Topo

Santos

Santos economiza no futebol feminino e perde protagonismo após criar legado

Kleiton Lima, técnico das Sereias da Vila - Divulgação/Santos FC
Kleiton Lima, técnico das Sereias da Vila Imagem: Divulgação/Santos FC

Do UOL, em Santos (SP)

08/10/2022 04h00Atualizada em 08/10/2022 10h20

As Sereias da Vila construíram uma tradição no futebol feminino. O Santos da Rainha Marta empilhou títulos nacionais e fez a Conmebol criar a Libertadores para a categoria. O Peixe sediou a competição e foi o primeiro campeão, em 2009. Atualmente, porém, o cenário é bem diferente.

Com dois títulos da Libertadores, dois da Copa do Brasil, um do Brasileiro e quatro estaduais, o Santos não é protagonista desde 2017, quando foi campeão nacional em cima do Corinthians. Desde então, o Peixe não passa das quartas de final e, neste ano, caiu na primeira fase.

"Me perdoem, vocês não mereciam a campanha vergonhosa que nós fizemos nessa competição", disse a multicampeã Cristiane, na eliminação em agosto.

Em baixa, o Santos trouxe de volta o técnico Kleiton Lima, maior vencedor da história do futebol feminino do Peixe e comandante da geração de Marta. Na prática, porém, Kleiton não encontra um terreno igualmente fértil.

O Santos tem bons valores como Cristiane, Brena, Thaisinha e Ketlen, mas o elenco não está à frente de outras equipes, como Corinthians e Internacional, atuais finalistas do Campeonato Brasileiro. O investimento do Peixe é mais baixo que os principais concorrentes e também menor em relação à primeira passagem de Kleiton Lima no clube.

Na última reunião do Conselho Deliberativo, realizada na terça-feira (4), o presidente Andres Rueda abriu o balanço financeiro do Santos e mostrou quanto gasta com cada categoria por mês. Ele só relacionou as jogadoras profissionais e mostrou o valor de R$ 229,600,00 para 26 atletas. A média salarial, então, é de R$ 8,8 mil.

A categoria sub-20 masculina, formada por atletas não profissionais, custa R$ 497.200,00 por mês, para 42 jogadores. A média no sub-20 é superior às Sereias: R$ 11,8 mil por mês.

Outro efeito de comparação é o salário de Bryan Angulo, o maior vencimento do Santos atualmente. O centroavante reserva custa R$ 500 mil por mês, somando-se luvas e comissão parcelados. Só ele equivale a mais que o dobro das Sereias da Vila.

O Santos ainda conta 39 jogadoras na sua base feminina, que o clube chama de "Sereinhas da Vila". O Peixe perdeu talentos para concorrentes nos últimos meses e tem cautela para promover destaques, como é o caso da atacante Isa Viana, de 17 anos.

O Peixe aposta na capacidade de Kleiton Lima para melhorar o desempenho do atual elenco e revelar talentos, mas a estrutura é considerada aquém das expectativas por quem convive com a categoria. A comissão técnica é enxuta e faltam profissionais no departamento de saúde e análise de desempenho, por exemplo.

O investimento do Santos é pequeno, mas clubes que gastam menos, como o Real Brasília, foram mais longe no Campeonato Brasileiro Feminino. Além do custo baixo do elenco, o Peixe apresenta problemas de gestão e dá pouca atenção para as Sereias da Vila. O presidente Andres Rueda acumula a função de executivo de futebol e está sobrecarregado. A responsável "solitária" pelo time é a coordenadora Aline Xavi.

A economia no futebol feminino, somada a problemas de gestão, faz o Santos não disputar uma semifinal de Campeonato Brasileiro desde 2017 e sofrer uma goleada recente de 5 a 0 para o São Paulo, em plena Vila Belmiro. O Peixe trouxe um técnico vencedor, mas ele sozinho pode não ser suficiente para o resgate da tradição das Sereias da Vila.

Santos