Topo

Comissão de Ética prepara sentença para Caboclo, afastado da CBF

Rogério Caboclo, no discurso após ser eleito presidente da CBF, em 2018 - Lucas Figueiredo/CBF
Rogério Caboclo, no discurso após ser eleito presidente da CBF, em 2018 Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

24/08/2021 04h00

A Câmara de Julgamento da Comissão de Ética do Futebol Brasileiro publicará hoje (24) a decisão final no processo envolvendo o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo. Em caso de punição, as federações estaduais precisam referendar a decisão na assembleia geral já marcada para amanhã (25).

A denúncia de assédio moral e sexual contra Caboclo foi formalizada em 4 de junho por uma funcionária. Dois dias depois, ele foi tirado temporariamente do cargo — medida aplicada inicialmente por 30 dias e depois ampliada por mais 60. A sentença de hoje sairá das mãos do relator Amilar Fernandes Alves e é o passo mais relevante, desde a prorrogação do afastamento, para definir o futuro do dirigente.

A denúncia da funcionária foi embasada com gravações feitas por ela de diálogos com Caboclo. Em uma dessas conversas, reveladas pela TV Globo, o dirigente pergunta: "Você se masturba?". Em outro episódio, ele ofereceu ração de cachorro a ela. Diretores da CBF sabiam do cenário e viriam a se posicionar contra Caboclo em depoimentos dados à Comissão de Ética, em cartas enviadas às federações estaduais e em articulações nos bastidores. Rogério trata a todos como traidores.

Em relação ao mérito, Caboclo diz que não cometeu crime, apesar de reconhecer que agiu de forma equivocada. Mas a avaliação da Câmara de Julgamento, continuando a linha de raciocínio da Câmara de Investigação, envolve a existência ou não de uma infração ética, não necessariamente criminal. É improvável que Caboclo escape sem punição.

Caboclo vai se deparar com um veredito de um órgão com o qual declaradamente entrou em "guerra" por considerar que o processo legal foi desrespeitado. A maioria dos membros atuais foi indicada na gestão Marco Polo Del Nero, mas Caboclo referendou a composição em abril, com direito a uma moção de louvor ao presidente da Comissão, Carlos Renato de Azevedo Ferreira.

Mas em uma das diversas notas publicadas desde que o processo se desencadeou, Caboclo disse que "identificou o referido órgão como sendo parcial e arbitrário, por conduzir um processo repleto de vícios e nulidades". Essa justificativa ele deu para não prestar depoimento na fase de investigação, apesar de ter entregue a defesa por escrito com cerca de 60 páginas.

A relação entre o dirigente e a Comissão de Ética foi amenizada na fase mais recente do processo. Caboclo, enfim, prestou depoimento. A defesa também requereu uma sessão de julgamento, ocorrida semana passada, na qual advogados da vítima e do dirigente fizeram sustentações orais. No lado de Caboclo, houve uma mudança de advogado ao longo do processo. Fernanda Tórtima é a criminalista desde o início do caso, mas, na parte desportiva, Wladimyr Camargos tomou iniciativa de sair, sendo substituído por Marcelo Jucá.

Rogério Caboclo tentou derrubar o próprio afastamento via STJD, mas teve o pedido de liminar negado. Houve um recurso à Comissão de Ética da Conmebol, que ficou em silêncio. A denúncia de assédio até chegou ao Ministério Público, virou investigação criminal, com uma audiência preliminar agendada pela Justiça para quinta-feira (26).

A guerra política na CBF se dá às claras, enquanto Coronel Nunes fica na presidência de forma interina. Rogério atribui a Marco Polo Del Nero a orquestração do movimento para derrubá-lo. O dirigente banido pela Fifa nega. O "guilhotinado" durante esse processo foi o secretário-geral Walter Feldman. Ele chegou a ser exonerado por Caboclo como último ato antes do afastamento, foi reconduzido por Nunes (a mando dos vices), mas perdeu a confiança deles e foi tirado da CBF definitivamente.

Quem ficou na CBF argumenta que uma volta de Caboclo causaria uma debandada de patrocinadores e, por consequência, perda de muito dinheiro. Há uma busca incessante pelo apoio das federações. A gestão atual da entidade, conforme previsto no estatuto, precisa angariar 21 votos para referendar a muito provável punição ao dirigente.

Caboclo, por sua vez, foi à caça de pelo menos sete federações. Foram muitas ligações telefônicas, mensagens e tentativas de convencimento. Até ontem (23), o sentimento de otimismo pairava nos dois lados da trincheira. Ou seja, alguém vai acabar se sentindo traído, independentemente do resultado da assembleia de amanhã.

Se a saída definitiva de Caboclo for confirmada, o estatuto da CBF prevê que o Coronel Nunes, vice mais velho, convoque uma eleição em até 30 dias. E desse pleito só podem participar os oito vice-presidentes: além do próprio Nunes, Fernando Sarney, Gustavo Feijó, Castellar Neto, Francisco Novelletto, Ednaldo Rodrigues, Marcus Vicente e Antônio Aquino Lopes.