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Autor evita polêmica por novo estatuto do Cruzeiro: "transparente e claro"

Presidente da Comissão que redigiu novo estatuto "rasgou elogios" ao documento - Igor Sales/Cruzeiro
Presidente da Comissão que redigiu novo estatuto "rasgou elogios" ao documento Imagem: Igor Sales/Cruzeiro

Guilherme Piu

Do UOL, em Belo Horizonte

07/11/2020 04h00

Os conselheiros do Cruzeiro se preparam para uma das mais importantes reuniões do Conselho Deliberativo do clube nos últimos tempos. Os membros do legislativo celeste analisarão em 19 de novembro a proposta de alteração no estatuto do clube, em Assembleia Geral Extraordinária agendada para a sede do Barro Preto, na região centro-sul de Belo Horizonte.

Antes mesmo do encontro várias polêmicas tomam conta dos bastidores da Raposa por reclamações de torcedores e de alguns conselheiros. Grupos entendem que as mudanças propostas no documento estão aquém do esperado.

O UOL Esporte procurou o responsável pela comissão que redigiu a proposta do novo estatuto do Cruzeiro. Desembargador de Justiça, José Eustáquio Lucas Pereira, conselheiro nato do clube, rasgou elogios ao documento.

"Penso que o Estatuto sinaliza uma mudança de cultura na gestão do clube. Traz mais transparência, objetividade e clareza nos seus termos. Posso citar, por exemplo: a criação do Conselho de Administração; a criação da obrigatória apresentação e aprovação do orçamento anual; a criação de um comitê de governança, gestão e compliance; a definição de regras bem expressas para a aplicação de penalidades disciplinares; a definição de regras rígidas de controle interno de gestão temerária praticadas por dirigentes [há capítulo específico]; entre outras questões, como a vedação ao Presidente de outorgar procuração, em nome do clube, para fins de assunção de obrigações patrimoniais ou de gestão administrativa", disse José Eustáquio.

Dentre as várias contestações de parte do Conselho está uma em especial, disposta no artigo 21, que trata da benemerência de conselheiros. Nesse tópico há a autorização, dentre outros cargos, para que o presidente da Comissão de Reforma do Estatuto do Cruzeiro, caso o documento seja aprovado, se promova ao cargo de conselheiro benemérito pelo único motivo de ter presidido a pasta.

O status de benemérito é concedido no Cruzeiro atualmente a presidentes-executivos e do Conselho Deliberativo. Quem chega a essa condição está livre de despesas comuns, como pagamento de mensalidade no clube, por exemplo.

Benefício próprio?

Sobre ser alçado ao cargo apenas pelo fato de ter exercido a função de presidente da comissão do estatuto, o desembargador rechaçou as acusações de que legislou em causa própria, e ressaltou que todo o documento será analisado e passará pelo crivo do Conselho de forma democrática.

"A proposta é mais ampla e impessoal, senão vejamos o texto insculpido no art. 21: 'Serão, também, alçados à condição de Conselheiros Beneméritos os Conselheiros Natos que tiverem presidido alguma Comissão de Reforma Estatutária do Cruzeiro Esporte Clube, desde que tenha havido a sua aprovação e o novo Estatuto tenha entrado em vigor'. O Conselho Deliberativo votará, acatando ou recusando, essa e as demais cláusulas do estatuto. E a decisão será soberana e bem-vinda, qualquer que seja ela. Enfim, vejo essa discordância, bem como todas as demais que possam existir, como manifestação legítima de participação nesse debate. Críticas e concordâncias necessariamente farão parte desse momento. É o normal e o desejável", disse em nota enviada ao UOL.

Esse tópico em particular foi muito criticado, inclusive, por quem ocupa cadeira na comissão de redação do estatuto e ostenta a posição de benemérito no Cruzeiro.

"Isso vai ser levado para a Assembleia Geral discutir, mas acho que não vai ser aprovado. Já foi debatido na elaboração do novo estatuto, foi de forma democrática, mas eu admito que foi difícil passar entre a própria comissão que criou o documento. A minha opinião eu dou, sou contrário. Não aprovo. Expus isso para os membros da comissão. Essa figura do benemérito deveria, na minha opinião, deixar de existir como ela é vista hoje. Não acho que essa questão da benemerência tenha que estar ligada aos ex-presidentes, executivo e do Conselho. Presidente tem que fazer o melhor pelo clube, não pleitear benemerência. Benemérito tem que ser aquele que é de fora e faça algo valoroso pelo clube", opinou ao UOL nesta semana o ex-presidente cruzeirense Gilvan de Pinho Tavares.

"As figuras do conselheiro e do associado benemérito sempre existiram e são homenagens que o clube define como relevantes. Mas, o mais importante, com o novo estatuto: todos os que, porventura, tornarem-se conselheiros beneméritos, caso o estatuto entre em vigor, não ficarão mais isentos de pagamento das mensalidades do clube, tal como ocorre atualmente", completou José Lucas Pereira.

Democratização

O presidente da comissão que redigiu o novo estatuto elogiou também o novo espaço dado ao torcedor. Na visão do desembargador, houve "avanço considerável" no que tange à participação da torcida nas decisões do clube.

"Quanto à participação da torcida, penso ter havido um avanço considerável em relação ao que hoje existe. Foi criada uma categoria de associado, na qual o torcedor terá participação estatutária na vida do clube, com direito a votar e, o que é mais importante, ser votado também!
Em resumo, o ciclo de mudanças necessárias no clube é constante e o estatuto faz parte dele. Algumas pessoas desejarão mudanças ainda mais radicais, outros desejam menos mudanças. Isso faz parte do debate e é saudável", comentou.

Apesar disso, torcedores e conselheiros criticaram a "sutiliza" das mudanças em relação a esse tópico em particular.

"A questão da participação efetiva do torcedor nos rumos do clube foi desconsiderada, colocando-se um artigo que prevê uma participação irrisória dos torcedores. Muito mais uma alegoria do que propriamente uma garantia", criticou o grupo Pró-Cruzeiro em nota enviada ao UOL Esporte.

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