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Por que o Santos tem a segunda pior nota possível no Fair Play Financeiro

Rueda ao lado de Orlando Rollo na Vila Belmiro, ao iniciar a transição no Santos - Ivan Storti
Rueda ao lado de Orlando Rollo na Vila Belmiro, ao iniciar a transição no Santos Imagem: Ivan Storti

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

25/05/2021 19h57

Ao divulgar o planejamento estratégico para os próximos três anos, o Santos mais uma vez admitiu um cenário complicado em termos financeiros. O quadro se materializa na nota que o clube receberia se o Fair Play Financeiro da CBF estivesse em vigor. Entre as sete atribuições possíveis, o Santos teria a segunda pior, com rating D.

O princípio dessa nota é: quanto melhor for a condição financeira do clube, melhor será sua avaliação. Como a nota de equilíbrio é B (mínimo para aprovação), o Santos se mostra em maus lençóis.

Mas o como se explica essa nota tão ruim? A base do modelo para esse rating está na "geração de caixa" por parte do clube. Ou seja, na diferença entre receitas e custos/despesas.

A análise tem duas visões. A primeira é olhar para o montante total de receitas. Na segunda, considerar as receitas classificadas como recorrentes —ou seja, quanto o clube arrecada, exceto com venda de atletas, que é uma fonte muito variável e sem "amarras" contratuais previsíveis, como direitos de TV. Por princípio, essa nota tão ruim do Santos significa que o clube teve pouca geração de caixa (ou até negativa) e dívidas incompatíveis com essa geração.

Santos x Fair Play Financeiro - Reprodução - Reprodução
Rating do Santos no Fair Play Financeiro
Imagem: Reprodução

Olhando alguns números santistas em 2020 —ressalvando o fator pandemia, que mexeu no calendário e gerou queda geral de receitas no exercício até 31 de dezembro—, o Santos teve R$ 240 milhões de receitas totais. Segundo levantamento da EY, as receitas recorrentes ficaram em 156 milhões. Ao mesmo tempo, o endividamento líquido ficou em R$ 540 milhões, após um ano no qual o déficit foi de R$ 120 milhões.

O quadro geral não se limita a isso. Na linguagem técnica, o indicador que resume a geração de caixa é o Ebitda. Numa tradução para o português, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Na prática do futebol, é quanto sobra de dinheiro para o clube pagar suas dívidas e fazer investimentos. O Itaú BBA costuma fazer esse cálculo. O relatório sobre 2020 ainda não está pronto, mas a projeção feita em maio era de saldo negativo para o Peixe.

A nota do Fair Play Financeiro, inclusive, é pouco divulgada pelos clubes, sobretudo quando se confirma um quadro complicado nas contas. O rating foi enviado para cada diretoria pela CBF no ano passado. O balizamento foi feito com base nos dados cedidos pelos próprios clubes.

Mas o que o Santos precisa fazer, diante de um D no rating do Fair Play Financeiro? Como norma, os clubes precisam apresentar à CBF um plano de ação para sair da crise. Com o passar dos anos, é preciso mostrar resultado, embora os especialistas considerem irreal que um clube saia de uma nota D para um B em um ano. De todo modo, montar um planejamento estratégico, como fez a diretoria santista, é um bom caminho. O Santos e o São Paulo já enviaram seus planos de ação à CBF.

No caso do Peixe, os principais objetivos estratégicos no campo financeiro são:

- Renegociar o passivo atual visando diminuir custo, alongamento da dívida e cumprimento de obrigações tributárias e trabalhistas;

- Equilibrar o clube do ponto de vista operacional e separar a gestão de receitas/despesas recorrentes das extraordinárias;

- Utilizar parte a ser definida das receitas extraordinárias como investimento em infraestrutura;

- Incrementar significativamente a receita por meio da geração de novas linhas de faturamento;

- Desenvolver modelo satisfatório para o clube para a construção e gestão de nova arena e demais questões patrimoniais (CTs, sede administrativa e futebol feminino), incluindo condições de infraestrutura, operação, comercial e mercadológicas.

As áreas de marketing e futebol, principais fontes de receita do clube, têm seus objetivos específicos que vão ao encontro do que o Santos almeja para os próximos três anos. A tarefa de Andrés Rueda na presidência não é simples.

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