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Tricolor, Tony Ramos vive palmeirense em filme e lembra SPFC campeão em 57

Tony Ramos interpreta palmeirense em novo filme - Reprodução
Tony Ramos interpreta palmeirense em novo filme Imagem: Reprodução

Ana Flávia Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/08/2021 04h00

O trabalho de ator permite que os profissionais vivam nas telas situações pelas quais não passariam na vida real. O são-paulino Tony Ramos, um dos grandes nomes da teledramaturgia brasileira, já deu vida a muitas personagens em seus 57 anos de carreira. Mas é no filme "45 do Segundo Tempo", que estreia em breve nos cinemas, que ele viverá, pela primeira vez, um palmeirense fanático.

Apesar da rivalidade entre os dois clubes, Tony diz que interpretar um palmeirense não foi difícil. "É só transportar um são-paulino com um camisa verde (risos)", disse em entrevista ao UOL Esporte.

O ator não tem que ter bandeira: 'Ah eu sou são-paulino, então, só vou fazer são-paulino no cinema.' Isso é uma estupidez. Eu vou fazer qualquer torcedor. Se o cara torce contra a seleção brasileira, eu farei. O que me interessa é uma história boa, é a humanidade de uma história, é onde eu posso inquietar o público."

Como sugere o título do filme do diretor Luiz Villaça, o futebol é pano de fundo para contar a história de Pedro, que reencontra dois amigos de infância, Ivan e Mariano, interpretados por Cássio Gabus Mendes e Ary França, respectivamente, depois de 40 anos separados. O objetivo do reencontro é recriar, para uma matéria de jornal, uma foto que os três tiraram juntos na inauguração do metrô de São Paulo em 1974.

Assim como Pedro, Tony adora futebol e esportes em geral, como já disse em entrevista recente ao UOL, mas faz questão de ressaltar a diferença entre a paixão dele pelo São Paulo e o fanatismo da personagem pelo Palmeiras.

"Não me considero um torcedor fanático. Eu me considero um torcedor apaixonado. Qual a diferença? Fanático é todo aquele, seja para religião, para o esporte, para política, que usa antolhos e não vê nada a seu lado e nem à frente, abaixa a cabeça e diz 'amém, amém, amém'. Não, eu sou um torcedor apaixonado. Adoro meu time perdendo ou ganhando", pontua o ator, antes de completar:

Eu jamais briguei por causa de futebol. E não vem ninguém apressadamente dizer: 'Então você não é torcedor'. Sou, sim. Só que eu sou civilizado. Eu não vou brigar por causa de futebol. Não vou agredir ninguém por causa de futebol. Não vou xingar a mãe de ninguém por causa de futebol. Eu vou apenas me divertir com futebol. Futebol, para mim, é uma poesia."

E é como se declamasse um poema que Tony recita a escalação do São Paulo campeão paulista em 1957. "Poy, De Sordi, Sarará, Mauro, Vitor, Riberto, Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro", diz, dando ênfase ao citar o nome de Zizinho.

"Era um mestre, e eu tive a aventura de ver Zizinho jogar. Então, quem viu Zizinho, viu um grande futebol. Para você ter uma ideia, Zizinho era o ídolo do Pelé. Acho que não preciso falar mais nada, né? Então, nós tivemos Zizinho jogando pela nossa equipe."

Ao ser questionado sobre o jogo mais marcante que assistiu na vida, Tony não hesita: "Foi o jogo que ganhamos do Corinthians de 3 a 1 no Pacaembu, foi a final de 57", prossegue o ator/torcedor. "Foi marcante porque também eu era aquele jovem menino, olhando para aquele jogo, para aquele estádio e vendo a consagração de um sonho, ainda criança...Imagina. Eu tinha ali nove aninhos de idade, ia fazer 10 anos. Era uma alegria poder ver aquele time, daquela forma. Alegria dos parentes meus, tios que eram são-paulinos."

São Paulo, campeão paulista de 1957 -  De Sordi, Poy, Sarará, Riberto, Victor, Mauro e Serrone (roupeiro); Maurinho, Amaury, Gino Orlando, Zizinho e Canhoteiro - Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube - Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube
São Paulo, campeão paulista de 1957 - De Sordi, Poy, Sarará, Riberto, Victor, Mauro e Serrone (roupeiro); Maurinho, Amaury, Gino Orlando, Zizinho e Canhoteiro
Imagem: Arquivo Histórico do São Paulo Futebol Clube

Ele conta que "é são-paulino desde a mais tenra infância" e que era levado aos estádios pelos tios e pelo padrasto, um corintiano que o ensinou que "futebol é prazer e não violência".

