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Caio Henrique revela mágoa com Santos e diz que Diniz daria certo na Europa

Eder Traskini

Do UOL, em Santos (SP)

23/02/2021 04h00

O lateral esquerdo Caio Henrique, do Monaco, é mais um Menino da Vila que começa a brilhar na Europa. Revelado pelo Santos, o jogador confidenciou, em entrevista ao UOL Esporte, que deixou o Alvinegro praiano magoado ainda antes de fazer sua estreia profissional.

Caio chegou ao Peixe com 10 anos, quando ainda jogava futsal, e passou por todas as categorias. Ele acumulou convocações para as seleções brasileiras de base e chegou a ser capitão vestindo a amarelinha. O destaque chamou atenção do Atlético de Madri (ESP), mas a preferência era ficar na Vila Belmiro. Pelo menos até ouvir a oferta santista...

"Faltava apenas um ano de contrato para meu contrato acabar... Foi quando eu tive a oferta do Atlético de Madri. A prioridade era ficar no Santos, só que naquele momento o projeto que eles me ofereceram, a oferta de renovação, foi muito abaixo daquilo que a gente esperava, até em termos de salário mesmo. E também não tinha uma certeza que eu poderia estar integrando a equipe principal em um espaço de tempo, a médio prazo, a longo prazo. A única coisa que eles me disseram era que eu era um jogador muito importante e nada mais. Para mim, me pareceu muito mais vantajoso ter um projeto de um Atlético de Madri, de uma equipe que àquela época estava na final da Champions", disse Caio, que não escondeu a mágoa.

"Colocaram na imprensa que tinham feito mais de cinco reuniões comigo e com a minha família, que tinham oferecido o valor X. Isso foi tudo mentira. Eles fizeram apenas uma reunião, com a minha família e com o meu empresário, sabe? De certo modo, aquilo me afetou porque muitos torcedores vieram me xingar nas redes sociais, dizendo que eu queria dinheiro. Na verdade, não foi nada disso. Naquele momento, não tive chance de me explicar, não tive chance de responder. Simplesmente tive que aguentar calado. A vida seguiu. ­Naquele momento, sim, fiquei magoado, mas hoje já são águas passadas."

A vida, de fato, seguiu. Quando Caio decidiu voltar ao Brasil para poder jogar mais vezes, o Peixe novamente surgiu como opção, mas a oferta santista foi para que o então meio-campista atuasse, a princípio, pela equipe B. Caio preferiu o Paraná, onde poderia jogar a Série A do Brasileirão.

No ano seguinte, acertou com o Fluminense e viu sua carreira mudar. Sem ninguém para a lateral esquerda em um jogo pela Copa Sul-Americana, o técnico Fernando Diniz pediu para Caio "quebrar um galho" na função. O que ele não esperava era que fosse eleito o melhor em campo e, a partir daí, nunca mais deixasse a ala do campo.

"Guardo um carinho enorme por ele [Diniz], sou muito grato porque, quando ele se despediu do Fluminense, eu até disse, foi o responsável por recuperar em mim a vontade de jogar futebol porque, para mim, não foi fácil ir para Europa, não jogar, ter que voltar ao Brasil, começar praticamente tudo do zero. Foi ele quem me incentivou, foi ele que acreditou em mim", recordou.

Para Caio, o São Paulo de Fernando Diniz perdeu a confiança após ser eliminado na semifinal da Copa do Brasil pelo Grêmio e, por isso, acabou caindo no Brasileirão e perdeu a liderança folgada que tinha. O jogador do Monaco, porém, não tem dúvidas de que o antigo técnico teria sucesso na Europa.

"Ah, com certeza [Diniz daria certo na Europa]. Inclusive, algumas equipes da Europa, algumas equipes pequenas, com treinadores jovens, como é o caso do professor Diniz, têm esse estilo de jogo. E claro, a diferença da Europa para o Brasil é que aqui se tem tempo para trabalhar. Nós sabemos que no Brasil, a cobrança por resultado é muito grande, não tem muito tempo, a cobrança da imprensa, a cobrança da torcida é muito alta."

Confira a entrevista do UOL Esporte com o lateral do Monaco:

UOL Esporte: Caio, você é um lateral esquerdo faz pouco tempo. Você se tornou lateral lá no Fluminense. No Brasil, a gente tem muito lateral que apoia, lateral que vai ao ataque, enquanto na Europa é um pouco diferente. Tem mais a marcação. É muito diferente, principalmente para você, ser lateral esquerdo no Brasil e na Europa?

