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Santos diz que demitiu funcionário por tentativa de suborno a rival

Andres Rueda, presidente do Santos, na Vila Belmiro - PEDRO ERNESTO GUERRA AZEVEDO
Andres Rueda, presidente do Santos, na Vila Belmiro Imagem: PEDRO ERNESTO GUERRA AZEVEDO

Lucas Musetti Perazolli e Thiago Braga

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

20/06/2022 14h21Atualizada em 20/06/2022 23h02

O presidente do Santos, Andres Rueda, denunciou hoje (20) uma tentativa de suborno de um funcionário do clube a uma jogadora do Red Bull Bragantino. A ideia era manipular o resultado do primeiro tempo da partida pelo Campeonato Brasileiro Feminino. O jogo terminou empatado em 1 a 1 ontem (19), na Vila Belmiro. O placar no intervalo era de 1 a 0 para a equipe de Bragança Paulista.

Esse profissional do Peixe procurou um colaborador do Bragantino para fazer a ponte com uma das atletas do rival. A jogadora recusou a possibilidade imediatamente e avisou seus superiores. Os funcionários do Santos e Red Bull Bragantino foram demitidos.

O Santos não confirma oficialmente, mas o UOL Esporte apurou que o funcionário demitido é o preparador de goleiras Fabrício de Paula. Ele nega a tentativa de suborno.

"Já mandei tudo para o meu advogado. Mas já te garanto que entreguei uma capa de chuva para a Adeli [árbitra]. E sobre a atleta, foi uma confusão de interpretações... Estarei sempre aberto para esclarecimentos, até porque o Santos me demitiu sem ao menos me ouvir".

"Ele está depressivo em casa porque foi injustamente acusado sem ter sido ouvido pelo clube e sem direito à defesa. Ele ficou sabendo pela imprensa", falou o advogado Higor Marcelo Maffei Bellini,, antes de revelar que processará o Santos e o Red Bull Bragantino.

Rueda afirma ter provas contra o preparador de goleiros e acredita em um esquema maior de corrupção.

"Talvez seja a cabeça do iceberg do que acontece no nosso futebol. Talvez por isso tantas reclamações. Um funcionário do Santos, do futebol feminino, se utilizou de um intermediário de um Bragantino para subornar uma jogadora para um resultado elástico no primeiro tempo para efeito de apostas", afirmou Rueda.

"Como o Bragantino já estava desclassificado, tentou-se esse suborno. A jogadora prontamente recusou a proposta, comunicou seus superiores e entraram em contato comigo, apresentando inclusive propostas materiais, com prints de conversas. Tão logo chegou ao nosso conhecimento, junto com o presidente do Bragantino, tomamos algumas providências. De imediato, demitimos por justa causa um dos envolvidos. Oficiamos a CBF e colocamos provas e prints, com uma passagem inclusive do início do jogo."

Em nota oficial, o Red Bull Bragantino corroborou a versão contada por Rueda. "A atleta da nossa equipe foi contatada, por meio de mensagens, com uma proposta de suborno para combinação de determinado resultado. A jogadora prontamente recusou e informou aos superiores, que se certificaram em manter a lisura do jogo e encaminharam a denúncia a nossa diretoria. Assim que cientes, tomamos todas as medidas interna", escreveu a assessoria do clube.

"Assim que cientes, tomamos todas as medidas internas, entramos em contato com o Santos para apresentar as provas do acontecido, e os dois clubes entregaram o material às autoridades competentes", continuou o comunicado.

Investigação ampla

O presidente do Santos, depois, dedicou alguns minutos para levantar questionamentos sobre o que poderia ser uma suposta "podridão" do futebol brasileiro.

"Tudo isso nos faz pensar: para onde está indo nosso futebol? Todo o trabalho, no âmbito desportivo e financeiro, e como todos os clubes sofrem, pode não valer nada quando elementos estranhos tentam... Querem conseguir alterar os resultados das partidas. Todos estão reclamando sobre a arbitragem e ninguém entende. Talvez agora as coisas comecem a ficar mais claras. Vamos solicitar à toda comunidade que quer o bem do futebol: imprensa, clubes, CBF, FPF... Que se juntem e exijam imediatamente a profissionalização da arbitragem e investigação em todas as séries do futebol brasileiro para apurar se os eventuais erros realmente são erros", completou.

Rueda também relatou que o mesmo funcionário demitido do Santos teria entregado um envelope para a quarta árbitra Adeli Mara Monteiro na presença da juíza Marianna Nanni Batalha. O documento foi guardado no bolso de Adeli. O presidente do Peixe não sabe se os fatos estão correlacionados e aguarda investigação.

"O funcionário deu envelope para a quarta árbitra na frente da juíza. Abrimos um boletim de ocorrência também para apuração criminal dos fatos. E estamos preparando material para encaminhar ao Ministério Público".

O presidente Andres Rueda não falou nome ou cargo do funcionário demitido e citou o avanço dos negócios das casas de apostas no mercado do futebol nacional como fator a ser considerado. O próprio clube da Baixada tem a Pixbet como patrocinadora.

"Está sob investigação. Eu prefiro não tornar público agora para não atrapalhar. Temos que pensar um pouco. Mais do que casa de apostas, eu tenho receio do apostador. Existe uma máxima: não tinha coisa mais séria que a banca do jogo do bicho. Quem é da velha guarda sabe. Isso vale para as apostas. Gira tanto dinheiro que não faz sentido quem organiza participar. Eu fico mais preocupado com os apostadores", comentou Rueda.

