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Vai parar? Final da Libertadores pode ser ato final de Felipão como técnico

Luiz Felipe Scolari, o Felipão, durante Estudiantes x Athletico pela Libertadores - Luis ROBAYO / AFP
Luiz Felipe Scolari, o Felipão, durante Estudiantes x Athletico pela Libertadores Imagem: Luis ROBAYO / AFP
Lucas Musetti Perazolli e Marinho Saldanha

Do UOL, em Santos (SP) e Porto Alegre (RS)

31/10/2022 04h00

Luiz Felipe Scolari vai seguir trabalhando como técnico? Tal questionamento persistirá nos próximos dias. A final da Copa Libertadores pode ter sido último ato do pentacampeão pela seleção brasileira, que foi contratado pelo Athletico-PR para ser diretor e virou treinador numa necessidade. Com carreira vitoriosa e um estilo próprio, Felipão fez muito à beira do gramado, e agora pode migrar para fora dele.

"Já estou fazendo esse trabalho todos os dias no CT do Caju e fora também, com reuniões. Estou fazendo aquilo que foi proposto pelo nosso presidente [Mario Celso Petraglia], que eu imaginei que poderia fazer até o final do ano. Vendo o organograma do clube, vendo onde posso atuar nas categorias de base, onde posso influenciar com os treinadores... Uma série de detalhes", disse em entrevista coletiva concedida em junho.

Muito aconteceu desde então. No leme do Furacão, foi à final da Libertadores, mas não conseguiu conquistar o seu terceiro título continental ao ser superado pelo Flamengo por 1 a 0, no último sábado (29), em Guayaquil (EQU).

Pode ter sido o último ato de uma carreira vitoriosa. Scolari imagina que o fim do ciclo como técnico deve acontecer por opção dele, não por reflexo do mercado. A transição, já em andamento, não pode ser vista como definitiva, mas soa como conclusão do 'estilo Scolari'. A mudança se encaminha para a virada do ano. Em 2023, Felipão pode trocar o reservado pelos gabinetes da Arena da Baixada. Mas ele mesmo não foi definitivo sobre isso quando concedeu coletiva na véspera do jogo.

"Não, anos mais, não. Pode ter certeza que não. Vou conversar com minha família, naturalmente. Se nós conseguirmos a vitória amanhã [sábado], terei que conversar com uma pessoa, que é o Mario Celso Petraglia [presidente do Athletico], e saber o que ele quer. Vim para cá com duas situações, e uma delas pode ser resolvida amanhã. Claro que eu tenho que conversar com a minha família. Nesses anos eu já dirigi em sete países diferentes, em todos estiveram comigo meus familiares, eu convivo com eles há muitos anos", disse horas antes da decisão.

Empilhador de troféus

Felipão não foi um jogador de muito sucesso, mas sempre se destacou pela liderança. Perto do fim da carreira, iniciou a faculdade de Educação Física e o primeiro trabalho como treinador foi na base do CSA, clube onde parou como atleta, em 1980.

Do CSA, Felipão foi comandar o sub-20 do Juventude. Numa excursão do elenco profissional para a Ásia, o técnico Daltro Menezes teve problemas de saúde e Scolari assumiu. O desempenho foi irretocável: sete vitórias em sete jogos. No retorno ao Brasil, foi indicado pelo "fiel escudeiro" Flávio Murtosa e virou técnico do time principal do Brasil de Pelotas no Campeonato Gaúcho de 1983. O Brasil foi finalista daquele ano.

Como deixou boa impressão na excursão, Felipão foi contratado pelo Al Shabab, da Arábia Saudita. Ele foi vice-campeão no país onde trabalhou por três, anos, até voltar ao Juventude. O passo maior foi o convite do Grêmio. E o primeiro título foi o Gaúcho de 1987.

Felipão, técnico do Grêmio - Reprodução - Reprodução
Felipão, técnico do Grêmio
Imagem: Reprodução

Depois de passagem pelo Goiás, Felipão foi campeão na seleção do Kuwait, voltou para o Coritiba e ganhou notoriedade no Criciúma, onde foi o vencedor da Copa do Brasil de 1991. Scolari, então, retornou para o Oriente Médio e dirigiu Al-Ahli e Qadsia. Em 1993, o gaúcho reencontrou o Grêmio. E essa nova passagem foi marcante.

Felipão ganhou seis títulos em três anos e meio no Grêmio, três estaduais, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores. Na final do Mundial, perdeu para o Ajax (HOL). Em alta no Brasil, veio nova experiência no exterior, agora no Jubilo Iwata. A experiência no Japão durou pouco e o novo desafio seria o Palmeiras, em 1997.

No Verdão, Felipão teve outro trabalho longevo e de sucesso. Ele conquistou novamente a Copa do Brasil e a Libertadores, além da Copa Mercosul e do Torneio Rio-São Paulo. Na final do Mundial, o Palmeiras foi superado pelo Manchester United (ING).

Em 2000, Scolari foi eleito melhor técnico sul-americano por 200 jornalistas em votação do jornal "El País", do Uruguai. Depois do Palmeiras, ele assumiu o Cruzeiro, onde foi campeão da Copa Sul-Minas. E todo esse histórico de conquistas o levou à seleção brasileira em 2001. No ano seguinte, ganhou a Copa do Mundo com 100% de aproveitamento. 16 títulos em 26 finais.

Do Brasil, Felipão foi para a seleção de Portugal e também fez história. Em 2003, levou o time para a inédita final da Eurocopa, com o vice-campeonato para a Grécia. Portugal foi para a Copa de 2006 e esteve entre os quatro melhores. Scolari ficou até 2008, quando aceitou o convite do Chelsea (ING).

No Chelsea, o comandante só durou sete meses e interrompeu a sequência de trabalhos duradouros e vitoriosos. Frustrado, ele rumou para o Bunyodkor, do Uzbequistão. Lá, foi campeão invicto da liga.

Em 2010, Felipão voltou ao Brasil e venceu sua quarta Copa do Brasil. Em 2012, retornou para a seleção brasileira, ganhou a Copa das Confederações e ficou em quarto na Copa de 2014, quando o Brasil perdeu a semifinal para a Alemanha por incríveis 7 a 1.

Felipão orienta Portugal contra a França em 2006, quando perdeu por 1 a 0 - AFP PHOTO/ODD ANDERSEN - AFP PHOTO/ODD ANDERSEN
Felipão orienta Portugal contra a França em 2006, quando perdeu por 1 a 0
Imagem: AFP PHOTO/ODD ANDERSEN

Machucado, Felipão voltou para uma das suas casas, o Grêmio, em 2014, quando foi sétimo no Brasileirão e vice-campeão gaúcho em 2015. Daí veio outra aventura na Ásia, agora no Guanghzou Evergrande, da China. Ele ficou dois anos e meio e conquistou sete títulos.

Em 2018, Felipão dirigiu o Palmeiras pela terceira vez e foi campeão brasileiro. Em 2019, acabou demitido. No Cruzeiro, em 2020, livrou o time do rebaixamento à Série C. No ano seguinte, Scolari voltou para o Grêmio, onde fez um trabalho ruim e foi desligado. E desde maio de 2022, o experiente técnico está no Athletico.

Fiel às suas casas, Felipão alternou entre Cruzeiro, Grêmio e Palmeiras no Brasil, até que o Athletico de Petraglia insistiu pela sua contratação. Ele chegou como coordenador, mas assumiu o time por período indeterminado e foi ficando, ficando, ficando, até chegar em nova final de Libertadores.

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