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O que Tite vê em Coutinho para mantê-lo na seleção brasileira

Philippe Coutinho aquece antes de partida do Barcelona pelo Campeonato Espanhol em dezembro de 2021 - REUTERS/Nacho Doce
Philippe Coutinho aquece antes de partida do Barcelona pelo Campeonato Espanhol em dezembro de 2021 Imagem: REUTERS/Nacho Doce

Gabriel Carneiro e Igor Siqueira

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

14/01/2022 04h00

A manutenção de Philippe Coutinho entre os convocados da seleção brasileira faz sentido na cabeça de Tite. Por mais que os números recentes e a escassez de jogos possam indicar que o momento do meia está bem distante daquele que o credenciou para ser titular da seleção até a Copa do Mundo de 2018, o treinador reservou mais uma vez um espaço para o meia na lista para as partidas da seleção pelas Eliminatórias. Desta vez, contra Equador e Paraguai.

Recém-emprestado ao Aston Villa-ING, Coutinho está de volta ao futebol inglês após mais um período frustrante no Barcelona. A lesão no joelho sofrida em dezembro de 2020, claro, atrapalhou a continuidade. Deixar a Espanha, mais uma vez temporariamente, é uma tentativa de voltar à melhor versão.

Tite enxerga uma ascensão por parte de Coutinho que passa longe de ser explícita. Na temporada atual, ele participou de 16 jogos, sendo titular em cinco, e fez dois gols. Não houve nem sequer um jogo completo. Mesmo em um Barcelona em crise, precisando recorrer a jogadores das categorias de base, Coutinho — dono de um dos maiores salários do elenco — não conseguiu se consolidar.

A última partida dele foi em 12 de dezembro, entrando nos nove minutos finais do empate com o Osasuna, por 2 a 2. Ficou no banco nos dois jogos seguintes e depois foi diagnosticado com covid-19. A virada do ano foi em isolamento. O beijo na esposa e nos filhos foi separado por um vidro.

Com covid-19, Philippe Coutinho passa festa de Ano Novo separado da família por um vidro - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Com covid-19, Philippe Coutinho passa festa de Ano-Novo separado da família por um vidro
Imagem: Reprodução/Instagram

A persistência do treinador em contar com o meia passa por pelo menos três caminhos: o desejo de acompanhá-lo de perto nessa retomada, o histórico de Coutinho pela seleção no ciclo pré-Rússia 2018 e as opções que Tite (não) tem para o setor — sobretudo com a lesão de Neymar.

Observando os 26 convocados, a função de articulação pelo meio tem Paquetá como titular para esta data Fifa, imaginando um desenho no qual Vini Jr entra pela esquerda e Neymar está fora por lesão. Mas o próprio Paquetá está suspenso no primeiro jogo. Logo, Tite vai ter que ir além. Por isso ele trouxe Everton Ribeiro e Coutinho.

"Coutinho é um jogador de armação e de conclusão importante, que vai retomando o seu melhor nível", argumentou Tite, já puxando uma segunda linha de raciocínio:

"Se esse crescimento e retomada possam acontecerem, que a gente possa estar junto. ".

Justificativa semelhante o técnico deu quando Coutinho foi chamado para os jogos de novembro. O meia estava com o grupo. No time reserva, emulou o papel de Neymar nos treinos. Mas quando o camisa 10 se machucou, Coutinho não foi a campo. A opção foi lançar Vini Jr.

Acompanhar Coutinho de perto tem a ver com uma expressão usada por Tite em uma entrevista ao "Ás", em 2020. O técnico da seleção falou que o meia precisava ser "mimado", "de carinho e de conversa". Coutinho, por sua vez, atribui a chance repetida ao seu próprio trabalho, como disse na data Fifa passada.

No processo de recuperação, ele intensificou o trabalho físico com o fisioterapeuta Renato Valença e o preparador físico Leonel Villeroy. Renato conhece o jogador desde a base da seleção. Leonel passou a trabalhar com ele quando jogava em Liverpool e até se mudou posteriormente para Barcelona.

Philippe Coutinho e Tite no hotel da seleção brasileira, em São Paulo - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Philippe Coutinho e Tite no hotel da seleção brasileira, em São Paulo
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Tite sabe que as escolhas não têm apoio unânime. E até expandiu a expressão 'merecimento', que sempre diz.

"Merecimento é sob a nossa ótica, que pode não ser a ótica do outro. Falar em democracia é fácil, mas respeitar a opinião diferente da nossa, desde que não seja mal-educada, é da vida, é do jogo".

Mas a posição contrasta com uma linha de pensamento que valoriza o trabalho de cada jogador no respectivo clube. O recado, na prática, é esse.

"Claro que tu tens alguns nortes. Alguns atletas vêm ao longo desses anos todos de seleção performando? Sim. Eles têm maior chance? Sim. Mas tá fechado? Não. Esse discurso não é aqui e modifica quando vai falar com o atleta. É o mesmo norte. Falamos muito isso para os atletas: joguem muito nos seus clubes. Lá. O teu desempenho ali vai te credenciar a chegar aqui, juntamente com o lastro na seleção, experiência, essa carreira consolidada", completou o treinador.

No caso de Coutinho, os elementos que remetem ao passado têm pesado mais.