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Moradores de Moscou veem marcas para casa e roupas preferidas desaparecerem

Fachada de loja da Calvin Klein, em Moscou, na Rússia - REUTERS
Fachada de loja da Calvin Klein, em Moscou, na Rússia Imagem: REUTERS

da AFP, em Moscou

08/03/2022 10h58

Atordoados, muitos moscovitas descobrem a magnitude da resposta internacional à intervenção militar russa na Ucrânia ao verem fechadas as lojas de departamentos onde costumavam comprar roupas e móveis.

Zara, H&M, Ikea, entre outras... Todas suspenderam suas vendas na Rússia de um dia para o outro, e fecharam suas lojas nos muitos shoppings da capital russa.

Nos últimos 40 anos, os moscovitas viveram muitos períodos de crise, escassez e hiperinflação, mas as duas últimas décadas sob Vladimir Putin representaram, para muitos, uma era de prosperidade e de acesso a bens de consumo.

As autoridades russas garantem que o país vai-se recuperar rapidamente das sanções internacionais impostas desde 24 de fevereiro, com a entrada de suas tropas na Ucrânia, mas muitos habitantes esperam dias sombrios.

Anastasia Naumenko, uma estudante de jornalismo de 19 anos, trabalhava em uma loja de roupas da rede Oysho. Perdeu o emprego quando a gigante espanhola Inditex decidiu fechar suas lojas no país por enquanto.

A jovem está procurando uma maquiagem, mas a moeda local, o rublo, despencou, devido às sanções.

"Ouvi dizer que os preços quadruplicaram", comentou a jovem, na entrada do shopping Metropolis, em Moscou. "Vai ser terrível", afirma.

E, com a entrada em vigor, no último fim de semana, da proibição de qualquer informação contra as Forças Armadas russas, a jovem acredita que também terá de deixar de lado seu sonho de ser jornalista.

"Qual será a necessidade da minha profissão com essa censura?", questiona.

Vida desmoronando

Iulia Shimelevitch, 55, que dá aulas particulares de francês, vai a uma loja de "pet food" em busca de produtos ocidentais para seus cães e gatos.

Em 10 dias, a maioria de seus alunos cancelou suas aulas, e muitos deles optaram por deixar a Rússia diante da repressão e das dificuldades que estão por vir. Seu filho se juntará aos exilados no domingo.

"Minha vida está desmoronando", lamenta.

"Todos os luxos, aos quais estava acostumada nos últimos anos, os produtos importados, as roupas, parecem coisa do passado", disse.

"Mas o mais difícil não vai ser apertar o cinto, e sim me separar do meu filho e o sentimento de culpa em relação ao resto do mundo", resume.

Putin repete que as sanções devem ser uma oportunidade para a Rússia aumente sua própria produção. Talvez isso seja possível no setor agroalimentar, ou têxtil, onde houve progressos nos últimos tempos, mas será mais difícil no setor de tecnologia.

Na rua comercial Kuznetski Most, onde as lojas estão fechadas, Tamara Sotnikova, de 70 anos, diz que se importa pouco com as sanções.

"Tudo deve vir daqui", defendem. "Nos tempos soviéticos, o que havia? Nada! E vivíamos normalmente, tranquilamente", completou.