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Lateral ou zaga? Léo se dispõe a ambas e deixa escolha com Ceni no SPFC

Léo, lateral do São Paulo, contra o Santo André; Ao fundo, o técnico Rogério Ceni observa a jogada - Miguel SCHINCARIOL/SÃO PAULO FC
Léo, lateral do São Paulo, contra o Santo André; Ao fundo, o técnico Rogério Ceni observa a jogada Imagem: Miguel SCHINCARIOL/SÃO PAULO FC

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

07/03/2022 04h00

Não tem sido fácil determinar uma posição para Léo nos últimos anos. Revelado nas categorias de base do Fluminense como lateral-esquerdo, ele virou zagueiro nas mãos de Fernando Diniz no São Paulo. Passados quase dois anos da mudança e em seu terceiro técnico no Morumbi desde então, o jogador de 25 anos tem revezado nas duas funções sem reclamar.

"O bom de disputar posição em duas funções é que se fecha o espaço em uma, você tem opção na outra. Mas eu sempre tento me adaptar onde me colocam. Aprendi que a gente tem que vivenciar o futebol, acumular experiências para poder evoluir. No começo, eu achava que tinha que evoluir como lateral, mas depois entendi que a evolução tem que ser como atleta", explica em entrevista ao UOL Esporte.

Léo foi titular absoluto do São Paulo no ano passado quando Hernán Crespo optava por atuar com três zagueiros. Nas mãos do treinador argentino, ele chegou a usar a braçadeira de capitão e levou para casa o prêmio de melhor jogador no empate por 0 a 0 com o Corinthians, na Neo Química Arena. Na ocasião, anulou os avanços de Gustavo Mosquito.

Com Rogério Ceni, Léo tem revezado mais. Na temporada passada, atuou quase sempre como zagueiro. Com a virada do ano, voltou para a posição de origem. Foram seis jogos até aqui, sendo quatro deles como lateral - as exceções foram a estreia contra o Guarani, quando fez dupla de zaga com Diego Costa, e o clássico de sábado contra o Corinthians, em que atuou ao lado de Arboleda.

Léo, durante a partida do São Paulo contra a Inter de Limeira - Paulo Pinto/São Paulo FC - Paulo Pinto/São Paulo FC
Imagem: Paulo Pinto/São Paulo FC

A polivalência dele tem sido bastante explorada por Ceni. Diante da Inter de Limeira, ele começou como lateral, mas com a função quase de um ponta. No segundo tempo, Reinaldo entrou em campo e Léo foi deslocado para a zaga. Já contra o Corinthians, começou como zagueiro e foi para a lateral quando Diego Costa entrou no lugar de Welington.

"O jogo contra a Inter de Limeira mostra que o Rogério vai me usar da maneira que o jogo pede. Pode ser que daqui a pouco ele me coloque de zagueiro novamente, e depois volto para a lateral. Eu estarei sempre ali para poder ajudar e fazer o meu melhor em qualquer uma das posições".

Depois do empate sem gols com o Campinense pela Copa do Brasil, Rogério Ceni afirmou que pretendia utilizar Léo nas duas funções. De acordo com ele, as escalações nas laterais dependem das características dos atletas. Quando Rafinha é titular pela direita, a tendência é de que opte por um jogador mais defensivo na esquerda, como é o caso do camisa 16.

"Eu tento combinar para que não fique um time que não tenha ao menos um dos laterais com muita vitalidade. Um mais construtor e um com mais vitalidade. É isso que eu tento fazer, dar equilíbrio para o time. Se eu gostaria dos dois mais técnicos, Reinaldo e Rafinha? Sim, mas eu tenho que mesclar para ter um time com opções de chegada no fundo e construção por dentro", explicou Ceni.

Em sua quarta temporada com a camisa do São Paulo e com contrato renovado até 2024, Léo se considera um jogador melhor por ter aprendido a atuar em uma nova função. Durante a conversa, ele lembrou das dicas dadas pelos outros zagueiros do elenco que o ajudaram a se acostumar com as diferentes movimentações que as funções exigem.

"Quando eu fui para zagueiro, foi um momento meio assustador para mim, eu tive que me reinventar. Mas depois eu comecei a gostar, porque eu vi que era possível, sabe? E foi possível. A gente foi campeão paulista jogando naquela posição, e, para mim, foi muito especial. Estar no São Paulo para mim é muito especial. Eu estou feliz. Onde me colocar, onde eu puder ajudar, vou estar disponível sempre".

Confira outras declarações de Léo sobre as duas posições, o momento do São Paulo e a opção por se afastar das redes sociais:

A partida contra o Corinthians, em que você foi eleito o craque do jogo, marcou a sua consolidação como zagueiro?

