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De onde vem o dinheiro do Santos para investir no mercado

Fábio Carille e Andres Rueda, presidente do Santos, se cumprimentam - Reprodução/Santos
Fábio Carille e Andres Rueda, presidente do Santos, se cumprimentam Imagem: Reprodução/Santos

Lucas Musetti Perazolli

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

02/01/2022 09h28

O Santos terá mais uma janela de transferências com poucos investimentos. O Peixe sabe da necessidade de reforços, mas a preocupação maior é tornar o clube menos deficitário.

O Santos do presidente Andres Rueda pagou R$ 120 milhões em dívidas durante o ano passado. E o "buraco" no total é de quase R$ 500 milhões. O valor utilizado para débitos antigos foi superior aos custos do futebol em 2021 (R$ 110 mi).

No primeiro ano do mandato de Rueda, a diretoria se viu pressionada a pagar dívidas para livrar o clube de punições da Fifa e desbloquear contas. Em vários casos, não houve saída a não ser pagar os diversos credores. Dessa forma, praticamente não sobrou para usar em contratações. E todas as 11 vieram livres ou por empréstimo: Jandrei, Danilo Boza, Emiliano Velázquez, Moraes, Camacho, Vinicius Zanocelo, Augusto, Marcos Guilherme, Diego Tardelli e Léo Baptistão. Jandrei, Boza e Tardelli já saíram.

Para 2022, a ideia é semelhante: o Santos não tem dinheiro suficiente para comprar jogadores e vasculha opções no mercado dentro da realidade financeira. A folha salarial é de cerca de R$ 7 milhões e o Peixe abrirá espaço para reforços com a saída de atletas pouco utilizados: são os casos de Jean Mota, Pará, Diego Tardelli, Jandrei e Raniel.

"Nossa ideia é ter um elenco mais competitivo. Isso eu posso prometer para o torcedor do Santos. Mas não faremos qualquer loucura. Temos o nosso orçamento e não traremos ninguém que não possamos pagar o salário. Hoje temos salários e direitos de imagem em dia após muito trabalho. Vamos trazer reforços, sim, mas não vamos sair desse caminho. E só vamos vender atletas conforme o nosso planejamento, sem desespero e se for bom para todos", disse o presidente Andres Rueda.

O Santos melhorou administrativamente e não corre mais o risco de punições na Fifa, como foi o transfer ban pela dívida com o Hamburgo (ALE) por Cleber Reis. Com direito a empréstimo de R$ 10 milhões de Rueda quando ele ainda era candidato, no fim de 2020, o Peixe fez um acordo de aproximadamente R$ 20 milhões e foi liberado para contratar após quase um ano.

Empresário bem sucedido e agora aposentado, Andres Rueda não pensa em emprestar mais dinheiro ao Peixe. O próprio dinheiro cedido pelo agora presidente ainda não foi devolvido.

"Foi um empréstimo sem juros, sem nada. Temos outras prioridades. Quando pudermos, faremos essa operação com toda transparência", falou Rueda.

Só que essa evolução extracampo contrasta com um desempenho frustrante dentro das quatro linhas. O Santos quase foi rebaixado no Paulistão e no Campeonato Brasileiro e foi eliminado precocemente na Libertadores, Sul-Americana e Copa do Brasil. O Peixe respirou financeiramente, mas correu sérios riscos ao longo da temporada.

Para auxiliar nesse equilíbrio entre futebol e finanças, Andres Rueda recorreu a Edu Dracena como executivo de futebol. Dentro do orçamento, o ex-dirigente do Palmeiras terá autonomia para decidir por chegadas, saídas e renovações. O objetivo foi mostrar que o campo/bola não está abaixo das planilhas.

Criatividade, mas...

Com mais despesas que receitas, o Santos buscou formas de ganhar mais dinheiro. O Peixe criou um funding, tokenizou o mecanismo de solidariedade da Fifa e lançou seu fan token.

O funding é uma espécie de linha de crédito com empresários santistas. Esses membros aplicam determinada quantia em um determinado banco em troca de um rendimento igual ou até maior do que o investimento anterior. E o banco faz um "crédito especial" ao Peixe com juros baixos. O Alvinegro paga na frente pelo empréstimo e resolve seu fluxo de caixa, enquanto a instituição bancária tem maior garantia. Via esse modelo, o Santos já arrecadou R$ 25 milhões.

O mecanismo de solidariedade da Fifa é o pagamento de até 5% do valor de venda de jogadores para os clubes formadores. E o Santos criou o "Token da Vila", por meio do Mercado Bitcoin, para garantir uma receita inicial de R$ 30 milhões. Como o Peixe não sabe se essas negociações ocorrerão, o recebimento de R$ 30 mi está garantido e a empresa de criptomoeda fatura com a venda de tokens para a torcida. E os detentores do token podem lucrar vendendo seus ativos no momento das transações. A "cesta" de atletas inclui Neymar, Alan Patrick, Alex Sandro, Caio Henrique, Emerson Palmieri, Gabigol, Jean Lucas, Kaio Jorge, Lucas Veríssimo, Rodrygo e Yuri Alberto. São 600 mil tokens disponíveis ao valor de R$ 50.

Por fim, o Santos criou o seu Fan Token em parceria com a Binance. O acordo é válido por três anos, inclui o patrocínio na barra do uniforme e tem o valor inicial de 10 milhões de dólares (R$ 57 mi).

"Esse acordou reforça o compromisso do Santos em fornecer aos fãs experiências significativas com acesso incomparável à plataforma de engajamento de que precisam. Essa parceria alimenta ainda mais a nossa paixão em continuar buscando meios criativos e inovadores de impulsionar soluções de engajamento com os fãs e abre um novo capítulo na história do nosso clube", explicou Rueda.

Com esse aporte da Binance na camisa, o Santos teve a maior arrecadação comercial de sua história em 2021. Até novembro, o marketing arrecadou R$ 69 milhões. Em 2020, ano com maior comprometimento em função da covid-19, o faturamento foi de R$ 30 milhões.

2023 melhor?

A expectativa da diretoria comandada por Andres Rueda é ter um 2023 com maiores investimentos no futebol. 2022 ainda será um ano de poucos recursos e muita preocupação em honrar acordos realizados.

O objetivo é tornar o elenco mais competitivo com pouco dinheiro por meio da mescla entre jogadores jovens e experientes. Mesmo em um ano ruim, o Santos viu a ascensão de atletas como o zagueiro Kaiky e os atacantes Ângelo e Marcos Leonardo. A base do time titular tem outros da base: o goleiro João Paulo e o meio-campista Sandry.

O Peixe pretende trazer reforços "prontos" para serem a sustentação desses Meninos da Vila. A permanência do técnico Fábio Carille é comemorada internamente após o Alvinegro ter três treinadores no ano: Cuca, Ariel Holan e Fernando Diniz.

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