"Não vou julgar. Quem julga é a lei, então não vou dar mais informações. Esse funcionário demitido do Santos [do departamento de futebol feminino] acessou um funcionário do Bragantino para chegar à jogadora. Esse funcionário [do Bragantino] também foi demitido", concluiu.

Nota da CBF

A CBF recebeu a denúncia hoje (20). "Como procedimento padrão em casos como este, encaminhará ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para a apuração completa dos fatos narrados", afirmou a confederação.

Nota oficial da defesa de Fabrício de Paula

"O Preparador de goleiras Fabrício de Paula vem por meio de seu advogado, Higor Marcelo Maffei Bellini, esclarecer os seguintes pontos em razão dos pronunciamentos efetuados pelos presidentes de Santos Futebol Clube e Red Bull Bragantino por meio da imprensa, na data desta segunda-feira (20 de junho de 2022):

A defesa do profissional assegura que o mesmo foi injustamente acusado de suborno, seja pela atleta ou seja pelos clubes, tendo sido, inclusive, demitido por Justa Causa sem mesmo que tivesse a chance de se defender e de se explicar ao empregador.

A defesa do sr. Fabrício, entretanto, reitera que o profissional não possui qualquer ligação com sites de apostas, jogos de azar ou coisas correlatas. Portanto, quaisquer insinuações nesse sentido são meras especulações, sem fundamento algum, que podem ter sido cogitadas, inclusive, possivelmente por um erro de interpretação - pois, de fato, Fabrício tentou contatar a atleta do time adversário em questão, mas por motivos completamente diferentes (que serão explicados detalhadamente nos tópicos a seguir).

O que houve é que, como é comum no meio do futebol, o sr. Fabricio foi ao hotel onde estava o Red Bull Bragantino para encontrar com um amigo que trabalhava naquela equipe. Nada incomum, afinal, para quem conhece os bastidores do futebol, é natural que membros de comissão-técnica rivais mantenham contato direto (como em qualquer outra profissão, ter amigos em empresas concorrentes).

Durante esta conversa do senhor Fabrício com este profissional do Red Bull Bragantino, foi falado que a goleira era uma ótima profissional e, apesar da campanha do time não ser das melhores, ele entendia que a atleta é uma profissional de alta qualidade e, portanto, tinha interesse de contatá-la para atura com ele, nada demais. Tendo sido inclusive pedido o contato do intermediário da atleta, para poder falar com ele.

Vale ressaltar e enfatizar ainda que a conversa em questão, aconteceu no salão do hotel, a vista de todos os presentes (fossem hospedes comuns do hotel ou ainda integrantes da equipe do Red Bull Bragantino). Então, desta forma, foi, sim, solicitado o contato da goleira, após uma conversa presencial, para terminar o diálogo.

A defesa do profissional ressalta que quando da apresentação das suas conversas via aplicativo de mensagem, em juízo, ficará comprovado que nada de anormal, existiu. E que ainda a mensagem foi mal interpretada, já que a atleta não entendeu que a intenção era a contratar como profissional.

Desta forma, quanto a este 'dossiê' enviado pelos próprios clubes envolvidos à CBF (Confederação Brasileira de Futebol), segundo o que foi veiculado, a defesa do sr. Fabrício tem total convicção de que a verdade será trazida à luz e tudo será esclarecido da melhor forma. Sendo provada a sua inocência no curso do processo a ser movido, pelo Senhor Fabricio.

Há de se esclarecer e rebater ainda que foi aventada uma hipótese de que o preparador de goleiros, durante a partida em questão (Santos 1x1 Bragantino), teria entregue um "envelope" à quarta árbitra da partida quarta árbitra, Adeli Mara Monteiro, na presença da juíza, Marianna Nanni Batalha.

De fato, foi entregue, mas era uma simples capa de chuva; portanto, não se sabe de onde foi tirada essa absurda associação ao lamentável episódio de acusação de suborno. A defesa ressaltada ainda que, na própria súmula da partida (documento oficial da CBF), não há relato de nenhuma ocorrência em especial.

Entretanto, para aqueles que veem o sr. Fabrício entregando a capa de chuva durante a partida após terem lido seu nome em matérias associado (mesmo que injustamente), automaticamente associam o trecho do vídeo a um suposto episódio de má fé; o que, definitivamente, não houve e as imagens falam por si só. Motivando assim os processos judiais a serem apresentados.

Tanto a defesa do sr. Fabrício como o próprio profissional lamentam a forma com que as agremiações conduziram a situação, de forma precipitada e leviana, sem mesmo ouvir o lado do preparador de goleiras, o que culminou em uma demissão por Justa Causa, trazendo prejuízos ao profissional, principalmente à sua imagem, agora maculada e que certamente o prejudicarão no mercado do futebol.

Por isso, serão tomadas todas as medias judiciais, sejam as trabalhistas, civis e criminais contra todos os envolvidos que ofenderam a honra e a moral do sr. Fabrício, visando reparar os danos causados".

As árbitras

O UOL Esporte tentou contato com as árbitras Adeli Mara Monteiro e Marianna Nanni Batalha. Se houver resposta, o texto será atualizado.

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