"Quando minha mãe casou de novo, eu já tinha 13, 14 anos. Meu segundo pai adorava ir pro campo e ele era corintiano. Ele nunca falou 'agora, tem que ser corintiano'. Nunca falou isso, pelo contrário. Ele era professor e um homem muito na dele, muito tranquilo, e sempre dizia isso 'futebol, para mim, é prazer e não violência'. São frases que você guarda."

Embora nenhum dos dois fosse palmeirense, Tony e o padrasto foram juntos ao antigo Parque Antártica assistir ao jogo que marcou a inauguração dos Jardins Suspenso, na década de 1960. "Meu padrasto corintiano e eu são-paulino. A gente foi lá ver pelo prazer do futebol. Há uma diferença entre fanatismo clubístico e prazer com futebol. Eu tenho prazer com futebol, e a coisa que eu mais gosto é admirar quando um time vai bem".

São Paulo atual

Antenado com o mundo da bola e com os resultados do time de coração, o ator elogia Hernán Crespo, mas pede a contratação de um centroavante e atenção da diretoria à equação das dívidas do clube, que ultrapassam os R$ 600 milhões de reais.

Eu acredito muito no Crespo. Acredito porque eu vejo nele a paixão que ele sempre teve como como jogador — e foi um brilhante jogador. Precisamos de um centroavante tradicional, aquele centroavante plantado. Já tivemos vários na história do São Paulo: Toninho Guerreiro, tivemos Serginho Chulapa, Luís Fabiano, que era um belíssimo rompedor de área, atrevido — no bom sentido. Tivemos Mirandinha, tivemos grandes centroavantes. Vou esquecer de nomes aqui, mas vou lembrar do primeiro grande centroavante que eu vi que era Gino Orlandi, do time campeão de 57."

"Nas divisões de base, temos meninos com esse potencial, mas eles não têm ainda experiência. Seria preciso chegar alguém com a devida experiência que também serviria como estímulo para esses jovens valores", analisa o torcedor.

Filme com diretor palmeirense

Tony Ramos conta que se apaixonou pela história do filme "45 do Segundo Tempo" assim que leu pela primeira vez o roteiro enviado pelo diretor Luiz Villaça.

"Quando ele me convidou, ele falou 'Estou te mandando o roteiro, eu acho que você vai gostar'. Eu li o roteiro, e não só gostei, como me apaixonei. [...] Li a segunda vez e percebi que eu estava com os olhos marejados. Falei: 'Epa, eu acho que tem aço bom, aço forte, aço inoxidável aqui nesse texto'. A história é linda. Olha o título do filme '45 do Segundo tempo' — o que remete qualquer pessoa, mesmo aqueles que não vejam futebol, a contar do tempo de uma partida de futebol, ainda mais no Brasil. E quando eu vi que era palmeirense, eu liguei para ele e perguntei: 'Isso é provocação ou ele é palmeirense mesmo?' Ele falou assim: 'Eu sou o autor do roteiro, eu sou o diretor e eu sou palmeirense.' E ele é palmeirense mesmo. Eu falei 'ok' ", conta Tony, entre risos.

No filme, Tony interpreta Pedro, um palmeirense fanático, dono de um restaurante, que se vê atolado em dívidas e tem de lidar com a interdição, pela Vigilância Sanitária, do seu negócio. É neste cenário que ele reencontra os amigos de infância. Sem perspectivas, ele anuncia aos companheiros que decidiu tirar a própria vida, mas decide esperar a final de um campeonato em que o Palmeiras pode ser campeão.

Pedro, personagem de Tony Ramos, reencontra amigos Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França) após 40 anos - Divulgação - Divulgação
Pedro, personagem de Tony Ramos, reencontra amigos Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França) após 40 anos
Imagem: Divulgação

"O tema suicídio não é levado de uma forma avacalhadora. 'Vamos fazer uma piada com suicídio ai'. Não. É que o assunto é tão pesado que quando eles ouvem há uma pausa no diálogo deles: 'Como tratar desse assunto?'. Um começa, para tornar o assunto leve, a dizer: 'Ah, mas eu ia dar tanto trabalho, se fosse comigo, eu ia fazer isso...' Mas o pano de fundo é como alguém e por que alguém comete isso. Quando começam a discutir esses assuntos pesados, tristes, fortes que a infância, a pré-adolescência, deles aparece. Quando a pré-adolescência aparece, surge a válvula de escape. [...] A temática do filme está no companheirismo, no afeto, no esporte e no renascimento", finaliza Tony.

Além do trio de protagonistas formado por Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes e Ary França, o filme, que ainda não tem data de estreia, conta com participações especiais de Denise Fraga e Louise Cardoso.