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Treinada pelo pai, filha de ex-NFL é candidata a ouro no salto na Olimpíada

Vashti Cunningham, do salto em altura, durante seletivas para os Jogos Olímpicos - Kirby Lee/USA TODAY Sports
Vashti Cunningham, do salto em altura, durante seletivas para os Jogos Olímpicos Imagem: Kirby Lee/USA TODAY Sports

Letícia Lázaro

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/07/2021 04h00

A americana Vashti Cunningham chega a Tóquio como uma das favoritas ao ouro olímpico no salto em altura. A jovem de 23 anos se classificou para a Olimpíada depois de saltar 1,96m e vencer a U.S Olympic Trials, torneio que seleciona os representantes do atletismo americano para os Jogos Olímpicos.

Vashti se apaixonou cedo pelo atletismo. O esporte sempre foi muito presente dentro de casa e com cerca de oito anos, já era vista correndo pelas pistas. Seu pai e treinador, Randall Cunningham, foi quarterback na NFL por 16 anos e desde cedo, Vashti sabia bem como era a vida de um atleta de alto rendimento.

"Eu sei que meu pai treinava muito na época. Ele é meu treinador, então, eu entendo como ele treinava só vendo como ele me treina. Eu vejo como ele era sério e o quão dedicado ele foi", contou a saltadora em entrevista ao UOL Esporte.

No ensino médio, Cunningham também foi atleta do salto em altura ao mesmo tempo que praticava futebol americano. Depois de uma lesão, no entanto, se viu obrigado a escolher apenas uma modalidade para seguir sem mais problemas físicos. Escolheu o futebol americano e deu certo, construindo uma carreira sólida na NFL.

Quando se aposentou, em 2001, o ex-quarterback virou coordenador ofensivo e técnico do futebol da bola oval em uma escola de ensino médio nos Estados Unidos. Ao deixar a função, tomou a decisão de treinar os dois filhos, Vashti e Randall Jr, que começavam a dar seus "pulos" no salto em altura.

"Para mim, ter ele como meu treinador é uma coisa especial. Ele me entende, me conhece, me assistiu crescer. É incrível trabalhar com alguém que é muito próximo a mim, sabe meus limites e me ama. Ele se importa comigo, não quer só me ver vencer", disse Vashti.

Desde nova, Vashti demonstrava talento para o salto em altura. Em 2016, com apenas 18 anos, tentou a seletiva para os Jogos Olímpicos do Rio. Ela não só conseguiu a segunda melhor marca da competição e se classificou, como tornou-se a segunda atleta mais jovem do atletismo americano a participar de uma Olimpíada desde 1972.

Decepção no Brasil

O desempenho no Rio, no entanto, não foi exatamente como ela esperava. Vashti não conseguiu repetir o salto de 1,95m que a classificou para os Jogos Olímpicos, e terminou em 13º no ranking geral da prova.

"Rio foi definitivamente uma experiência de aprendizado. Foi uma das minhas primeiras vezes em uma competição grande como essa. Foi algo que me ensinou e me fez crescer, porque eu não competi do jeito que eu queria. Mas, ao mesmo tempo, eu era uma das mais novas."

A decepção em terras brasileiras fez com que trabalhasse ainda mais. Mais madura, Vashti conta que, desde os Jogos do Rio, cresceu muito em sua forma de treinar, na autoconfiança e, principalmente, em sua relação com Deus.

Em 2019, conseguiu a primeira medalha em uma grande competição: bronze no Campeonato Mundial de Atletismo, em Doha. Desde então, ela é um dos principais nomes do salto em altura feminino.

Além do bom resultado na seletiva, Vashti obteve em 2021 sua melhor marca pessoal, saltando 2,02m, em maio, no Festival de Atletismo de Chula Vista, na Califórnia. Além do recorde, a americana sentiu que podia saltar ainda mais alto.

A disputa para Vashti promete ser boa. O salto realizado em maio é a segunda melhor marca de uma mulher no ano. Na Diamond League, no início de julho, em Estocolmo, a ucraniana Yaroslava Mahuchikh saltou 2,03m.

Preparação difícil

Os números não mentem e, sem dúvidas, Vashti chega como um dos grandes nomes para faturar o ouro olímpico no salto em altura. Para conseguir atingir o objetivo, porém, a jornada não tem sido fácil, principalmente por causa do adiamento dos Jogos Olímpicos devido à pandemia de covid-19.

Vashti Cunningham, do salto em altura, durante seletivas para os Jogos Olímpicos - Kirby Lee/USA TODAY Sports - Kirby Lee/USA TODAY Sports
Vashti Cunningham, do salto em altura, durante seletivas para os Jogos Olímpicos
Imagem: Kirby Lee/USA TODAY Sports

"Tentar ficar focada e mentalmente bem tem sido a parte mais complicada. Tivemos um ano a mais, e tive que falar para mim mesma que esses meses que estão vindo são os meses em que preciso me preparar", explicou. "Tem sido uma jornada, eu diria que agora estou treinando duro e me preparando para tudo que pode ficar no meu caminho lá".

Aos 23 anos, Vashti já é uma "veterana" olímpica. Além de estar pronta para competir em alto nível, a americana também já tem consciência que seu papel na sociedade vai muito além do seu desempenho no atletismo. Por isso, ela espera que, no futuro, possa se tornar uma atleta ainda mais influente no esporte e, quem sabe, dar saltos ainda mais altos, não só competindo.

"Acho que daqui a dez anos vou ter muito mais entendimento da carreira que eu sigo, e vou entender o meu trabalho ainda mais. É mais do que o atletismo para mim, é também sobre as pessoas que eu atinjo", concluiu.