiguares, alemães, irlandeses, espanhóis e muitos outros povos em torno de uma gastronomia afetiva.

O trem é "bão'' e tem lugar para todo mundo.