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Seleção: Coutinho vive semana intensa e mostra evolução, apesar de tropeços

Philippe Coutinho controla a bola na partida entre Aston Villa e Newcastle pelo Campeonato Inglês - Action Images via Reuters
Philippe Coutinho controla a bola na partida entre Aston Villa e Newcastle pelo Campeonato Inglês Imagem: Action Images via Reuters

Gabriel Carneiro e Igor Siqueira

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

14/02/2022 04h00

Os últimos dias foram intensos para Philippe Coutinho. A "retomada" — como diz o técnico Tite — foi colocada à prova mais uma vez. Embora os resultados coletivos do Aston Villa não tenham sido empolgantes, o desempenho individual do meia aponta para um viés de crescimento neste começo de ano. E muito disso tem a seleção brasileira como impulso.

No começo do mês, ao ser convocado para os jogos contra Equador e Paraguai, Coutinho recebeu a injeção de ânimo conhecida. Mais uma prova de confiança. No treino de véspera da partida contra os paraguaios, em Belo Horizonte, foi possível ver o apetite nas bolas paradas - escanteios e faltas laterais - e o protagonismo dado a ele na seleção. A cada batida cheia de veneno, gritos de "boa, Couto". O resultado prático foi, enfim, uma atuação consistente pela amarelinha, coroada com um belo gol de fora da área na vitória por 4 a 0.

Paralelamente, ao se mudar de Barcelona para Birmingham, Coutinho respira novos ares e exibe velhas demonstrações de talento. São elas que trazem uma perspectiva de consolidação no futebol inglês, apesar de ainda estar emprestado pelo clube catalão. Tudo isso tendo a Copa do Mundo, em novembro, como alvo.

Nos últimos dias, o Aston Villa empatou em 3 a 3 com o Leeds e perdeu por 1 a 0 para o Newcastle. A derrota, inclusive, foi ontem (13), fora de casa, a primeira com Coutinho em campo desde o retorno à Premier League. Foi também a primeira partida que ele atuou por completo, desde o período de afastamento por nove meses, em decorrência de uma lesão no joelho esquerdo.

É como se, a cada partida, Coutinho se reencontrasse com uma memória de movimentos e ideias dentro de campo que já o colocaram, em um passado não tão distante, sobre uma prateleira muito valiosa no futebol mundial.

Contra o Leeds, na quarta-feira (9), a melhor atuação em meses. Coutinho participou de todos os gols do time: fez um e deu duas assistências. A fragilidade defensiva do Aston Villa, no entanto, permitiu a reação adversária, mas não apagou o que o brasileiro fez. Steven Gerrard, com quem Coutinho jogou no Liverpool, agora é o técnico do Villa e está encantado:

"Se você não gosta de vê-lo jogar, você deveria parar de ver futebol".

O motivo? Passes disruptivos, movimentos que anteveem a reação dos marcadores e um pé calibrado.

Diante do Newcastle, viu-se um Coutinho bem menos genial, sobretudo no primeiro tempo. A marcação adversária foi pesada, o Aston Villa não tem um time tão bom assim. Mas a segunda etapa trouxe mais momentos de qualidade. Um impedimento milimétrico resultou na anulação de um gol do Villa que teria assistência de Coutinho. Foi por detalhe. Na comissão técnica da seleção, quem viu o jogo foi o auxiliar Cleber Xavier.

Coutinho é um jogador que não é imune às críticas e atualmente está disposto a rebatê-las em campo. O trabalho é físico, técnico e mental. Ao longo da carreira, mostrou que o ambiente causa efeito sobre ele. Para o bem ou para o mal. Por isso Tite insistiu em trazê-lo para perto na seleção. Acompanhar a tal "retomada", que não estava aparente no momento da convocação, em 13 de janeiro, mas emergiu nas semanas seguintes.

"Venho recebendo muita porrada e isso não muda minha essência. Nem os elogios mudam. Eu sei quem eu sou, onde posso chegar", disse Coutinho, após o Brasil x Paraguai.

Phillipe Coutinho comemora após marcar gol na vitória da seleção brasileira contra o Paraguai pelas Eliminatórias da Copa do Mundo 2022, no Mineirão. 01/02/2022 - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Phillipe Coutinho comemora após marcar gol na vitória da seleção brasileira contra o Paraguai pelas Eliminatórias da Copa do Mundo 2022, no Mineirão. 01/02/2022
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

A comissão técnica da seleção vê Coutinho como uma figura importante e faz acompanhamento mesmo com um intervalo grande entre uma data Fifa e outra. O estafe e o próprio jogador apontam a relevância de uma sequência de jogos. Todos os lados dessa relação sabem que a seleção causa efeito positivo no jogador. A viagem de volta para casa traz na bagagem mais empolgação, sobretudo quando as coisas dão certo, como foi contra o Paraguai.

Nesse primeiro momento, Coutinho cumpre um papel tático que seria de Neymar, se ele não estivesse machucado: articulação na faixa central do campo, enquanto Vini Jr. e Raphinha dão o volume de jogo e intensidade nas pontas. No jogo passado, quem segurou as pontas defensivamente no meio-campo foi Fabinho - que ontem fez o gol da vitória do Liverpool sobre o Burnley.

Na cabeça de Tite, a proposta para jogos diante de adversário mais frágeis é estabelecer um diálogo com Paquetá, municiando os demais integrantes do quinteto ofensivo. O meia do Lyon vive ótima fase e hoje é titular indiscutível da seleção. No fim de semana, a vitória por 2 a 0 sobre o Nice teve uma caneta desmoralizante no adversário.

No Aston Villa, a função de Coutinho é muito parecida. Contra o Newcastle, os melhores momentos foi fazendo movimentos da esquerda para o meio — a seleção já bebeu muito dessa fonte —, achando passes na diagonal para os companheiros.

Como a seleção só volta a jogar em 24 de março, o desafio diante de Coutinho é mostrar que esse recomeço na Premier League não será algo fugaz. Aos 29 anos, o que ele precisa, além de carinho, é consistência. O ambiente colabora, mas a resposta quem dá é ele.