Brasileiros em Berlim conquistam alemães com queijo Minas e pão de queijo
Uma cidade para todas as pessoas. Esta é sem dúvida uma boa definição para a cosmopolita Berlim. Em um rápido passeio pela capital da Alemanha, é possível ouvir as mais variadas línguas. Às vezes, escuta-se até alemão! Já o nosso bom e velho português é muito marcante, como em qualquer outra parte do mundo.
A gastronomia acompanha essa efervescência cultural e proporciona a moradores e visitantes de tudo um pouco. Os brasileiros que vivem em Berlim e têm saudades de casa podem encontrar, através de aromas e sabores, uma maneira de suavizar as nostálgicas lembranças. Tudo feito de maneira artesanal e com muitas referências.
Caio Rossiter, de 34 anos, nasceu em Mossoró, interior do Rio Grande do Norte, e ainda na adolescência se mudou com a mãe para São Paulo. Lá descobriu o gosto pela gastronomia. Em 2015, foi fazer um intercâmbio na Irlanda e acabou ficando por lá. E como ele mesmo diz, foi na cozinha de um restaurante em Dublin "que o bicho pegou".
Com a correria diária do estabelecimento, especializado na culinária espanhola, veio o ofício de cozinheiro. Em Dublin, ele conheceu e se casou com o irlandês Damien. Desde 2019, o casal vive em Berlim, onde o Caio trabalha atualmente como motorista.
Queijo Minas e pão de queijo tipo exportação
Há cerca de dois meses voltou a fazer o que mais gosta: cozinhar. Decidiu vender queijo Minas — e foi quase que por acaso.
Na despedida da Michele, amiga mineira que estava voltando para o Brasil, Caio ganhou de presente uma sugestão e uma receita.
Ela me perguntou por que eu não fazia o queijo Minas para vender. Fiz uns testes e deu certo. Uma receita de família mineira passada para um nordestino. Se algum dia as coisas prosperarem mais, a família dela pode até me cobrar os royalties (risos)", conta Caio.
Caio teve a ideia de criar uma marca baseada na culinária mineira. Para incrementar o negócio, decidiu, também, vender pão de queijo. E agora, com uma receita própria. Assim nasceu a "Uai que trem bom sô".
Segundo ele, durante a preparação dos produtos, fica impossível não se lembrar das origens. O que virou inspiração para uma nova receita, ainda em fase de testes.
"Traz a referência do Nordeste, lá do sítio, aquele queijo caseiro. Tiro bastante soro desse queijo Minas que eu faço e transformo em uma espécie de queijo coalho. Fica muito gostoso. Lembro da minha casa lá no sertão", recorda Caio.
Sucesso internacional
A guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe para a Alemanha alguns problemas econômicos. No primeiro lugar da lista de reclamações, a alta dos preços no setor alimentício. O leite que o Caio usa para fazer o queijo, em dois meses subiu de euro 1,10 euro para 1,39 euro, o litro. Um aumento de 26%.
Para se ter uma ideia, ele precisa de 3 litros de leite para fazer um queijo de 400 gramas que vende a 11 euros. Por enquanto, o brasileiro garante que o preço do queijo não vai ficar mais salgado.
Entre os principais clientes, muitos mineiros, cariocas, paulistas e gaúchos. Mas segundo o Caio, os estrangeiros que provaram, aprovaram. Caso do espanhol, residente em Berlim, Imobach Martin.
Há muito tempo procurava um queijo assim. Depois que experimentei o queijo do Caio, parei de procurar. É simplesmente espetacular. Eu recomendo muito", diz o espanhol.
E como sonhar ainda não custa nada, o Caio sonha. De um café mineiro na Alemanha, a um quiosque de frente para o mar em Valência, na Espanha. Mas com os pés fincados no chão, ele comemora as primeiras conquistas nas vendas. E com esse dinheiro ele está ajudando na reforma da casa de sua mãe no Brasil.
Delícia brasileira pra alemão ver
A paixão pela gastronomia também mudou a trajetória de Fernanda Nomoto. Nascida em São Paulo, capital, ela se mudou para Berlim em 2018. E foi no velho continente que a economista de 32 anos, que sempre trabalhou no mundo corporativo, resolveu dar um novo rumo a sua história.
Desde 2019, com a marca "Nena", ela deixa a vida das pessoas um pouco mais feliz com seus deliciosos pães de queijo. Fernanda, que também trabalha em uma padaria francesa na preparação de caterings, batizou sua marca, em homenagem à avó, Dona Nena, hoje com 95 anos e saúde para dar e vender.
"Ela sempre cozinhou muito e temos uma ligação super forte até hoje. Foram horas e horas da minha infância cozinhando juntas. Ela é minha maior inspiração e é a responsável pela minha paixão pela gastronomia", conta Fernanda.
A receita do pão de queijo é da Dona Nena, mas, segundo Fernanda, tem algumas adaptações. A paulistana descobriu que a Alemanha é o segundo país no mundo a consumir produtos orgânicos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, então decidiu criar um produto sem conservantes, glúten, e totalmente vegetariano.
Além é claro da grande procura dos brasileiros, o pão de queijo da Nena, aos poucos, caiu no gosto do exigente público alemão.
Isso é um indicador do quanto a população se preocupa com saúde e qualidade de vida. E apesar do povo alemão gostar de opções mais tradicionais, a aceitação do pão de queijo entre eles é ótima", comemora Fernanda.
Além da venda virtual pelas redes sociais e física em uma loja de produtos latinos, Fernanda frequentemente participa de eventos musicais e feiras de rua. E como o processo é artesanal, tudo feito na cozinha de casa, a produção mensal não passa de 600 pãezinhos.
A brasileira pensa em expandir a marca para além da Alemanha e até chegou a ouvir algumas propostas de negócio, mas diz ainda não ter encontrado o projeto certo. Enquanto isso, apenas quem mora em Berlim tem esse privilégio.
A memória afetiva com a culinária brasileira é super forte para quem mora fora do país. E isso vem desde o manuseio dos ingredientes, o cheiro quando eles estão no forno e a hora de sentar à mesa e degustar", lembra Fernanda.
Berlim é uma cidade que aprendeu com a história. Derrubou um muro para unir povos, combate diariamente a intolerância em todos os níveis, une mineiros, paulistas, potiguares, alemães, irlandeses, espanhóis e muitos outros povos em torno de uma gastronomia afetiva.
O trem é "bão'' e tem lugar para todo mundo.
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