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Herói da Batalha dos Aflitos hoje tem pousada e critica "cabeças de bagre"

Sandro Goiano, ex-volante do Grêmio - AFP/Getty Images/JEFFERSON BERNARDES/
Sandro Goiano, ex-volante do Grêmio Imagem: AFP/Getty Images/JEFFERSON BERNARDES/

Jeremias Wernek e Vanderlei Lima

Do UOL, em Porto Alegre

08/10/2020 04h00

Sandro Goiano, ex-volante de Grêmio, Sport e Paysandu, tem um ritual. A cada três dias, para tudo e vai torcer pelos clubes por onde passou. Apaixonado por futebol, o antigo titular de Mano Menezes no Olímpico e membro do histórico time de Belém do começo do século curte também o dia a dia dos times. A rotina só tem um asterisco: as críticas ao nível atual do jogo.

Aos 47 anos, Sandro Goiano vive em Pirenópolis, no interior de Goiás, onde administra uma pousada. De lá, o capitão do famoso time gremista da Batalha dos Aflitos de 2005 monitora tudo ligado ao futebol brasileiro.

"Todos os dias eu levanto cedo e vejo as notícias do Paysandu, Grêmio e Sport. São os três clubes onde eu passei e onde eu fui mais feliz na minha carreira. Devo muito a esses clubes e estou sempre acompanhando. Até porque, eu fui coordenador de futebol do Sport, mas esses três clubes estão dentro do meu coração", afirma o ex-volante.

Atacante no início da carreira, Sandro Goiano emplacou como volante e ganhou notoriedade no Paysandu. A passagem pelo Grêmio, porém, foi forte. "Eu joguei sete anos no Paysandu, mas nos três anos que eu vivi em Porto Alegre foram sem sombra de dúvida os mais marcantes da minha vida", conta.

Aos olhos do antigo jogador, o Flamengo ainda é o principal time do país. Por tudo que joga e por tudo que faz os outros times jogarem.

"Da minha época pra cá, o futebol mudou, mudou bastante o futebol. Enfim, hoje a força física vale muito, tem muitos jogadores 'cabeça de bagre' jogando e ganhando milhões aí, e não é isso tudo de jogador", opina.

Confira a entrevista completa

UOL Esporte: A sua base foi toda no Goiás?

Sandro Goiano: Sim, eu comecei no Goiás, depois eu saí e fui para o Rio Grande do Sul, pro Caxias.

UOL Esporte: Você tinha um ídolo na posição? Você sempre foi volante?

Sandro Goiano: Não, eu era centroavante na base do Goiás, aí eu fui pra Caxias, virei o segundo homem de ataque mais pelo lado, depois eu virei meia fui considerado o melhor meia no futebol paraense pela Tuna Luso, fui pro Vasco da Gama, de lá o Paraná Clube me comprou. Aí, o Lazaroni me colocou de volante, então foi o Lazaroni que me colocou de volante, ele me disse que eu tinha uma boa visão, isso foi em 97.

UOL Esporte: Você despontou para o cenário do futebol brasileiro no Paysandu?

Sandro Goiano: Foi no ano em que eu fui para o Paysandu em 2000, conquistamos o Estadual em 2001 fomos campeões brasileiros da Série B, 2002 campeão da Copa Norte, campeão estadual, campeão da Copa dos Campeões, que deu vaga para disputar a Libertadores, inédita na vida do clube em 2003. A Libertadores para o Paysandu é um marco, e a gente começou ganhando lá no Peru contra o Sporting Cristal, que tinha um baita de um time, foi o meu primeiro gol na Libertadores. Um gol meu e o outro do Robigol, nós ganhamos de 2 a 0. Na primeira fase o Paysandu não perdeu pra ninguém no grupo, tinha Sporting Cristal, Universidad Católica e Cerro Porteño.

UOL Esporte: Recentemente viralizou um vídeo seu torcendo pelo Grêmio no Gre-Nal. Você acompanha o dia a dia do clube mesmo? Vive perto das coisas do Grêmio? Como é torcer à distância?

Sandro Goiano: Na verdade, de todos os três. Todos os dias eu levanto cedo e vejo as notícias do Paysandu, Grêmio e Sport. Na verdade, são os três clubes que onde eu passei e onde eu fui mais feliz na minha carreira, eu devo muito a esses três clubes. Estou acompanhando, até porque eu fui coordenador de futebol no Sport Recife, mas esses três clubes estão dentro do meu coração."

UOL Esporte: Não tem aquele que você gosta um pouco mais?

Sandro Goiano: Eu joguei muito tempo no Paysandu, eu joguei sete anos no Paysandu, mas nos três anos que eu vivi em Porto Alegre foram sem sombra de dúvida os mais marcantes da minha vida.

UOL Esporte: Na época de Grêmio, quem eram os melhores do vestiário na hora da resenha?

Sandro Goiano: Eu era um dos que puxava. Tinha muitos, tinha o Patrício, Tcheco, William, Teco, Schiavi, que era muito, muito alegre também o argentino. O Mano tinha o ambiente realmente muito bom nas mãos, infelizmente, nós pegamos numa final de Libertadores um Boca Juniors muito forte.

