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Textor foi skatista 'top' e integrou time lendário do esporte nos anos 70

Em sua juventude na década de 70, John Textor foi um skatista respeitado nos Estados Unidos e conviveu com lendas do esporte - Arquivo Pessoal
Em sua juventude na década de 70, John Textor foi um skatista respeitado nos Estados Unidos e conviveu com lendas do esporte Imagem: Arquivo Pessoal

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

08/04/2022 04h00

Flórida, Estados Unidos, julho de 1978. A cidade de Tampa fervia com o crescimento do skateboard no país e vivia uma tarde de verão animada onde recebia o "The Pepsi Skateboard Team Challenge", o torneio patrocinado pela famosa marca de refrigerantes.

Entre os competidores, um menino loiro, de bochechas avermelhadas e apenas 12 anos, roubaria a cena para vibração do público. Aliando técnica e ousadia sobre as quatro rodinhas, ele se tornaria o campeão na categoria freestyle e ainda abocanharia o terceiro lugar no bowl.

Os presentes mal poderiam imaginar que, 44 anos depois, aquele destemido garoto se transformaria em um bilionário homem de negócios que, entre seus diversos investimentos, se tornaria dono de um dos mais tradicionais clubes de futebol do Brasil: o Botafogo.

Antes de encarar as aventuras do business, era vivendo o lifestyle e a competitividade do mundo do skate que John Textor - dono da SAF alvinegra - curtiu sua adolescência e início de juventude.

E como tudo o que encara em sua vida, o americano não levou o esporte radical à meia-boca. Ele foi um dos bons skatistas nos primórdios da modalidade, que anos depois ganharia popularidade e milhares de fãs e praticantes.

Edição de outubro de 1978 da "National Skateboard Review", em seu volume 8, destaca o desempenho de Textor em torneio - National Skateboard Review - National Skateboard Review
Edição de outubro de 1978 da "National Skateboard Review", em seu volume 8, destaca o desempenho de Textor em torneio
Imagem: National Skateboard Review

Textor, inclusive, chegou a integrar a lendária "The Sims Skateboarders", uma das mais conceituadas equipes daquela época. O site especializado "Indo Board", por exemplo, resume o que ela representava:

"Composta por Mike Folmer, Scott 'Red' McCranels, Chris West, Chuck Lagana e John Textor, dominou a cena de competição de skate da Flórida no final da década de 70".

Já o livro "A Secret History of the Ollie", de Craig Snyder, considerado uma referência no mundo do skate, destaca que Textor foi "um dos poucos que superou o octacampeão mundial Rodney Mullen em competições de freestyle durante a virada dos anos 70".

Textor também é citado na edição de outubro de 1978 da "National Skateboard Review", em seu volume oito, quando é destacado o torneio "Pepsi Nova Team Challenge", que ocorreu entre os dias 2 e 3 de setembro daquele ano.

A revista diz que 92 competidores estavam presentes de diversas regiões dos Estados Unidos e que Textor foi o principal destaque de sua categoria, o sub-12, somando as diversas modalidades que os skatistas foram submetidos. Segundo a publicação, uma premiação de US$ 4 mil foi distribuída entre os finalistas.

Equipes de skate eram comuns na década de 70

Equipe "The Sims Skateboarders", que John Textor integrou, foi uma das mais famosas da Flórida na década de 70 - Sims Skateboards - Sims Skateboards
Equipe "The Sims Skateboarders", que John Textor integrou, foi uma das mais famosas da Flórida nos anos 70
Imagem: Sims Skateboards

As equipes de skatistas eram algo muito comum e tradicional nos Estados Unidos na década de 70. Empresários reuniam os meninos mais talentosos, montavam seus times e os inscreviam nos torneios pelo país, angariando torcidas e criando rivalidades, caso da The Sims Skateboarders, de John Textor.

"Nos anos 70 e início dos anos 80, havia uma cultura de se andar em competições de skate uniformizados, como era o caso da marca Sims, da G&S (Gordon & Smith), Makaha, Logan Earth & Ski, Powerflex, Free Former, enquanto no Brasil tínhamos a DM/Pepsi, Costa Norte e Lightining Bolt, que faziam o mesmo. E também todos usavam joelheiras, cotoveleiras e capacetes. Com o passar do tempo houve uma mudança de comportamento, mas isso não existe mais, apenas nas Olimpíadas [com os skatistas representando seus países]", explicou o colunista do UOL Esporte especializado em skate, Paulo Anshowinhas.

O período, inclusive, foi retratado em documentários e filmes, sendo os mais famosos abordando a equipe Zephyr, da Califórnia, com o documentário "Dogtown & Z-Boys" e o filme "Os Reis de Dogtown". Ambos contando as histórias da época e do time formado por figuras que se tornariam lendárias posteriormente como Tony Alva, Stacy Peralta, Jay Adams, Shogo Kubo, entre outros.

Lesão fez Textor parar, mas depois ele comprou a Sims

John Textor, dono da SAF Botafogo, em visita ao Nilton Santos -  Vitor Silva/Botafogo -  Vitor Silva/Botafogo
John Textor, hoje com 56 anos, tornou-se um bilionário empresário do ramo do entretenimento e dos esportes
Imagem: Vitor Silva/Botafogo

John Textor seguia com sua carreira promissora no skate até meados da década de 80, mas uma grave lesão na cabeça durante uma competição — que o deixou internado no hospital — o fez parar. Segundo o próprio, a aposentadoria precoce o forçou a focar nos estudos e se interessar pelo mundo da tecnologia, ramo onde construiria seu império.

A paixão pelo skate, porém, nunca o deixou, e a forma que o fez continuar ainda ligado ao esporte foi, anos depois e já estruturado financeiramente, comprar a "The Sims".

A marca, inspirada em seu fundador, Tom Sims, também se tornaria pioneira no mundo do snowboard, virando uma referência para o esporte e sendo responsável por criar o primeiro campeonato mundial da modalidade.

Especialidade de Textor, freestyle volta a ganhar força

Skatista Wesley Freitas durante Campeonato Brasileiro de Freestyle realizado em março deste ano, em São Paulo - Roger Til / CBSK - Roger Til / CBSK
Skatista Wesley Freitas durante Campeonato Brasileiro de Freestyle realizado em março deste ano, em São Paulo
Imagem: Roger Til / CBSK

Embora competisse em outras modalidades também, John Textor se destacava mais na freestyle, que era muito tradicional nas décadas de 70 e 80. Com o tempo, porém, ela foi perdendo espaço para o bowl, o park, o vertical e o street, mas recentemente voltou a ganhar força, tanto no exterior quanto no Brasil.

"O freestyle continua em atividade e virou moda atualmente no Japão com nomes como Isamu Yamamoto, um grande ídolo do momento, e é uma modalidade com grande número de mulheres praticantes. Tem um campeonato mundial no Canadá, em Vancouver, o World Round Up, e o Brasil sempre está entre os melhores do mundo. Recentemente ocorreu a primeira etapa do Campeonato Brasileiro em São Paulo, em várias categorias", explicou Anshowinhas.

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