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Como uma crise bem brasileira fez Lakers irem de campeões a chacota da NBA

LeBron, Anthony Davis e Westbrook ficaram abaixo da crítica, e Lakers tiveram temporada de dar sono - Wally Skalij/Los Angeles Times via Getty Images
LeBron, Anthony Davis e Westbrook ficaram abaixo da crítica, e Lakers tiveram temporada de dar sono Imagem: Wally Skalij/Los Angeles Times via Getty Images

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

06/04/2022 12h49

Um elenco envelhecido e cheio de medalhões, que sofre com lesões seguidas, tem desempenho muito abaixo do esperado e agora cogita a demissão do treinador. Poderíamos estar falando do seu time de futebol, mas o assunto é o Los Angeles Lakers, campeão da NBA em 2020 que se tornou o maior alvo de chacota da liga e nesta temporada não vai sequer aos playoffs.

Em poucos anos, o sucesso e o fracasso da franquia se deram pelas mãos de LeBron James, o maior responsável pela montagem tanto do time campeão de 2020 quanto do que frustrou a torcida desta vez. Foi LeBron quem atraiu Anthony Davis, uma espécie de pupilo seu, e deu o aval para o elenco de coadjuvantes que faria a diferença para a conquista do título. De lá para cá, no entanto, uma sucessão de erros tirou a competitividade do time.

Logo após o título, os Lakers resolveram sacrificar o futuro para vencer agora. É uma tentativa até bastante comum na NBA, mas que tem riscos altos que a franquia de LA agora conhece da pior maneira. Em dois anos, praticamente todos aqueles coadjuvantes úteis foram sacrificados em trocas que se provaram equivocadas -mal comparando, foi como se desfazer de jovens promessas do futebol para contratar veteranos.

As maiores apostas depois do título não deram certo e já foram embora (Dennis Schröder e Montrezl Harrell). Nesta temporada, o astro que custou quase um time inteiro e uma fortuna de salários acabou virando piada dos rivais por não ter encaixe no time e fazer alguns jogos terríveis (Russell Westbrook). Tudo isso somado a lesões seguidas resultou na eliminação precoce dos Lakers.

Vendo em retrospectiva, o desastre é uma surpresa daquelas. O time abriu a temporada como o segundo maior favorito ao título da NBA nas casas de apostas, e a expectativa era tão alta que LeBron James chegou a desafiar os críticos. "Continuem falando de nós, da nossa idade, do jeito que jogamos, que nosso tempo na liga já passou etc. Façam-me este favor, mantenham esta mesma narrativa", disse em agosto, em um desabafo que aos poucos virou uma previsão de críticas cada vez mais justificadas.

Com o passar da temporada, a badalação em torno dos Lakers virou chacota. Já na pré-temporada foram seis derrotas seguidas, e a decepção logo se confirmou nos jogos valendo: a chamada "panelinha" foi prejudicada por lesões e quase não teve sequência. Na prática, a montagem do elenco não funcionou -um mal muito comum também a clubes de futebol do Brasil.

Por vários meses os Lakers ganharam tanto quanto perderam, até que a lesão sofrida por Anthony Davis no final de fevereiro praticamente enterrou de vez a temporada. O time ainda se arrastou nos últimos jogos, tentando ao menos manter seu lugar no play-in, mas aí foi a vez de LeBron se machucar, e ontem (5) a sétima derrota seguida confirmou a eliminação.

Ídolos do passado engrossam críticas

A exemplo de muitas das crises do futebol brasileiro, os Lakers também são alvo de fogo amigo. Pode não ser em um programa de TV, mas os ídolos do passado da franquia também não poupam críticas à administração atual e ao elenco. Magic Johnson, por exemplo, tem feito comentários duros.

"As lesões não podem ser uma desculpa, pois Davis ficou de fora no ano passado e o time foi aos playoffs. A responsabilidade é grande aqui, e os Lakers durante toda temporada não tiveram responsabilidade. Meu problema é com eles dando todas essas desculpas, inventando desculpas novamente. Pare de inventar desculpas! Esse time não deu certo", disparou, defendendo que a culpa em grande parte é dos jogadores, não do treinador Frank Vogel.

Quando as coisas vão mal em quadra, sobram críticas também para todo o resto. Nesta semana, por exemplo, o astro Kareem Abdul-Jabbar detonou LeBron James pelo pouco envolvimento ou às vezes omissão de debates sociais e raciais. "Há coisas que ele fez das quais deveria se envergonhar", afirmou o ex-jogador na ocasião.

Técnico por um fio e martírio que não acaba

Agora parece ser a vez de Frank Vogel ser demitido, em mais um traço bem brasileiro das gestões de crise -depois de uma campanha decepcionante, cai o treinador. A imprensa dos EUA publica que Vogel, campeão com os Lakers há dois anos, agora já tem até data para deixar o comando do time, pois a direção estaria apenas esperando os três jogos restantes para anunciar sua saída.

A ruína fez muita gente torcer para a temporada acabar logo. Na derrota de ontem para o Phoenix Suns, um comentarista dos Lakers foi flagrado implorando pelo fim do sofrimento. "A mesma merda de sempre, em um dia diferente", lamentou no áudio vazado na transmissão. O martírio do time de LA termina só no domingo (10), depois de três jogos cumprindo tabela contra Warriors, Thunder e Nuggets.