Foi um dos jogos que meio que cravou essa consolidação, mas tiveram outros jogos também. Quando me colocaram na posição de zagueiro, eu comecei a pesquisar, procurar saber como são os detalhezinhos. Querendo ou não, mesmo você sendo lateral, você sendo um marcador, quando você vai para a zaga, é uma forma diferente de se posicionar.

Eu pesquisava muito. E o Arboleda me ajudava, o Bruno Alves me ajudava, o Diego me ajudava, o Rodrigo Freitas também. Foram pessoas que foram muito importantes na minha trajetória para zagueiro. Depois chegou o Miranda e me deu um monte de conselhos.

Todos esses zagueiros que eu joguei me ensinaram e me ajudaram de alguma forma. E eu estava sempre disposto a ouvir tanto o mais velho quanto o garoto que subiu da base, que era o caso do Diego: era mais jovem, mas eu também escutava ele porque desde a base ele jogava naquela posição.

Algum conselho que eles deram te marcou?

O gesto de correr, de não ficar de frente, mas posicionar o corpo lateral ou para subir ou para correr e não ter que virar corpo, porque você perde uns segundos para o atacante. Então você já condicionar o seu corpo tanto para correr quanto para subir é um detalhezinho que parece meio que besta, mas é um negócio que fiquei muito atento assim. Quando a bola é lançada para o centroavante, estar com o corpo posicionado lateralmente foi um dos detalhes importante para mim.

É um jogador melhor hoje por dominar duas posições?

Sim, porque vai pegando informações, o dia a dia vai te ensinando, você vai ficando mais experiente, vai aprendendo melhor os atalhos no campo. Quando jovem, você fica querendo aparecer, mas depois que você vai estudando, ouvindo conselhos dos jogadores, do zagueiro ao seu lado, do treinador, da comissão, e você vai vendo outros jovens, você vai evoluindo. E quando você quer evoluir, essa evolução vem um pouquinho mais rápida.

Você disse que estudou muito quando mudou de posição. Como era essa rotina?

Eu pesquisava muito o Alaba. Sempre deixo claro que não é uma comparação técnica, mas acho ele um jogador muito interessante, porque ele joga de lateral, zagueiro, já vi jogando de volante, meia, daqui a pouco está de ponta. Ele é impressionante. Parece que ele nunca está improvisado, parece que ele realmente sabe fazer aquilo. Foi um atleta que eu prestei muita atenção.

O Thiago Silva foi um atleta que eu prestei muita atenção. Tem um do Chelsea [Rudiger] que faz um tempo que eu venho observando ele. É um zagueiro que eu passei a observar bastante. Vendo, pesquisando. Depois comecei a ver os times que estavam jogando com três zagueiros. Se não me engano, até o Barcelona estava jogando com três zagueiros com outro técnico.

Começou essa onda de três zagueiros e eu comecei sempre a observar quem jogava pela esquerda. Foi muito interessante para mim, foi uma experiência muito legal.

Como tem sido a disputa com o Reinaldo na lateral esquerda?

É bem saudável. Estou indo para o meu quarto ano no clube, é uma relação muito boa. Tem o Welington também, que é da base. Nós nos respeitamos muito. Esse grupo do São Paulo é muito especial porque é um grupo que é muito unido, muito fechado.

Pode ver que o grupo passou por momentos bons, momentos ruins e você vê pouca coisa. Porque é um grupo que realmente está fechado no momento bom, no momento ruim. É um grupo que se fecha bastante.

Estou há quatro anos aqui, graças a Deus o grupo é maravilhoso. Me dou super bem com os jogadores que concorrem comigo. Tenho um prazer muito grande, aproveito cada dia e cada momento do São Paulo. Tem que aproveitar. Um clube do tamanho que estou hoje, tem que aproveitar cada dia e cada momento. O São Paulo é muito grande.

Rogério Ceni reclamava que o grupo era muito calado. Vocês identificavam isso também?

Ele cobra bastante a gente para a comunicação, para falar, para tudo. E é muito importante quando se comunica em campo, quando um cobra o outro em campo. Cobrar, falar, um incentivar o outro, isso dentro do campo é muito importante.

Hoje você consegue falar bastante em campo e no vestiário?

Eu tenho uma característica minha: eu falo mais no momento que eu acho que tem que falar. É para tudo na vida. Quando eu vou dar uma entrevista, eu pergunto ao assessor qual será o tipo de entrevista, qual o tipo de conversa. O que eu falar, eu quero falar coisas que eu realmente penso, não coisas que ficam só enchendo. Quero falar coisas que realmente eu vivi, eu vivenciei, eu aprendi. Eu não abro a boca para falar coisas por falar. A minha característica é de falar no momento que eu acho que tem que falar.

Perfil do grupo mudou muito com os novos reforços? O Rafinha é um jogador que fala bastante durante o jogo.