UOL Esporte: Aquele time de 2007 marcou uma época do clube. Qual é a primeira coisa que vem à cabeça quando pensa naquela temporada?

Sandro Goiano: Na verdade, começou em 2005, que o grupo passou pela Batalha dos Aflitos e voltamos para a primeira divisão. Quatro jogadores expulsos, e a gente consegue conquistar o título da Série B. Mas, pelo jeito que foi pra gente ser campeão da Série B, em 2006, a gente deu uma encorpada no elenco. Aí, a gente pelo Brasileiro consegue vaga para uma Libertadores e, em 2007, disputa uma Libertadores e chega na final. É um outro marco também. A gente merecia o título, mas é o que eu falei, a gente pegou um Boca Juniors forte, um dos melhores da história.

UOL Esporte: Para você o que representa a Batalha dos Aflitos?

Sandro Goiano: Ah, muito, e até porque nessa pandemia estava passando na televisão e eu voltei a assistir de novo e foi um drama que a gente viveu. É uma coisa inexplicável, é difícil acontecer o que aconteceu no Recife no dia 26 de novembro de 2005. [Sandro foi capitão do time naquela tarde decisiva na Série B e um dos jogadores que terminou a partida em campo]

UOL Esporte: E depois disso seus pés na calçada da fama do clube...

Sandro Goiano: Pois é, eu recebi essa homenagem lá no velho casarão, no Olímpico, e lá tem os jogadores que marcaram, fizeram história lá, e os meus pés estão lá na Arena do Grêmio também.

UOL Esporte: Sport Recife, campeão da Copa do Brasil em 2008 contra o Corinthians. Quais as lembranças?

Sandro Goiano: Quando cheguei no Sport, eu disse, foram as minhas primeiras palavras, eu lembro como se fosse hoje, falei uma coisa para o presidente. Hoje, é fácil ir para a Sul-Americana, é só você ficar praticamente onde não cai que vai para a Sul-Americana. Mas em 2008 não tinha a Sul-Americana, o Sport não disputava torneio internacional, e eu cheguei para o presidente e falei assim: 'pode ter certeza que vou ajudar a levar o Sport a uma Libertadores da América, nós vamos disputar'. Aí, ele falou: 'será?'. Eu falei: 'pode ter certeza'. E deu tudo certo, fomos campeões da Copa do Brasil e, em 2009, disputamos a Libertadores com a camisa do Sport.

Sandro Goiano, ex-volante do Sport - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

UOL Esporte: Lesão grave, traumatismo craniano em 2008 jogando pelo Sport. Como foi?

Sandro Goiano: É verdade, foi na Vila Belmiro, Santos x Sport, e eu fui disputar uma bola e eu dei uma cabeçada no Alisson. Depois eu não vi mais nada e já fui direto para o hospital, fiquei uns 15 dias parado, sem poder treinar, mas logo em seguida eu voltei normal, não tive sequelas não. Foi um choque forte, eu já caí desmaiado em campo e só fui acordar no hospital bem mais tarde.

UOL Esporte: O Sandro Goiano foi o último 'volantão' da história do Grêmio? Por que atualmente o time joga com outro estilo, não?

Sandro Goiano: Pois é, agora lá são outras características. Na verdade, esses anos de Grêmio, que virou essa máquina de ganhar títulos nos últimos anos, sem sombra de dúvida mudaram a característica. O Maicon virou a referência com um toque de bola mais refinado, o Grêmio mudou um pouco o seu jeito de jogar. Faz tempo que o Grêmio está atrás de um volante assim que marca forte e que sabe sair pro jogo.

UOL Esporte: Você era um líder nato em campo. Atualmente, no futebol brasileiro estão faltando Sandros Goianos?

Sandro Goiano: Olha, eu não sei. Todos os jogadores que param falam assim: 'parece que o futebol hoje ficou sem graça/ . Eu não, tem graça, eu gosto demais de assistir futebol, estou torcendo direto acompanho meus times direto. Esse Flamengo do ano passado pra cá é o time que, mesmo hoje não jogando bem, está disputando a liderança do Brasileiro. Mas eu acredito que é o time mais forte do Brasileiro e é vitrine, né? Agora, da minha época pra cá o futebol mudou, mudou bastante o futebol. Enfim, hoje a força física vale muito, tem muitos jogadores 'cabeça de bagre' jogando e ganhando milhões aí, e não é isso tudo de jogador. Também, o que diretores, presidentes dos clubes fazem para os jogadores é sacanagem muito grande. Eu fui dirigente de futebol no Sport em 2013, quando nós subimos o time para a Série A. Eu era um supervisor de futebol no Sport.

UOL Esporte: O que você faz atualmente? Pensa em ser treinador de futebol?

Sandro Goiano: Depois que eu saí do Sport, eu não mexi mais com bola. Montei uma escolinha em Goiânia e estou tomando conta das minhas coisas. Tenho uma pousada em Pirenópolis (Goiás). Então, estou tomando conta das coisas que eu conquistei no mundo da bola.