Caio Henrique: Eu acho que isso hoje em dia mudou um pouco porque tudo depende da forma que o treinador joga, do estilo de jogo que o treinador propõe. No começo da temporada, nossa equipe jogava de uma forma e, agora, da metade para o final, estamos jogando de outra forma que beneficiou porque é parecido com o estilo que eu jogava no Brasil, que eu jogava no Fluminense. Quando nós temos a bola, eu praticamente viro um ala, já recebo a bola mais adiantado. Acho que isso me favoreceu bastante. E na hora de defender, eu sou um lateral, sou um defensor normal, na linha de quatro. Acho que isso depende muito do treinador, do que o treinador pede.

UOL: Como você virou lateral esquerdo lá no Fluminense?

CH: Quando eu cheguei no Fluminense, teve uma semana que os laterais esquerdos estavam lesionados, não podiam jogar e não tinha quem jogasse na lateral esquerda, na Sul-Americana, no jogo contra o Antofagasta (CHI). O professor Dniz me perguntou se eu já tinha jogado, e eu falei que sim. Desde que eu iniciei no futebol, com 5, 6 anos, eu comecei na lateral esquerda. Mais pra frente, já no Atlético de Madri, na equipe principal, eu fiz alguns treinos de lateral esquerdo porque também tinha alguns jogadores lesionados. E eu falei pro Diniz: 'eu consigo fazer. Já fiz, já treinei, alguns jogos na equipe B também fiz lateral esquerdo'. Ele falou assim: 'nesse jogo, você vai pra mim, pra quebrar esse galho'. Falei sem problema. E nesse jogo, eu fui eleito o melhor jogador da partida, fiz uma boa partida e desde ai não sai mais.

UOL: Você mantém uma relação com o Diniz?

CH: Olha, faz tempo que eu não falo com ele. A última vez que eu falei com ele foi no início do ano passado. Mas guardo um carinho enorme por ele, sou muito grato porque, quando ele se despediu do Fluminense, eu até disse que ele foi o responsável por recuperar em mim a vontade de jogar futebol porque, para mim, não foi fácil ir para Europa, não jogar, ter que voltar ao Brasil, começar praticamente tudo do zero. Foi ele quem me incentivou, foi ele que acreditou em mim. Claro, eu sou muito grato a ele e tenho esse carinho enorme por ele.

UOL: Você acompanhou um pouquinho o São Paulo com ele ou não?

CH: Sim, sim, o Campeonato Brasileiro, quando eu tenho tempo, estou sempre acompanhando os jogos.

UOL: E o que você acha que desandou ali? Não sei se você acompanhou, o São Paulo estava na ponta, ficou por algum tempo e depois, acabou caindo...

CH: Pelos últimos jogos que eu vi, foi um pouco de falta de confiança, né? Acho que depois da eliminação da Copa do Brasil, a equipe sentiu um pouco e isso comprometeu um pouco no Campeonato Brasileiro. A gente sabe que no futebol, as coisas mudam muito rápido. É como eu te disse, tinha alguns pontos de vantagem, só que tem outros adversários também qualificados. Acho que o futebol, as coisas mudam muito rápido. Acho que foi isso, um pouco de falta de confiança.

UOL: O Diniz tem um estilo de jogo muito característico e isso não é segredo para ninguém. Você acha que o Diniz daria certo na Europa, tendo mais tempo para poder treinar?

CH: Ah, com certeza. Inclusive, algumas equipes da Europa, algumas equipes pequenas, com treinadores jovens, como é o caso do professor Diniz, têm esse estilo de jogo. E claro, a diferença da Europa para o Brasil é que aqui se tem tempo para trabalhar. Nós sabemos que no Brasil, a cobrança por resultado é muito grande, não tem muito tempo, a cobrança da imprensa, a cobrança da torcida é muito alta. Acho que a diferença da Europa para o Brasil é justamente isso, é o tempo de trabalho.

UOL: Depois da sua temporada de destaque no Fluminense, você vai para o Grêmio por empréstimo. O Atlético de Madri, nessa época, não quis te manter, te puxar de volta e te manter no elenco?

CH: O que aconteceu foi o seguinte: tiveram algumas conversas para eu voltar a Atlético, mas, naquele momento, eu também não queria porque queria aproveitar um pouco mais da fase que eu estava vivendo. Consegui fazer uma boa temporada no Fluminense e, naquele momento, eu e meu estafe, nós vimos com bons olhos ficar mais uma temporada no Brasil. Também tinha preferência pelo Fluminense, só que o Atlético de Madri acabou pedindo um valor muito alto pelo empréstimo, e o Fluminense não conseguiu pagar. Tive a oferta do Grêmio e vi que era uma boa equipe para eu continuar evoluindo. Optei pelo Grêmio.

