Japonês leva vaca Godzilla a protesto contra energia nuclear e Olimpíadas
Masami Yoshizawa viajou de Fukushima para Tóquio para se manifestar contra as Olimpíadas. Na casa dos 70 anos, o fazendeiro amarrou uma carretinha na van e levou à capital japonesa seus cartazes de protesto contra a energia nuclear, seus alto-falantes e sua instalação artística, batizada de Cow Godzilla.
Trata-se de um esqueleto de uma vaca, transformada tal qual o monstro Godzilla (um ícone da ficção apocalíptica da cultura pop nipônica) pela radiação nuclear, uma referência às vacas que o fazendeiro tinha no seu rancho na cidade de Namie, a poucos quilômetros da Usina Nuclear de Fukushima Daiichi I. A instalação foi devastada por um tsunami, provocado por um forte terremoto, em 2011. "Por que ninguém se lembra de Fukushima?", ele destacou, durante a manifestação.
Com o acidente nuclear (o mais grave desde Chernobyl) que deixou milhares de mortos e desabrigados, as mais de 300 vacas da fazenda de Ishikawa foram contaminadas pela radiação. Na época, autoridades japonesas ordenaram que ele as abandonasse ou sacrificasse - ele, entretanto, não aceitou as alternativas e continuou voltando ao rancho para alimentá-las.
Assim, tornou-se um tipo de símbolo de resistência e do ativismo antinuclear de Fukushima: fez protestos em frente à sede da Tepco, a operadora da usina nuclear, deu diversas entrevistas ao longo da última década (do norte-americano New York Times à nipônica NHK) e se candidatou a prefeito da cidade de Namie, em 2018. Não foi eleito.
Enquanto ativistas antiolímpicos se concentraram na frente da sede do governo metropolitano de Tóquio à espera da chegada da tocha, Ishikawa ocupou o outro lado da rua com sua van e sua vaca. Expôs fotos da região, como as com sacos pretos contendo terra tóxica que ainda estão presentes na província.
"Onde estão as Olimpíadas da 'reconstrução'?", questionou, em referência ao discurso oficial da Tóquio-2020 como "jogos da reconstrução" no marco de dez anos do desastre de Fukushima, um discurso que depois foi alterado para uma ideia de superação diante da pandemia de covid-19.
"Nem a pandemia terminou, nem a reconstrução de Fukushima foi até o fim", critica o cientista político norte-americano Jules Boykoff, professor da Universidade Pacific, no Oregon. "Manifestantes japoneses têm destacado as duas questões, com razão, pois recursos que foram drenados para os jogos poderiam ter sido destinados para o combate à pandemia e à limpeza de áreas até hoje contaminadas de Fukushima." Estima-se que o custo total dos jogos esteja na casa de US$ 15 bilhões (R$ 76,7 bilhões).
Fukushima foi o palco das primeiras competições olímpicas nesta semana, antes da abertura oficial. "'Reconstrução' ganhou um novo significado após o adiamento dos Jogos Olímpicos. Não se refere mais apenas aos sobreviventes e as áreas do desastre de 2011. É uma palavra que ressoa ao público japonês após quatro estados de emergência por causa da pandemia global e das tantas vidas e negócios perdidos", diz o site oficial das Tóquio-2020 sobre a partida de estreia do softbol entre Japão e Austrália no Fukushima Azuma Stadium. "E o fim, infelizmente, não parece estar próximo", finaliza a nota.
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