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Fujão da seleção, ex-meia enaltece duelo Palmeiras x Grêmio: é um clássico

Arílson foi projetado para o futebol nacional pelo Grêmio, onde conquistou a Libertadores de 95 - Reuters
Arílson foi projetado para o futebol nacional pelo Grêmio, onde conquistou a Libertadores de 95 Imagem: Reuters

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

07/07/2021 04h00

Palmeiras e Grêmio possuem forte rivalidade interestadual. Ao longo dos últimos 25 anos, os dois clubes decidiram vagas em fases derradeiras de mata-matas da Copa Libertadores, do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil — na temporada passada, o Alviverde ficou com o título da competição ao bater o Tricolor. Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-meia Arílson, que jogou pelos dois, recordou os embates emblemáticos em meados dos anos 1990.

Hoje (7), esta rivalidade volta a campo, quando o Palmeiras recebe o Grêmio, às 19h, na Arena Allianz Parque, pela décima rodada do Brasileirão. Porém, a tabela da atual edição do Nacional mostra a gangorra com o time paulista na terceira colocação e os gaúchos amargando a lanterna, sem ainda vencer após sete partidas.

Com cerca de 20 clubes no currículo — incluindo passagens pela Alemanha, Chile, Colômbia e Arábia Saudita —, Arílson, atualmente com 48 anos, apontou que os duelos vestindo a camiseta gremista diante do Palmeiras foram os mais marcantes ao longo de duas décadas como profissional.

"Em 95, foram sete jogos contra o Palmeiras, quatro pelas Libertadores [fase de grupos e quartas de final], duas pela Copa do Brasil e um pelo Campeonato Brasileiro. É um clássico, na verdade. Até hoje as pessoas comentam sobre esses jogos", comentou.

"Quando ganhamos por 5 a 0, no Olímpico [jogo de ida das quartas da Libertadores], eu fiz um gol. Depois, deu aquela confusão do Dinho com o Válber. O Rivaldo foi expulso, depois foi o Dinho e o Válber. Fomos jogar no Parque Antártica e, com dois minutos de jogo, saímos ganhando com gol do Jardel. Mas tomamos o 5 a 1. Não tinha como desarmar os caras, o time do Palmeiras era uma seleção: Cafu, Cléber, Antonio Carlos, Roberto Carlos, Mancuso, Rivaldo, Muller, Amaral... Se tivesse mais uns três minutos, tínhamos tomado uns seis ou sete. Até o Amaral fez gol naquele dia, brinco com ele sobre isso", acrescentou.

Jogadores do Grêmio perfilados antes da segunda partida das quartas de final da Libertadores de 1995 - J. F. Diorio/Agência Estado - J. F. Diorio/Agência Estado
Jogadores do Grêmio perfilados antes do 2° jogo das quartas da Libertadores de 1995 contra o Palmeiras
Imagem: J. F. Diorio/Agência Estado

Mesmo com a imagem ligada vigorosamente com o Grêmio, Arílson desembarcou em São Paulo em 1998 para defender o Palmeiras, após rápidas passagens pelo Kaiserslautern-ALE e pelo Internacional. Segundo o ex-jogador, a sua contratação foi um pedido do técnico Luiz Felipe Scolari porque o meia Alex, o maestro do time, estava em baixa.

"Quando o Felipão me contratou, o Alex estava mal. Lembro que naquela época os árbitros que apitavam o Campeonato Paulista eram de fora, vinham do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. Fui expulso pelo [ex-juiz e hoje comentarista] Carlos Eugênio Simon no jogo contra o Ituano e acabei me machucando. O Alex voltou a jogar e o Alex é craque, então foi difícil para eu voltar ao time. Ainda tinha o Zinho. Às vezes, eu jogava de lateral esquerdo. Mesmo eu ter passado pela seleção brasileira e pela Europa, tem que respeitar se o teu colega está melhor que tu. Meu contrato de empréstimo acabou e tive que voltar para a Alemanha", contou.

O Palmeiras de 1998 -  -
Time do Palmeiras de 1998. Naquela temporada, clube foi campeão da Copa do Brasil e da Mercosul

Fuga de seleção brasileira

Todo jogador sonha em um dia chegar à seleção brasileira, mas Arílson fugiu dela. Aproveitando uma folga durante a disputa do Pré-Olímpico de 1996, na cidade argentina de Tandil (380 km ao sul de Buenos Aires), ele decidiu deixar a delegação porque estava revoltado por não ter jogado nem ter ficado no banco de reservas nas três partidas que o Brasil havia realizado.