UOL: Foram só cinco jogos no Grêmio, mas diante de tudo que aconteceu no ano anterior, como surgiu o interesse do Monaco. Eles já te observavam desde o Fluminense?

CH: Eu tinha um contrato de empréstimo com o Grêmio, só que o contrato tinha uma cláusula que até o meio do ano o Atlético poderia me chamar de volta. E a gente, no início do ano, não imagina que a Covid-19 tomaria aquelas proporções. Quando eu fiz os cinco jogos, o campeonato paralisou, fiquei um mês mais ou menos sem treinar. Foi quando o Atlético ativou a cláusula. Eu volto para Madri, chego e testo positivo para Covid. A princípio, eu voltaria já para treinar e fazer a pré-temporada com o clube. Fiquei um mês afastado por causa da Covid e é quando surge o interesse do Monaco. Eu tinha na mente também pedir um empréstimo para jogar, porque eu via naquele momento que seria muito difícil jogar na equipe do Atlético de Madri e teve essa oferta do Monaco de compra. Foi muito boa para mim, me apresentaram o projeto e eu acabei aceitando.

UOL: Voltando um pouquinho na sua carreira. Como foi a saída do Santos para o Atlético de Madri, teve algum problema contratual? Como é que foi essa saída? Por que você saiu do Santos?

CH: Eu entrei no Santos com 10 anos, na categoria sub-11, e dali fiquei até os 18, até o sub-20. Faltava apenas um ano para meu contrato acabar... Foi quando eu tive a oferta do Atletico de Madrid. A prioridade era ficar no Santos, só que naquele momento o projeto que eles me ofereceram, a oferta de renovação, foi muito abaixo daquilo que a gente esperava, até em termos de salário mesmo. E também não tinha uma certeza que eu poderia estar integrando a equipe principal em um espaço de tempo, a médio prazo, a longo prazo. A única coisa que eles me disseram era que eu era um jogador muito importante e nada mais. Para mim, me pareceu muito mais vantajoso ter um projeto de um Atlético de Madri, de uma equipe que àquela época estava na final da Champions. Claro, eu olhei aquilo ali e falei 'poxa, eu tenho a oportunidade de, com 18 anos, estar indo para Europa, pra um grande clube, morar numa grande cidade, com um projeto desses...Naquele momento, eu e minha família, nós achamos melhor assinar contrato com o Atlético.

UOL: Você chega no Atlético, fica um bom tempo lá, integra o profissional, chega até a estrear e, quando volta ao Brasil, o Santos até demonstra interesse... Você também tinha interesse em voltar a jogar no Santos, mas o Santos faz uma proposta de te colocar no time B. Foi isso que aconteceu?

CH: Sim, sim. Eu fiquei dois anos no Atlético, jogava com a equipe B, treinava com a equipe principal. Cheguei a ser convocado em alguns jogos para a equipe principal, mas não tinha minutos. Eu tive que voltar pro Brasil, procurar um clube para voltar aparecer porque eu estava naquela idade de começar a explodir na equipe principal. Precisava jogar, precisava aparecer. Quando eu volto pro Brasil, eu tenho essa sondagem do Santos e tenho a sondagem do Paraná. No Paraná quem era o treinador era o Rogério Micale, que foi meu treinador na seleção sub-20. Pra mim, eu achei muito mais vantajoso ir para equipe do Paraná, jogar uma Série A do Brasileiro do que voltar pro Santos, na equipe B e ter que começar praticamente tudo do zero. Pra mim, naquele momento, achei que seria muito mais difícil. Eu acabo acertando com o Paraná, que o treinador eu já conhecia, foi meu treinador na seleção e acabo acertando minha volto pro Brasil.

UOL: Você ficou de alguma forma magoado com o Santos, tanto na época da renovação que o projeto foi abaixo do que você esperava, quanto na hora de voltar que o Santos queria te colocar no time B?

CH: Sim, isso dai eu nunca escondi. Na época dessas reuniões com o Santos, alguns integrantes, eu não sei quem, da diretoria do Santos colocaram na imprensa que tinham feito mais de cinco reuniões comigo e com a minha família, que tinham oferecido o valor X. Isso foi tudo mentira. Eles fizeram apenas uma reunião, uma reunião com a minha família e com o meu empresário, sabe? De certo modo, aquilo me afetou porque muitos torcedores vieram me xingar nas redes sociais, dizendo que eu queria dinheiro, que eu queria aquilo. Na verdade, não foi nada disso. Naquele momento, não tive chance de me explicar, não tive chance de responder. Simplesmente tive que aguentar calado. A vida seguiu. ­Naquele momento, sim, fiquei magoado, mas hoje já são águas passadas.