O Rafinha é um grande cara, é muito legal. Ele é fera. É um cara muito especial, que tenta a todo momento ajudar, orientar, ensinar alguma coisa legal. Ele chega no campo, fala para fazer assim, daquele jeito. É um cara que é líder. Fora isso, tem um caráter muito especial.

Eu estou gostando demais de trabalhar com ele, porque é um cara que vem, fala, te cobra, te orienta, te ensina. O Rafinha veio para acrescentar realmente.

Aí você tem o Nikão, o Alisson, o Jandrei, o Patrick, o Colorado que acabou de chegar... eles vieram para acrescentar. Foram reforços que dentro de campo vão ajudar muito, mas também de caráter os caras são muito especiais, pessoas com coração enorme. A característica do grupo bateu muito com esses reforços que chegaram, os caras que são nota 10.

Onde você acha que o São Paulo pode chegar esse ano?

Eu quero ganhar tudo. O que puder ganhar, a gente quer ganhar tudo, a gente quer ser vencedor. Todo mundo está no futebol para ganhar, ninguém gosta de perder. Pode ser torneio de tampinha, mas a gente quer ganhar, independentemente do que vier pela frente.

Quando você veste essa camisa, independentemente de contra quem você jogue, você tem que entrar para vencer. Você está vestindo a camisa do São Paulo, tem que ter respeito por essa camisa. Independentemente de ser Paulista, Copa do Brasil, Brasileiro, se você está vestindo a camisa do São Paulo, é essa história que você carrega no peito, então você tem que honrá-la.

No meio do ano passado você renovou seu contrato até 2024. Qual foi o sentimento?

Para mim, o primeiro contrato foi muito importante, mas o segundo veio com um sabor melhor. Dá a entender que você está evoluindo dentro do clube, está respeitando o clube, o que isso para mim é a primeira coisa para um atleta, tem que respeitar o lugar em que você está, que é um clube gigante como o São Paulo, você está se dedicando não só nos jogos, mas nos treinamentos, dando o seu melhor.

Quando você renova um contrato, você é analisado em um contexto geral, não apenas dentro de campo. É o seu comportamento, quem você é, seu caráter. Se estão renovando, é porque o Léo agradou em um contexto geral. Para mim foi muito especial aquela renovação.

No fim do ano passado, você deu um depoimento à SPFC TV sobre casos de racismo sofridos na sua infância. Sentiu alguma mudança depois daquilo?

Quando eu falei, eu nem esperava que fosse repercutir tanto assim. Um monte de gente me mandou mensagem, WhatsApp. Quando você fala as coisas naturalmente... depois o assessor do São Paulo veio falar comigo, e eu disse que tinha falado do meu coração. Eu gosto de dar entrevista sobre aquilo que eu realmente acho, porque senão para mim não é válido.

Sobre a mudança, eu aprendi que não é mais sobre o que as pessoas pensam de mim. Independentemente de onde eu vou, por onde eu passo, se eu quiser ir com o chinelo, eu vou, se eu quiser ir de tênis, eu vou, de bermuda, de calça.

Eu queria me enquadrar na bolha de algumas pessoas que pensam dessa maneira e é totalmente errado isso. Você tem que viver a sua vida, ser honesto, um cara trabalhador, um caráter, uma base.

O que os outros pensam ou deixam de pensar não me interessa, eu tenho que ser eu na melhor versão possível. Aí eu aprendi e foi muito especial porque eu comecei a viver mais tranquilamente sobre isso. O que a pessoa acha para mim não faz a menor diferença.

Esse entendimento te ajudou a lidar com as críticas sobre futebol?

Estar no São Paulo é especial, porque você está em alto nível, você vai sempre ser exigido. Olha a camisa que estou vestindo, o escudo que eu carrego no peito, não vou ser criticado? É impossível não ser. São 20 milhões de torcedores. É muita gente que ama esse clube. Temos que entender para saber lidar tanto com os elogios quanto com as críticas.

Quando os elogios chegam, você não pode pensar que é o melhor do mundo. Mas quando as críticas chegam, você não pode enfiar sua cabeça em um buraco. Tem que haver um equilíbrio.

Eu acesso muito pouco as redes. Acho que tem coisas melhores para mim no momento. Eu treinar, focar realmente no meu trabalho, em cada treino, em cada jogo, aproveitar a minha família.

Isso para mim é muito importante. Desapegar de coisas que não acrescentam no seu trabalho, na sua vida pessoal. O melhor que eu posso fazer é focar 100% no São Paulo. Focar nos treinos, nos jogos e dar o melhor que eu posso.

Eu posto poucas coisas, tem uma pessoa que toma conta para mim. Eu me apego mais ao meu trabalho, estando presente, dando meu melhor, me dedicando. Acho que foi melhor naquele momento a decisão para focar mais ainda no meu trabalho.

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