"Eu já estava na seleção, joguei amistosos, a Copa Ouro, estava sendo utilizado. Além disso, eu era um dos quatro que jogavam fora do país. Eu, o Caio Ribeiro [Inter de Milão], o Roberto Carlos [Real Madrid] e o Juninho Paulista [Middlesbrough]. Eles estavam jogando, eu não. Eu estava perdendo jogos importantes na Alemanha, no Kaiserslautrn. Mas não adiantou, porque a Fifa não me liberou", disse o ex-meia, evitando críticas a técnico Mário Jorge Lobo Zagallo, que comandava o Brasil à época.

"Ele é um mito, super vencedor. Eu era um pouco imaturo, era guri, dei uma errada. Jamais vou culpar o Zagallo ou o Américo Faria [supervisor da CBF na ocasião]. Naquele momento eu achava que estava fazendo a coisa certa. Tentei pedir desculpas para o Zagallo, pedir desculpa publicamente para ele, pois eu não consegui falar com ele pessoalmente até hoje. Hoje eu sou treinador, eu entendo ele", desabafou.

Confira outros trechos da entrevista com Arílson:

UOL Esporte: O que o Felipão representa para a sua carreira?

Arílson: Ele foi um paizão, até hoje né. Eu treinava o Aymoré, de São Leopoldo-RS, o time em que o Felipão começou a jogar futebol. Ele foi lá me visitar e parou tudo, parou a cidade. Eu lembro que eu era da base do Grêmio e teve uma viagem para a Tailândia. Na época, ele levou três guris da base e um desses era eu, foi ele quem me subiu para o profissional. Ele me ensinou muita coisa, me cobrava.

UOL Esporte: Naquela rivalidade com o Palmeiras em 1995, quem era que chegava mais duro nos jogadores do Grêmio?

Arílson: Eu me desentendi com o Antônio Carlos e com o Mancuso, porque a gente se pegava direto por que ele era volante. Mas quem batia mais, e batia desleal, era o Antônio Carlos. Em um dos jogos da Copa do Brasil, eu estava caído e o Antônio Carlos pisou no meu tornozelo na maldade. Já o Mancuso batia porque não conseguia me achar.

UOL Esporte: Como foram as experiências de jogar no Kaiserslautern-ALE e na Universidad de Chile?

Arílson: Cheguei na Alemanha com 23 anos, era muito novo, foi logo depois que o Grêmio perdeu a final do Mundial para o Ajax [em 1995]. Tudo foi muito rápido na minha carreira: Bento Gonçalves, Porto Alegre e Alemanha. Não me adaptei muito lá, não falava inglês, não falava alemão, nem português eu não falava direito. Liguei para o meu empresário, que era o Jorge Machado, e falei que eu queria voltar para o Brasil. Uma semana depois eu estava fechando com o Internacional, eu era profissional. Já no Chile foi uma experiência muito boa, fiz 15 gols, joguei como segundo volante. Até hoje o pessoal me chama de maestro porque teve um fato muito marcante em 2001, quando ganhamos o clássico contra o Colo Colo por 3 a 2. Eu fiz um gol, um dos mais bonito da minha carreira.

UOL Esporte: O que mais você se arrepende em relação à sua carreira?

Arilson: Algumas coisas eu não faria, como essa situação da seleção brasileira com o Zagallo, de não ter ficado mais tempo na Alemanha, porque tinha contrato de três anos e fiquei seis meses. Tive um desentendimento com o Andreas Brehme, que era o capitão que fez o gol na final da Copa de 90. Mas eu não me arrependo, só que não faria algumas coisas com a cabeça que eu tenho hoje.

UOL Esporte: Como foi quando foi dado como foragido por não ter se reapresentado no presídio de Bento Gonçalves-RS por não pagar pensão alimentícia, em 2009?

Arílson: Tenho um filho do meu primeiro casamento, que hoje está com 25 para 26 anos e é gremistão. Tenho uma netinha que é filha dele. Pagava uma pensão absurda quando eu jogava. Dei casa, carros para ele e à mãe dele. Mas nunca guardei recibos, comprovantes de nada. Ela me botou na Justiça, queria R$ 450 mil. Quando voltei para o Brasil, me pararam numa blitz... Para resumir, dei um carro para ela e mais R$ 15, 20 mil e resolveu tudo. Detalhe, na época, o meu filho estava morando comigo. Ninguém sabe.

UOL Esporte: Qual o seu maior sonho como treinador?

Arílson: Sem dúvida, é treinar o Grêmio um dia. Sei que é difícil, mas nada é impossível. Até porque o Renato Gaúcho é da minha cidade, de Bento Gonçalves [na verdade, Renato nasceu em Guaporé-RS]. Ele fez história no Grêmio como jogador e como treinador. Eu fiz história no Grêmio, assim como ele. O raio pode cair no mesmo lugar duas vezes, é difícil, mas pode (risos).