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Paraolímpicos levam a Tóquio meia tonelada de equipamentos e remédios

Nadador brasileiro Daniel Dias se prepara para os Jogos Paralímpicos de Tóquio - Buda Mendes/Getty Images
Nadador brasileiro Daniel Dias se prepara para os Jogos Paralímpicos de Tóquio Imagem: Buda Mendes/Getty Images

Denise Mirás

Colaboração para o UOL

24/06/2021 15h11

Se a logística de enviar atletas a grandes competições é complexa, é ainda mais quando se trata de equipes paraolímpicas. Atletas viajam com suas cadeiras de roda de uso cotidiano e as de competição, e com equipamentos ainda maiores e mais pesados. A delegação brasileira levará a Paraolimpíada, que começa daqui a dois meses em Tóquio, pelo menos meia tonelada de equipamento e remédios na bagagem —com base no que foi levado para Londres-2012.

Entre atletas, técnicos, árbitros, dirigentes, médicos, paramédicos, fisioterapeutas, massoterapeutas e convidados, já existem 368 pessoas confirmadas. Mas a delegação brasileira poderá chegar a 400 nomes, a depender de vagas ainda em aberto.

Taciana Fernandes, diretora administrativa da Daher Turismo, é a responsável pela emissão de passagens e embarque de todo o contingente do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), com suas necessidades. Ela tem experiência com hospedagem, alimentação e transporte dos paraolímpicos desde 2011, no Parapan de Guadalajara.

A profissional afirma que já participou de mais de 30 reuniões, com Infraero e companhias aéreas, para detalhar a logística da Paraolimpíada de Tóquio. "Da nossa equipe, uma pessoa segue com cada grupo. Eu fico em São Paulo para embarcar todos e vou no último grupo. Serão dois voos maiores, com cerca de 155 pessoas do CPB cada um, e os demais, menores, com cerca de 50."

Quando começou a trabalhar com os paraolímpicos, Taciana tinha ajuda de Juliana Soares, à época no departamento antidopagem do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Juliana detalha as demandas específicas dos atletas portadores de deficiência:

"No caso do transporte, a delegação viajava em dois grupos, porque não há a mesma pressa de sair da Vila Olímpica. Não é como os olímpicos, que são mais de 10 mil e não têm leitos suficientes na Vila. Eles utilizam o esquema cama quente: atletas que já competiram dão lugar a quem compete na sequência. Os paraolímpicos chegam depois e, como são em torno de 5 mil, os leitos são suficientes. Não haveria pressa em sair."

Mas, por causa da pandemia de covid-19, desta vez também o paratleta não pode permanecer mais de 48 horas na Vila Olímpica depois de competir. Assim, pelo número maior de saídas mais cedo, os brasileiros irão viajar em oito grupos. A viagem será pela Qatar Airways, com escala de quatro horas em Doha, no Catar. A divisão sempre é por modalidade - "se são 30 cadeirantes, vão os 30" - e cada grupo é acompanhado de ao menos um médico.

Embarque é crítico

Em algumas situações, as profissionais precisam ficar atentas para evitar embaraços aos atletas.

Em uma viagem à Argentina, Juliana olhou pela janelinha do avião e viu que só estavam entrando malas pela esteira. Ela protestou: "Cadê as cadeiras?" Precisou ir à porta e gritar: "Este avião não sai se não botarem as cadeiras para dentro! Como eles vão sair sem as cadeiras? São as pernas deles!"

A Tóquio não vão as delegações de basquete e de rúgbi, que não se classificaram e têm as cadeiras mais pesadas, diz Taciana. "As cadeiras de competição ocupam espaço, não desmontam, grudam uma na outra e é difícil da gente puxar e desenganchar."

Também é necessária uma eficiente etiquetagem de cada equipamento, que ainda assim costuma ser perdido (ou se quebra). Normalmente o check-in dos atletas paraolímpico abre uma hora antes do habitual e eles também passam por raio-x em local diferente, como explica Taciana. "O aeroporto precisa ter toda uma infraestrutura. Daí os embarques por Guarulhos, aqui no Brasl. O aeroporto que recebe também precisa estar preparado."

Em viagens tão longas, como para o Japão, alguns atletas têm de inserir uma sonda para urinar, porque não há como ir ao banheiro durante o voo. E como muitas vezes não há local, nos aeroportos, para inserir a sonda, atletas de outros países já foram vistos no chão do banheiro fazendo o procedimento.

O espaço exíguo dentro do avião também é um desafio. "As próprias cadeiras para entrar no avião são para bumbum tamanho PPP, e tem atleta que não cabe naquela cadeira."

Todos os atletas e paratletas brasileiros viajarão vacinados contra a covid-19 a Tóquio. Ainda assim, as profissionais dizem ser importante tomar medidas para minimizar ainda mais os riscos de contágio. No voo, não há cadeiras vazias entre passageiros. Taciana aconselha os atletas a usarem a máscara N95 ou PFF2, para maior segurança, mas diz que o foco das companhias aéreas é na renovação de ar. "Na pandemia, aperfeiçoaram a renovação para que se tenha um mínimo de casos", afirma.

Meia tonelada de equipamentos e remédios

"Tem equipamento fácil de carregar. A natação põe a sunga e a touca na mochila e foi embora. Agora, o pessoal do ciclismo... Uma handbike não desmonta igual a uma bicicleta, que você tira as rodas e fica com o quadro. Na handbike o quadro já é enorme, com mais de dois metros... Gigante", comenta Juliana.

Muitos atletas têm problemas que exigem tratamento com medicamentos e curativos, como no caso dos que têm problemas renais ou escaras de contato. "E não é só caixinha de remédio, não. São cases e cases dos medicamentos todos, cada um com seu formulário sobre o que tem dentro. Porque vão perguntar na chegada, quando pedirem a permissão de entrada."

Também há dificuldade no transporte local de atletas e equipamentos por falta de ônibus adequados e às vezes há necessidade de pequenos caminhões, elevadores para cadeiras motorizadas, que pesam 60 quilos.

Meta do Brasil é chegar no top 10

Alberto Martins, diretor técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), diz que a pandemia e o adiamento dos Jogos Paralímpicos tiveram grande impacto no comportamento e hábitos. Vários eventos, nacionais e internacionais, programados para a preparação dos paraolímpicos foram cancelados, o que resultou em prejuízo do lado técnico. Ainda assim, pelo planejamento do CPB, a meta é que o país se mantenha entre os dez primeiros do quadro geral de medalhas. No Rio, a delegação brasileira ficou em oitavo lugar.

A previsão do CPB é a participação, em Tóquio 2020, de 150 homens e 80 mulheres, ou em torno de 230 no total, com 193 garantidos até o momento. O Brasil tem vaga (algumas para o país, não nominais) em 14 modalidades: atletismo, bocha, canoagem, ciclismo, hipismo, futebol de 5, goalball (feminino e masculino), natação, remo, parataekwondo, tiro esportivo, tiro com arco, tênis de mesa e vôlei sentado (feminino e masculino).

"Tínhamos uma expectativa muito boa quanto ao desempenho dos brasileiros em Tóquio-2020, baseada nos resultados internacionais e nos rankings, como no caso da natação e do atletismo nos últimos Mundiais disputados, assim como a histórica participação no Parapan de Lima 2019. Com a pandemia e o cancelamento de eventos, alguns atletas também podem não ter voltado adequadamente aos treinos e não readquirido a mesma forma pré-pandemia", explica o diretor. "Mas, apesar das dificuldades, acreditamos em uma boa participação do Brasil."