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Família Tite: como seleção usa data Fifa longa para criar ambiente ideal

Jogadores da seleção brasileira se divertem durante treino da seleção brasileira - Lucas Figueiredo/CBF
Jogadores da seleção brasileira se divertem durante treino da seleção brasileira Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Danilo Lavieri

Do UOL, em Seul (Coreia do Sul)

31/05/2022 12h13

"Na seleção a minha cabeça fica sempre boa. Aqui já é minha casa". A frase é de Richarlison, logo após um pequeno desabafo sobre a temporada exaustiva que teve ouro olímpico, luta contra o rebaixamento na Premier League, lesão e a expectativa de voltar a ser convocado por Tite. Ela reflete muito bem o que praticamente todos os jogadores têm falado durante a concentração para os jogos contra a Coreia do Sul e Japão.

Reunidos desde o último dia 26, a seleção aproveita uma Data Fifa mais longa que o normal para tentar criar um ambiente de família, aproveitando, inclusive, que o pré-Copa será menor do que normalmente é pelo fato de a competição ser disputada no meio da temporada europeia. Muito marcada pela "Família Scolari" em 2002, a torcida brasileira ouvirá cada vez mais a expressão "Família Tite" daqui para frente. Quem sabe o resultado não é novamente levantar o título?

Muito além da questão tática de enfrentar seleções que não são apenas da América do Sul, essa data serve para unir os atletas. Unidos em um city tour que serviu para acelerar a adaptação ao fuso ou até mesmo no passeio no parque e na balada durante a folga de sábado, eles fortalecem os laços além dos gramados. E isso faz parte da estratégia da comissão técnica.

O prazo de reunião era para ser cinco dias maior. Não acabaria no dia 6, após a partida contra o Japão, mas no dia 11, no jogo que originalmente seria contra a Argentina na Austrália. O confronto com os hermanos foi cancelado, mas a ideia foi mantida. E ao menos no discurso dos atletas têm dado certo.

"É a família, todo mundo alegre. Aqui estão os melhores de cada clube, a melhor comissão que temos. A gente se sente bem, é um clima leve, a gente é acostumado com vitórias aqui na seleção. Então é totalmente diferente do clube, porque lá a gente convive todo dia. Aqui, a gente fica duas, três semanas e vai embora. Bate até a saudade depois. E quando a gente volta é a alegria por isso que a gente fica feliz e o clima é tão leve", disse Richarlison. "Aqui o Pombo tá voando", brincou.

Bruno Guimarães, um dos mais novos no grupo, fala até mesmo da diferença que faz poder falar apenas português durante a concentração com seus colegas.

"Pegando exemplo meu e do Pombo, a gente não fala inglês muito bem, então quando está lá não fala com muita gente. Aqui falamos com todo mundo, estamos sempre zoando, sempre rindo, sempre um no quarto do outro brincando, então você se sente bem, se sente à vontade. É primordial estar bem para dentro de campo se sentir à vontade", explicou.

Atletas da seleção brasileira se divertem durante treino na Coreia do Sul - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

"Nas minhas primeiras duas convocações eu estava nervoso para caramba, agora me sinto em casa, me sinto feliz, já fico zoando com todo mundo. Quando você se sente em casa, seu futebol melhora. Não à toa, nas últimas três partidas dei três assistências, fiz um gol, isso é bom, é legal", completou.

Aos 31 anos, Alex Sandro é mais veterano, mas gosta de sentir o clima de excursão de escola. Com experiência em Portugal e na Itália e título pela seleção, ele destaca que esses momentos de concentração são os que ficam na memória dos atletas. "São esses momentos que ficam marcados para todos nós", resumiu o lateral esquerdo.

Neymar tem tido papel importante nessa formação de família ao assumir o papel de um dos líderes do elenco. No city tour, andou com os mais novos, como Gabriel Martinelli. Nos treinos, conversa com os mais velhos, como Thiago Silva e Daniel Alves, inclusive com direito a apostas que terminam sempre em risadas. No parque de diversões, não deixou ninguém ficar com medo da montanha russa.

Gabriel Magalhães, por exemplo, precisou desse empurrãozinho para encarar a brincadeira. O zagueiro do Arsenal não é grato só por isso, mas também pela compreensão dos colegas quando pediu dispensa da seleção para ver sua filha nascer.

"Quando minha filha nasceu, eu entrei em contato com o pessoal, eles entenderam da melhor forma. É um grupo muito forte. É uma família. E fiquei feliz com a resposta. Eu sou muito grato ao professor, ao Juninho... É muito bom ver que eles não pensam só no agora, pensam na gente e pensam lá na frente", afirmou o atleta.

Vinícius Júnior se apresentou com atraso por causa da final da Liga dos Campeões e foi recebido com aplauso de todos após ter feito o gol do título. Danilo, do Palmeiras, é o novato, mas recebeu apoio do grupo até na hora de preparar uma canção para o trote.