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Sollito defendeu a Democracia Corinthiana; hoje quer ficar longe do futebol

Sollito dá entrevista antes de jogo contra a Portuguesa em Morumbi lotado - Acervo pessoal
Sollito dá entrevista antes de jogo contra a Portuguesa em Morumbi lotado Imagem: Acervo pessoal

Maurício Rossi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/03/2021 04h00

Desde 1975, o Corinthians não entrava em campo com um goleiro tão jovem. Esse fato aconteceu, justamente, contra o rival Palmeiras, no início de março, quando Matheus Donelli, aos 18 anos, teve que começar a partida, na Neo Química Arena, pelo Campeonato Paulista. Com a saída de Walter para o Cuiabá e Cássio acometido do pela covid-19, o garoto da base do clube assumiu a vaga. Foram duas partidas como titular. Além do clássico, ainda atuou contra a Ponte Preta, na vitória por 2 a 1, no mesmo local.

O jovem goleiro escalado por Vágner Mancini entrou para a história como o quinto goleiro mais jovem a estrear no gol corintiano. E quem fez parte dessa história, também, teve o nome relembrado na comparação: Sollito. Isso, mesmo, com dois "elles", como o próprio Cláudio Roberto Sollito faz questão de frisar. "Se puder, escreva como é o certo, já que sempre escreveram errado ['Solito']", lembra, com bom humor.

Aos 64 anos, dono de confecção no bairro da Casa Verde, onde ele nasceu na Zona Norte de São Paulo, Sollito está há muito tempo longe da bola. Nem na TV acompanha mais futebol. "Dificilmente, vejo alguma coisa. Eu não gosto do futebol que é jogado, atualmente", revela. Por esse motivo, nem soube da estreia de Matheus Donelli pela equipe principal do Corinthians, no clássico com o Palmeiras. "Além disso, futebol sem torcida no estádio, tira muito o prazer de assistir", completa. "Peço desculpas por não ter visto o Donelli. Espero poder vê-lo jogar e desejo muito sucesso a ele", finaliza.

A receita para o jovem goleiro do Corinthians é simples, diz Sollito, ainda mais quando Cássio ainda está em forma para defender a equipe num período reconstrução —e isso vem de muitos anos , já que Donelli chegou ao clube em 2013, um ano depois de o veterano ter levado a Bola de Ouro de melhor jogador do Mundial de Clubes vencido no Japão. "Ele vai ter que esperar o tempo dele, mas quando chegar, que entre com confiança e honrando a camisa corintiana."

Sollito, ex-goleiro do Corinthians - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Sollito, ex-goleiro do Corinthians, nos dias de hoje, afastado do futebol
Imagem: Acervo pessoal

17 anos de Corinthians

Ficar sem o futebol não é novidade para o ex-goleiro. Assim que encerrou a carreira, pendurou as luvas, em 1989, ficou um ano sem ler, ver, jogar. "Nada de futebol. Foi uma maneira que encontrei para não sentir meu fim de carreira."

Foram anos defendendo o Corinthians. Assim como Donelli, Sollito chegou ao clube no dente-de-leite: "Fiz peneira em dezembro de 1969, aos 13 anos, passei e fiquei até o profissional", Na primeira oportunidade no time de cima, a partida de estreia, também, foi em clássico. Numa derrota para o Santos, por 2 a 0, no Morumbi, em 1975, quando entrou na segunda etapa. "O Santos estava ganhando de 2 a 0. No segundo tempo, ainda chutamos duas bolas na trave", relembra.

Logo, no jogo seguinte, a estreia desde o início foi em outro clássico, contra a Portuguesa, em um empate por 1 a 1. Era uma época difícil para o clube do Parque São Jorge, já que passavam de 20 anos sem comemorar um título.

Sollito foi campeão paulista pelo Corinthians como titular em 1982. No time que era chamado de Democracia Corinthiana, foi o arqueiro que ficou como o dono da camisa 1 em 40 partidas. "Joguei todos os jogos. Vencer um Campeonato Paulista naquela época tinha muito valor", explica. "Era uma cobrança maior do que ganhar qualquer outro campeonato."

A importância que deveria ter para o clube talvez não seja tão dada, já que, segundo ele, foi o goleiro de um time que tinha Sócrates, Zenon, Casagrande, Wladimir, Biro-Biro, Zé Maria. "Era uma responsabilidade muito grande. Ainda brinco com meus amigos: foi quando tive meus 15 minutos de fama", diverte-se.

Mas a fama e fechar o gol em tantos jogos, parece não ter tido o reconhecimento em 1983, quando a diretoria contratou Emerson Leão. "No início houve um mal-estar, mas foi corrigido depois. Mal-estar não só da minha parte, mas de todos os jogadores. Mas foi tudo ajeitado, fui companheiro dele de quarto. Fomos campeões. Ele ficou um ano, apenas. Aprendi muito com ele e fizemos uma amizade muito grande."

Sollito deixou o Corinthians em 1986. Antes de se aposentar, três anos mais tarde, ainda teve passagem por Ituano, Paulista de Jundiaí, Nacional da Barra Funda. A decisão tomada foi para viver ao lado da família. "Preferi ficar ao lado de esposa, ver minhas filhas crescerem. Não é fácil, depois de mais de 20 anos de futebol, resolver parar. Mas fiz isso, e para desintoxicar, fiquei um ano sem ver nada a respeito."

Sollito, ex-goleiro do Corinthians - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Sollito salta muito para fazer a defesa pelo Corinthians
Imagem: Acervo pessoal

Outra vida

Hoje, quando para e pensa, Sollito não acredita por tanto o que passou. "Se pego alguma coisa minha antiga, jogos, fico curioso para tentar relembrar como vivi tudo aquilo. Jogar no Corinthians, com sua grandiosidade, muito intenso. Joguei com tanta gente. Em 77, estava lá. Hoje, acho interessante isso. Como passei toda aquela pressão? Acho que fui um personagem", diz.

Para Sollito, Cássio, o atual dono do gol corintiano, sem dúvida, pelas conquistas é o goleiro que vai estar em muitas ou quase todas as seleções da história do clube, mas não pode ser considerado o maior ídolo isolado do Corinthians na posição. "O Corinthians teve Cabeção, Gilmar, Ado, Dida, Ronaldo. Cada um ao seu estilo. Mas todos com muitas qualidades."

Entre os citados por Sollito, Ronaldo Giovanelli, que foi campeão com o Corinthians em competições importantes, como o primeiro Brasileiro, em 90, é hoje personagem da mídia. Sempre antenado com o clube, foi um dos que deram apoio ao jovem Matheus Donelli antes de estrear contra o Palmeiras. "Conheço o Ronaldo. Ele me mandou mensagem antes do jogo. Me deu bastante apoio", diz o garoto.

Já sobre o campeão paulista de 1982, Donelli revela que ouviu falar, mas nunca teve contato. Quem sabe, Sollito ainda possa voltar a se entusiasmar com o futebol atual e, assim, conhecer o jovem goleiro que, além de ser aspirante a titular do Corinthians, no currículo ainda tem algumas passagens pela Seleção Brasileira de base.

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