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Curiosas esculturas de polenta são atração em festa tradicional no RS

Homenagem a Dionísio: terceiro colocado no concurso de esculturas com polenta, em Monte Belo do Sul, em 2019 - Marlove Perin/Divulgação
Homenagem a Dionísio: terceiro colocado no concurso de esculturas com polenta, em Monte Belo do Sul, em 2019 Imagem: Marlove Perin/Divulgação

Eduardo Vessoni

Colaboração para Nossa

20/05/2022 04h00

A pequena Monte Belo do Sul, no Vale dos Vinhedos (RS), não chega nem a três mil habitantes. Mas em certas épocas do ano, a população desse tradicional destino de imigrantes italianos vê esse número quadruplicar.

Dessa vez, o motivo é a 11ª edição do Polentaço que acontece na praça central da cidade e tem a polenta como tema, quando quase duas toneladas do alimento são servidas gratuitamente para o público, durante dois dias de evento.

A paixão pelo prato é tamanha que ela foi escolhida oficialmente o prato típico de Monte Belo do Sul desde 2014, de acordo com lei aprovada pela Câmara Municipal de Vereadores.

Toneladas de polenta

Preparação da polenta gigante em Monte Belo do Sul - Marlove Perin/Divulgação - Marlove Perin/Divulgação
Preparação da polenta gigante em Monte Belo do Sul
Imagem: Marlove Perin/Divulgação

Para o Polentaço são preparados por dia cerca de 800 quilos do prato, distribuídos entre visitantes e a população.

O preparo vai das seis da manhã com o preenchimento do panelão com água e farinha até às 14h30, quando é feito o aguardado despejo do alimento pronto em uma espécie de tabuleiro gigante — o famoso "tombo da polenta".

Para fazer a receita são necessários 12 homens que se revezam em turnos para girar as quatro espátulas imensas que mexem o panelão colocado sobre um forno de madeira com a ajuda de um guindaste.

Tombo da Polenta, em Monte Belo do Sul - Marlove Perin/Divulgação - Marlove Perin/Divulgação
Tombo da Polenta, em Monte Belo do Sul
Imagem: Marlove Perin/Divulgação

Para um público que gira em torno de 10 mil pessoas, o evento conta com a participação de cerca de 200 voluntários, incluindo aproximadamente 30 pessoas que ajudam no tombo da polenta pronta e na sua distribuição.

Para um evento como esse, porém, o melhor é não chegar muito tarde, já que a distribuição costuma ocorrer até as 17h.

Polenta com arte

O apego sentimental pelo alimento, herança das primeiras famílias que imigraram, é tão grande que o evento tem até um curioso campeonato de esculturas feitas com polenta, considerado o único do gênero no mundo.

Exposição das obras feitas com polenta na 10ª edição do Polentaço, em Monte Belo do Sul - Marlove Perin/Divulgação - Marlove Perin/Divulgação
Exposição das obras feitas com polenta na 10ª edição do Polentaço, em Monte Belo do Sul
Imagem: Marlove Perin/Divulgação

A competição é dividida em duas modalidades de esculturas, que não podem ultrapassar o limite de 50x50 centímetros.

A primeira dela é a pura, feita apenas com polenta ou, no máximo, farinha de milho para decorar. Na outra categoria é permitido o uso de estruturas de apoio, como madeira, plástico ou papelão, desde que a quantidade dos materiais não ultrapassem a de polenta.

Após a escolha dos 15 jurados participantes, cada um dos vencedores ganha uma calheira de madeira, como são chamados os tradicionais caldeirões para preparação de polenta.

"Nona Maria, a parteira", escultura feita pela comunidade de Claudete Teresinha Gnoato Frizon - Marlove Perin/Divulgação - Marlove Perin/Divulgação
"Nona Maria, a parteira", escultura feita pela comunidade de Claudete Teresinha Gnoato Frizon
Imagem: Marlove Perin/Divulgação

E, na hora de criar, vale todo tipo de tema, que costuma ser inspirado nas tradições culturais da região, como a escultura de Claudete Teresinha Gnoato Frizon, da Comunidade São Paulo.

"Me baseio sempre na imigração italiana, lá no começo, com as histórias que a minha mãe me contava", descreve a bisneta de imigrantes italianos que já foi premiada quatro vezes.

Na 11ª edição do Polentaço que acontece no próximo final de semana, ela já tem seu tema escolhido, "um segredo que vocês só vão ver na hora", desconversa a concorrente.

Já a monte-belense Edilene Dal Castel não só não esconde o tema desse ano, uma casa de pedra em referência a essas históricas construções imigrantes, como também faz questão de dar a receita de sua obra.

"Na quinta-feira antes da festa, cerca de cinco moradores da comunidade de Nossa Senhora de Caravaggio se juntam para fazer as polentas e colocá-las em moldes. São 10 quilos de farinha e 40 litros de água", explica.

Edilene conta que a preparação prévia é importante para poder esfriar a polenta e garantir uma consistência mais firme que facilite a sustentação da obra. O corte e a finalização do trabalho final ocorre na sexta-feira anterior à abertura do evento.

Embora não costumem participar na modalidade de polenta com estrutura, os participantes da sua comunidade costuma usar a polenta brustolada, quando o produto é levemente queimado, como o telhado de sua criação vencedora na edição de 2019.

Polenta com vinho

Monte Belo do Sul - Divulgação/Manuela Balzan - Divulgação/Manuela Balzan
Monte Belo do Sul
Imagem: Divulgação/Manuela Balzan

A 140 quilômetros de Porto Alegre e a 17 quilômetros de Bento Gonçalves — Capital Nacional do Vinho —, Monte Belo do Sul se exibe com sua polenta de dimensões exageradas desde 1996, mas também já se escondeu.

Declarado o maior produtor de uvas per capita da América Latina, onde repousam 2.270 hectares de parreirais, o destino é famoso pela produção de vinhos coloniais, chamados de "vinhos naturais", nos porões das casas das famílias mais tradicionais da cidade.

Taça de vinho de Monte Belo do Sul - John Paul Arlington - John Paul Arlington
Taça de vinho de Monte Belo do Sul
Imagem: John Paul Arlington

Feita para consumo próprio na época, a produção tinha seu excedente vendido para pessoas da região. Desde 2014, a Lei do Vinho Colonial (Lei nº 12.959) regula a bebida produzida por agricultores ou empreendedores familiares, "estabelecendo os requisitos e limites para a sua produção e comercialização" em todo o Rio Grande do Sul.

Monte Belo do Sul é endereço também de um dos últimos tanoeiros da Serra Gaúcha, como são chamados os profissionais responsáveis pela produção de barris de madeira para armazenamento de vinhos e cachaças.

Colheita em Monte Belo do Sul - Maurício Pamplona - Maurício Pamplona
Colheita em Monte Belo do Sul
Imagem: Maurício Pamplona

Serviço

11º Polentaço
Praça Padre José Ferlin, s/n.

De 21 a 22 de maio (sábado e domingo), das 10h às 23h, e das 10h às 20h, respectivamente. Já o Tombo da Polenta acontece no sábado, às 14h45, e no domingo, às 14h30.

Entrada gratuita

Mais informações: www.visitemontebelo.com.br