África atrai interesse e conquista brasileiros em busca de futuras estrelas

Eram 23 minutos do primeiro tempo da final da Libertadores Sub-20 e o Flamengo perdia para o Boca Juniors. Até que o cruzamento de Lorran acabou nos pés de Shola e virou o gol de empate, abrindo caminho para a vitória e o título que garantiu vaga no Mundial da categoria.

O feito que iniciou a virada rubro-negra teve autor nigeriano. O jovem de 18 anos nasceu em Ifaki, bem distante do Rio de Janeiro. Mas cruzar o oceano para tentar a sorte no Brasil tem sido cada vez mais comum.

Eles já estão aqui

Pode não aparecer tanto ainda por causa da alta quantidade de sul-americanos, mas a chegada de africanos ao futebol brasileiro é realidade. Clubes como Botafogo, Flamengo, Fluminense, São Paulo, Ceará, Criciúma e Londrina possuem atletas de origem africana em seus grupos, principalmente nas categorias de base.

Segundo dados da CBF, são 26 africanos registrados atualmente no futebol brasileiro, sendo sete de Camarões, seis da Nigéria, cinco de Gana, três de Senegal e um de Angola, Togo, Benin, Gabão e Burkina-Faso.

O Tricolor já teve quatro africanos em sua formação. Hoje há um na base, King Faiasal (Gana), e outro no elenco principal, Iba Ly (Senegal).

O Botafogo tem dois jogadores de origem africana na base, mas que possuem dupla nacionalidade: Mbanza (Congo) e Adebayo (Nigéria). Além do zagueiro Bastos (Angola) no elenco principal.

"Hoje nós temos no Botafogo um departamento de captação estruturado e com processos bem definidos buscando a maior taxa de acerto possível. Nossos dois atletas, apesar de serem de origem africana, foram observados e captados aqui no Brasil. O Eduardo Adebayo está conosco desde os 7 anos de idade, oriundo da nossa parceria com o Núcleo Oficial de Escola de Futebol da TROPS. E o Mbanza chegou esse ano, após observarmos o atleta em uma passagem por outro clube aqui do Rio de Janeiro", contou Tiano Gomes, gerente de futebol de base do Botafogo. Mbanza, antes do Botafogo, passou pelo Vasco.

No Fla, Shola tem como companheiro outro nigeriano, o atacante Haruma Hassan no sub-20.

O Londrina teve no início da temporada a passagem do zagueiro Samuel Oti, nascido na Nigéria. Já o Ceará conta com os jovens Stanley Boateng e Steven Nufour, ambos com passagem pela seleção de base de Gana.

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"Os jogadores africanos vêm dando um exemplo profissionalismo. Acaba sendo superior ao profissionalismo dos brasileiros, que muitas vezes acham que vão resolver o jogo a qualquer momento. Já o africano treina com a mesma vontade que vai jogar e o mesmo profissionalismo. Isso está sendo visto por todos os clubes", contou Israel Portela, diretor das categorias de base do Ceará.

No outro lado da corda, o Criciúma foi atrás de alguém consolidado e anunciou Yannick Bolasie, experiente atacante congolês que fez carreira no futebol europeu.

Acredito que esse movimento tem ocorrido de forma natural, a globalização está cada vez mais forte e no futebol não é diferente. Nós estamos atentos a essa movimentação e acreditamos que no futuro teremos uma captação ainda mais voltada para esse cenário

Tiano Gomes, gerente de futebol de base do Botafogo

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Imagem: Felipe Santos/CearaSC

Como são encontrados?

Não há um padrão para a chegada de promessas africanas ao Brasil. O modelo mais comum de chegada é a observação em campeonatos ao redor do planeta, mas também acontecem convites de empresários ou apenas a iniciativa de procurar um lugar para jogar.

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Independentemente da forma que chegam, os jogadores africanos entrevistados pelo UOL são unânimes ao indicar o futebol brasileiro para seus compatriotas.

"Sim, claro indicaria o Brasil para qualquer pessoa que eu conheça da África ou do meu país jogar. O futebol brasileiro é muito bom e muito competitivo. É uma liga muito forte, de qualquer lugar que você esteja jogando", afirmou Johnson.

"Eu indicaria o Brasil para outros nigerianos porque é um ótimo lugar para começar a jogar, e também porque há grandes clubes no Brasil com ótima qualidade de locais de treinamento e estrutura. Além do país ter uma cultura de futebol e um jogo muito bonito", explicou Oti.

Estou muito feliz e tentando dar meu melhor para conhecer a cultura brasileira. Eu adorei as pessoas e o local. Ceará é um clube muito grande e eu estou sempre trabalhando para colocar o clube no melhor lugar possível. Eu recomendaria a vinda de ganeses para o Brasil. O Brasil é o país do futebol e tem muitos jogadores de qualidade

Steven Nufour, jogador do Ceará

Em todos os lugares

Não são apenas grandes clubes que apostam já chegada de jogadores africanos. Samuel Oti, 22 anos, cujo contrato está prestes a se encerrar com o Londrina, defendeu também a Inter de Limeira.

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Imagem: Ricardo Chicarelli/Londrina

"A adaptação não foi muito fácil, mas estou tentando. É um jogo diferente aqui, além do idioma... Mas estou tentando falar e entender melhor agora", disse. "Pretendo seguir aqui, o futuro está nas mãos de Deus. O sonho de todo jogador é atuar em clubes da Europa, mas o Brasil tem um futebol muito forte", completou.

Mais distante está Ifeka Johnson Chukwunonso, de 23 anos. Atualmente ele defende o Galvez-AC. Antes passou por Rio Branco, Parintins e Athletico Paranaense. Sua chegada ao Brasil foi repleta de problemas, como falta de pagamento, golpe e 'sumiço' de empresário.

"Continuarei trabalhando duro para mudar minha vida e a vida de minha família e amigos. Eu continuo perseguindo meu sonho. Esse é o meu plano. Não pretendo voltar agora (para África)", revelou ao UOL.

"Meu plano é trazer minha família. O Brasil é um país maravilhoso que oferece oportunidades para todos, não importa de onde você seja", completou Johnson.

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Imagem: Arquivo Pessoal
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Eu achei o povo muito amigável e isso me deixou muito feliz. Esse país é abençoado com uma natureza incrível e tem muitos lugares para visitar. Meu plano aqui é jogar no Brasil, mas ninguém sabe o que vai acontecer amanhã. Eu recomendaria para qualquer jovem de Gana vir jogar no Brasil porque o Brasil tem um futebol muito forte e tradicional. E também um clima sempre muito bom e ótima estrutura.

Stanley Boateng, jogador do Ceará

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