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Artilheira na estreia do handebol, Bruna de Paula vendia picolé na infância

Bruna de Paula arremessa em jogo do Brasil contra a equipe russa na Olimpíada de Tóquio - Wander Roberto/COB
Bruna de Paula arremessa em jogo do Brasil contra a equipe russa na Olimpíada de Tóquio Imagem: Wander Roberto/COB

Roberto Salim

Do UOL, em São Paulo

25/07/2021 07h42

Ela é veloz e quando se prepara para arremessar ganha tanta impulsão que parece flutuar na quadra. Foi assim que Bruna de Paula, a armadora da camisa número dois, levou a seleção brasileira a um empate contra a equipe russa, por 24 a 24, na estreia do handebol nos Jogos Olímpicos de Tóquio, na madrugada deste domingo (25).

Bruna é uma atleta excepcional e mostrou toda a força e plasticidade do seu jogo contra as atuais campeãs olímpicas. E quem percebeu logo cedo que a filha da dona Marinalva era um fenômeno do esporte foi o professor Eloy Sartini, na pequena cidade de Campestre, a pouco mais de 400 quilômetros de Belo Horizonte.

"Ela tem uma coordenação incomum", ele me disse em 2015, quando estive na cidade para saber como a filha da catadora de café tinha começado sua carreira esportiva. Na ocasião, Bruna estava com 18 anos e já estava jogando handebol na equipe de São José dos Campos.

"Ela tem muita velocidade e sua impulsão é espantosa", contou o auxiliar técnico da equipe paulista, o professor Chico Silva, que fez uma previsão que acabou se concretizando nos anos seguintes: ela vai ser jogadora da seleção e uma das melhores do mundo.

Dito e feito!

A menina que vendia picolés nas ruas de sua cidade e que lutou com muitas dificuldades na infância se transformou em uma jogadora extraordinária, não só da seleção, mas também do time francês que defende atualmente: o Metz. E pensar que quando saiu de Campestre para treinar em São Paulo suas irmãs e sua mãe choraram muito.

"No dia que ela foi viajar, nem levou tênis em sua mala. Eu trabalhava na colheita do café e nós não tínhamos dinheiro para comprar. A Bruna partiu com a cara e a coragem", confessou sua mãe, que tem outras quatro filhas.

E a coragem sempre foi uma marca da menina, que além de vender picolés, trabalhou também em uma oficina mecânica no duro período de sua infância, em que gostava mesmo era de jogar futebol.

Sua mãe sempre acreditou no sucesso da filha, que agora aos 24 anos, acrescentou mais uma estrela à sua carreira: nesta
temporada, ela foi campeã da Liga Europeia de handebol, defendendo a equipe francesa do Nantes Atlantique. Além disso, Bruna foi artilheira e a jogadora destaque da competição, com a média de seis gols por jogo. Quase o mesmo número de gols marcados contra as russas na estreia olímpica do Brasil no Yoyogi National Stadium.

"Marquei sete", me disse Bruna, por telefone, quase uma hora após o jogo. E seriam oito se, caprichosamente, a bola arremessada a poucos minutos do encerramento da partida não tivesse se chocado contra a trave da goleira Kalinka. A marca fez de Bruna a artilheira não somente do Brasil, mas da partida.

"Foi um jogo difícil, mas em nenhum momento deixamos de acreditar!".

Ela admitiu que usa todo o seu vigor físico para ser essa jogadora incrível.

"É verdade que a velocidade e o salto são meus pontos fortes, então faço tudo para sobressair nesses aspectos".

Perder peso com o esforço feito na quadra também é comum para ela, que joga como armadora esquerda.

"Mas até o jogo contra a Hungria, eu terei um tempinho de descanso e sempre me recupero".

Vocês tem ideia do que Bruna, a Bruninha de Campestre, fez assim que o jogo acabou?

"Eu peguei o celular e liguei para a minha família. Lá em casa está tudo bem!".

E com certeza dona Marinalva está orgulhosa com mais uma façanha da filha veloz e voadora.