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Jogadores do Boavista recusam receber direito de arena calculado pelo Fla

Arrascaeta sofre marcação do Boavista em partida válida pela Taça Rio, segundo turno do Carioca - Alexandre Vidal / Flamengo
Arrascaeta sofre marcação do Boavista em partida válida pela Taça Rio, segundo turno do Carioca Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

05/09/2020 04h00

Desdobramento da Medida Provisória 984, que ficou conhecida como MP do Mandante, o direito de arena vem gerando polêmica nos bastidores do futebol carioca. Os jogadores do Boavista se recusaram a receber diretamente os R$ 52,02 que o Flamengo alega ser de direito pelo jogo válido pela Taça Rio, segundo turno do Campeonato Carioca.

Na última quinta-feira (3), os atletas do Volta Redonda que participaram do duelo com o Rubro-Negro, pela semifinal da Taça Rio, receberam, cada um, R$ 1.212,07. Os dois confrontos tiveram o clube da Gávea como mandante e foram transmitidos ao vivo pela FlaTV, já com base na MP, então recém-assinada pelo presidente Jair Bolsonaro. A informação foi publicada, primeiramente, pelo site do "Globo Esporte" e confirmada pelo UOL Esporte.

Em resposta a uma notificação extrajudicial, o Flamengo alegou que a discrepância entre os valores se dá devido à venda da concessão da partida. Contra o Boavista, pela última rodada do segundo turno, foram negociados apenas os direitos internacionais, gerando uma arrecadação de R$ 43.700. Contra o Volta Redonda, foram os nacionais e internacionais, o que teria rendido R$ 1.018.144,75.

O "direito de arena", que, com a MP, passou a ser pago pelos clubes mandantes, é a fração de 5% da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais para distribuição, em partes iguais, aos atletas que participaram do duelo, mesmo que tendo sido apenas relacionados.

Antes, como regia a Lei Pelé, de 24 de março de 1998, os sindicatos de atletas recolhiam o dinheiro referente ao direito de arena diretamente com os detentores dos direitos de transmissão e repassavam aos jogadores. Com a MP, a incumbência do repasse volta a ser dos clubes, como ocorria na década de 1990.

Os jogadores do Boavista, que não chegaram a procurar o Fla para a transação, indicaram que, caso haja qualquer pagamento, este terá de ser efetuado via Sindicato dos Atletas para que a entidade faça o repasse.

O caso promete ter desdobramentos judiciais.

Jogadores cobram Bolsonaro

Sem máscara, Bolsonaro encontrou dirigentes de clubes brasileiros durante a pandemia de covid-19 - Marcos Corrêa/Presidência da República - Marcos Corrêa/Presidência da República
Imagem: Marcos Corrêa/Presidência da República

Como o UOL Esporte mostrou ontem (4), jogadores estão se reunindo a fim de cobrar diálogo com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). A insatisfação do grupo, contudo, se refere à nova forma de recolhimento dos direitos de arena.

A alteração neste trâmite faz com que os atletas temam atrasos no pagamento do montante. Nomes de grandes clubes aderiram ao movimento e cobram uma conversa com Jair Bolsonaro sobre o tema.

"A MP caiu como uma bomba em cima dos atletas no direito de arena. Ela veio mais para tumultuar que ajudar. Está sendo falada sobre o mandante negociar a transmissão, só que no bojo dela, veio a mudança da redação da forma de pagamento do direito de arena. A Lei Pelé determina que seja através dos sindicatos. Nós mostramos aos parlamentares que haveria retrocesso, porque o direito de arena é o mais certo que o atleta recebe ao longo do ano, os salários sempre atrasam. O governo [federal, representado por Jair Bolsonaro] tomou uma medida sem ouvir o outro lado, ele tomou uma medida motivado por pedido dos clubes e por restrições aos sindicatos", explicou Alfredo Sampaio, presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj) e integrante da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf).

Fla solicita que rivais mandem mensagem no WhatsApp

Pedro, do Flamengo, e Matheus Ferraz, do Fluminense, disputam bola na final do Carioca 2020 - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Na última quinta-feira, o Flamengo, por meio de comunicado publicado no site oficial, solicitou que jogadores de Boavista e Fluminense entrem em contato com o clube, por WhatsApp, para que estes atletas recebam o direito de arena referente aos jogos contra o Rubro-negro. No caso do Tricolor, a partida foi referente à final do Campeonato Carioca.

"O Clube de Regatas do Flamengo ("FLAMENGO") vem a público solicitar que os atletas do Boavista Sport Clube e do Fluminense Football Club, que foram relacionados nas partidas válidas pelo Campeonato Carioca 2020, realizadas nos dias 01.07.2020 e 15.07.2020, respectivamente, entrem em contato por meio do WhatsApp do Clube (21) 98064-0004, e encaminhem foto do documento de identificação civil, para que possam agendar o recebimento dos valores relativos ao pagamento do direito de arena, previstos no artigo 42, §1º, da Lei 9.615/98 (Lei Pelé), recentemente alterada pela edição da MP 984/20".