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Palmeiras e Juventude já decidiram vaga, e Leão temeu ter de entregar jogo

Copa do Brasil, 1999: Jogadores do Juventude comemoram a conquista do primeiro título da Copa do Brasil, com o empate diante do Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ) - Paul Whitaker/Reuters
Copa do Brasil, 1999: Jogadores do Juventude comemoram a conquista do primeiro título da Copa do Brasil, com o empate diante do Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ) Imagem: Paul Whitaker/Reuters

Diego Iwata Lima

De São Paulo

16/06/2021 04h00

Palmeiras e Juventude, que se enfrentam nesta quarta-feira (16), em Caxias do Sul, tiveram um embate emblemático no Campeonato Brasileiro de 1995, na última rodada do primeiro turno da disputa. No mesmo estádio Alfredo Jaconi desta noite, os "irmãos de leite", na época co-geridos pela Parmalat, jogaram uma partida que valia, para o Palmeiras, uma vaga para a semifinal. E Emerson Leão, então técnico do Juventude, precisou ser tranquilizado pelo diretor José Carlos Brunoro antes da partida.

"Ele achou que eu ia pedir para o Juventude entregar o jogo", contou Brunoro, então dirigente da multinacional italiana e responsável pela direção esportiva do projeto nos dois clubes, em entrevista ao UOL. "Assim que me viu em Caxias, ele perguntou: 'você não vai me pedir o que eu acho que você vai me pedir, vai?' ", relembra-se o dirigente, hoje, entre risos.

Regulamento mirabolante tinha dois grupos e duas fases

Naquele ano, os 24 clubes foram divididos em dois grupos e duas fases, e Palmeiras e Juventude caíram na mesma chave. Na primeira fase, os times jogavam entre si dentro de cada grupo, em 11 rodadas. Na segunda, só enfrentavam os times do grupo adversário. Os dois campeões de seus grupos em cada fase iam às semifinais.

Era a primeira vez que os dois times patrocinados pela multinacional italiana se enfrentavam em um jogo de primeira grandeza e decisivo —ao menos para um deles. E Leão, lendário jogador do Palmeiras, mas à época técnico do primo pobre do Rio Grande do Sul, temeu pelo pior.

"O que eu disse para o Leão e para os jogadores do Juventude foi: joguem para ganhar, não vai haver qualquer interferência", conta Brunoro. "E no Palmeiras, eu avisei: joguem muito sério, ou vocês não vão ganhar em Caxias", completa. E o Palmeiras não ganhou mesmo.

Vindo de uma vitória de 3 a 0 sobre o Grêmio de Felipão no Parque Antarctica, os comandados do finado técnico Carlos Alberto Silva suaram para conseguir um empate em 1 a 1, com um gol de Rivaldo para o Palmeiras e um contra de Antônio Carlos Zago para o Juventude.

Com o resultado, o Palmeiras perdeu a chance de pular para a ponta e chegar à mesma pontuação do Cruzeiro, que acabou campeão da chave com 27, contra 25 do Verdão. Se tivesse vencido o Juventude, o Palmeiras teria feito os mesmos 27 do rival e a vaga seria decidida no saldo de gols. Já o Juventude, com 12 pontos, foi o 8º entre 12 times.

No fim do campeonato, embora tenha sido o segundo clube a mais pontuar —45 contra 46 do Santos—, o Palmeiras ficou fora das semifinais, pois não venceu seu grupo em nenhum dos turnos. O Botafogo bateria o Santos na final para ficar com o troféu.

Projeto em Caxias do Sul foi muito vitorioso

Brunoro se lembra com orgulho da passagem pelo Juventude. Foi ele quem escolheu o clube para fazer parte do projeto da Parmalat.

"A Parmalat queria ter um time em cada local em que comprava uma empresa. Na época, a empresa adquirida pelos italianos foi a Lacesa", conta Brunoro.

"Eu os escolhi porque as cores deles eram verde e brancos, e eles também haviam sido fundados por italianos, como o Palmeiras" revela o dirigente. "A ideia era fazer deles a terceira força do Sul. Grêmio e Internacional estavam fora de questão, porque se você patrocinasse um, tinha que patrocinar o outro, para não perder metade do Estado", diz Brunoro.

O projeto iniciado em 1993 deu ao time o Campeonato Brasileiro da Série B de 1994, o Gauchão de 1998 e a Copa do Brasil de 1999, até hoje os únicos títulos de primeira grandeza da história do clube.

"O investimento no Palmeiras era muito maior, incomparável. Mas no Juventude, pudemos fazer um grande trabalho, estruturando as categorias de base", conta o dirigente. "Jogadores do Palmeiras que precisavam de rodagem jogaram no Juventude, e grandes destaques do Juventude vieram para São Paulo", relembra-se.

Para o Sul, saindo do bairro paulistano da Vila Pompeia, foram (Dorival) Júnior, Galeano, Odair e Jean Carlo, entre outros. Da Serra Gaúcha para a Academia de Futebol, vieram o volante Lauro, o atacante Fernando e o zagueiro Sandro Blum, que mesmo sem renome, foi peça importante do lendário Palmeiras de 1996.

O Juventude também foi ponte para o Palmeiras repatriar o lateral Cafu, que estava no Zaragoza-ESP. Com medo da Parmalat, o São Paulo incluiu em seu contrato de venda uma cláusula indicando que o lateral não poderia vir direto do pequeno clube espanhol para o Palmeiras. Mas o documento nada falava do Juventude, onde Cafu ficou por três meses antes de se integrar ao Alviverde paulista.

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