Nada de M com tamanho P: roupas femininas terão padronização no Brasil
Quem nunca teve um encontro no provador com aquela calça 42 com carinha de 38? Com o objetivo de combater discrepâncias entre grades do vestuário feminino e desproporção das peças, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) publicou na sexta-feira (3) uma norma que padroniza os tamanhos de roupas femininas no país.
A norma NBR 16933 oferece novos referenciais de medidas para as marcas com base em dois tipos de corpos mais frequentemente observados nas mulheres brasileiras: "retângulo" e "colher".
O Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário da ABNT chegou à conclusão que estes são os tipos físicos mais comuns a 80% das brasileiras após realizar junto com representantes do setor — entre eles, o Senai Cetiqt, estilistas, entidades com a Associação Brasileira do Plus Size (ABPS) e redes varejistas como a Renner — um levantamento antropométrico através de softwares específicos de simulação do corpo humano, além de levar em consideração a experiência de profissionais da área de confecção.
No caso do biótipo "retângulo", as medidas de busto e quadril são semelhantes, enquanto a cintura não é bem marcada. Já a "colher" seria a silhueta com quadril maior que tórax e laterais mais arredondadas.
Segundo a ABNT, o texto oferece diretrizes para tamanhos que vão do 34 ao 62. A adoção ao novo padrão é voluntária, ou seja, as marcas não são, neste momento, obrigadas a seguir a grade, mas aquelas que se comprometerem a seguir as regras precisarão oferecer à cliente mais do que a informação sobre o tamanho ser P ou 38, por exemplo.
"A indicação de tamanho de cada peça de roupa propõe incluir as dimensões em centímetro, de quem veste a roupa, atendendo as necessidades diretas das consumidoras", afirmou a superintendente do Comitê da ABNT, Maria Adelina Pereira, em nota à imprensa.
A nova norma ainda sugere dimensões, em centímetros, para os tipos "retângulo" e "colher" que levam em conta desde o perímetro da cabeça, pescoço, passando pelos ombros, busto, cintura, quadril, costas, coxa, joelho, panturrilha até o tornozelo.
Pandemia foi estopim
Maria Adelina Pereira, disse à Agência Brasil que todo o conjunto de normas sobre medidas de corpo nos segmentos masculino, feminino e infantil já era um "sonho e um desejo" da entidade para atender ao mercado. Segundo ela, o grande desafio era a questão de o Brasil ser um país continental, com miscigenação ampla e, ao mesmo tempo, oferecer biotipos das mais diferentes etnias. "Essa era a grande dificuldade", disse.
De acordo com Maria Adelina, havia empresas que desejavam essa norma como uma orientação e outras que preferiam ter o cliente no provador. A pandemia covid-19 demonstrou como é difícil levar o cliente ao provador que, em muitos casos, não tem espaço desejado. Ainda segundo a superintendente, tem a questão do suor e da maquiagem que podem manchar as peças que estão sendo provadas. "Tudo isso é uma grande motivação para se tentar reduzir a ida ao provador."
A superintendente destacou também que, "com o advento do e-commerce [comércio eletrônico] explodindo na pandemia, se viu que é possível fazer uma venda sem, necessariamente, a pessoa entrar na roupa e aprovar a compra. Isso foi muito positivo e fez com que as marcas, as lojas, as fábricas, vissem que o sistema de vestibilidade, que consiste em declarar a medida que a modelista utilizou, é muito útil".
Consenso
Antes da publicação, a norma passou por vários estudos e por duas consultas nacionais até que o comitê chegasse a um consenso, para que o texto pudesse virar um documento técnico para a sociedade. A norma é voluntária. A confecção ou marca adere se quiser.
Maria Adelina disse, contudo, que a adesão tem sido grande por parte das empresas, que estão entrando em contato com a ABNT no sentido de, principalmente, comparar o que elas praticam atualmente nas suas tabelas de medida com o seu perfil de público para ver se estariam dentro do que a norma sugere na tabela de exemplos e medidas para o corpo retangular e para o corpo colher. Esses dois modelos representam 80% da população feminina brasileira, segundo pesquisas levantadas para o estabelecimento da norma. "Há uma grande curiosidade nesse sentido", disse.
A superintendente disse que não houve manifestações contrárias.
O corpo retângulo predomina nos quase 10 mil corpos que foram medidos em todo o Brasil pelo Senai Cetiqt. As medidas de busto, cintura e quadril têm diferenças muito pequenas, que acabam estabelecendo essa figura geométrica. Já o corpo colher não é reto do busto à cintura, mas apresenta diferença muito significativa para o quadril.
Maria Adelina disse que a centimetragem é um sistema já adotado em outros países, como os Estados Unidos, por exemplo. "Facilita muito", disse.
As peças têm tags, ou etiquetas, que orientam os consumidores na hora da compra, informando medidas de tórax, no caso de homens, por exemplo; de estatura, no caso de crianças. "Nessa indicação da vestibilidade, a centimetragem ajuda muito na escolha, na redução de troca na loja, no acerto para quem dá um presente".
Maria Adelina não duvida que a tendência será de adoção da nova norma pelo setor têxtil e de vestuário.
A jornalista e consumidora Flávia Ghiurghi aprovou a norma. Em depoimento à Agência Brasil, ela destacou que a iniciativa da ABNT "vem bem a calhar para nós".
"Diferentemente das francesas, por exemplo, que, de modo geral, têm um padrão de corpo mais esbelto, as brasileiras são mais curvilíneas. Aqui, o biotipo da maioria das mulheres é caracterizado por quadris largos, coxas grossas, bumbum grande. Eu, por exemplo, uso calça do 36 ao 42, dependendo da marca. Na parte de cima, as blusas vão do P ao GG. Acho um absurdo não ter uma padronização nos tamanhos das roupas. As lojas de grife praticamente vendem peças para modelos. O número 40 é referente ao 36. Costumo comprar bastante em lojas online e acabo me baseando mais nos comentários das clientes do que nos tamanhos indicados das peças".
Flávia acredita que, se essa norma da ABNT for realmente aplicada, "vai ser muito mais fácil comprar a roupa certa para cada tipo de corpo".
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) disse que "a norma é pública e acessível pelas empresas interessadas". "A Abit faz a divulgação, assim como faz com temas de interesse do setor."
O ABTN Catálogo pode ser adquirido ao preço de R$ 166,85. A norma é cobrada por se tratar de um direito autoral.
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