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Rivalidade em hotel e pedido de açúcar marcam amizade Ronaldinho-Negueba

Negueba com Ronaldinho nos tempos de Flamengo - Maurício Val/ VIPCOMM
Negueba com Ronaldinho nos tempos de Flamengo Imagem: Maurício Val/ VIPCOMM

Bruno Fernandes e Josué Seixas

Colaboração para o UOL, em Maceió

16/05/2020 04h00

Ronaldinho e Negueba personificavam o Flamengo em 2011. O primeiro, já cheio de títulos e reconhecido como um dos jogadores mais habilidosos do planeta, era a expectativa do que se tornaria o segundo. Hoje, nove anos depois, o mundo todo vive uma situação extrema e inimaginável. Com o tempo, as expectativas sobre cada um também se distanciaram da realidade.

Ronaldinho é acusado de falsificar documentos para entrar no Paraguai. Está em prisão domiciliar em Assunção. Há três anos na Coreia do Sul, Negueba reencontrou a alegria em jogar futebol. Por lá, os times já estão competindo de novo. O Gyeongnam, clube que defende, disputou o primeiro jogo no domingo (10), e empatou, mas o brasileiro não jogou devido a uma lesão no joelho.

Embora distantes em expectativa, os dois construíram uma amizade bonita, que rende histórias inusitadas até hoje. Muita coisa passa pelo olhar de um fã que teve a oportunidade de fazer história ao jogar com um ídolo.

A grande memória de Negueba com Ronaldinho, naquele ano, foi sobre o 5 a 4 entre Flamengo e Santos, pela 11ª rodada do Campeonato Brasileiro. Negueba não jogou, estava convocado à seleção brasileira para disputar o Mundial sub-20, mas viu, da concentração, Ronaldinho e Neymar quase num 1 contra 1, na melhor partida daquele Brasileirão.

"Quando fomos convocados, foi na época em que aconteceu aquele jogo entre Flamengo e Santos. Foram convocados do Flamengo: Galhardo, César, Frauches, Diego Maurício e eu. Do Santos foram: Alan Patrick, Danilo, Alex Sandro e Felipe Anderson. No momento do jogo, ficaram os flamenguistas assistindo ao jogo em um quarto e os santistas em outro", conta Negueba ao UOL Esporte.

A rivalidade começou a acirrar no corredor do hotel na Colômbia. Aos risos, o jogador conta que assistiu Ronaldinho e companhia salvar o time. "Aí 1 a 0 Santos, eles foram na nossa porta e começaram a zoar, uma rivalidade boa. Daí a pouco, 2 a 0 e a gente quietinho. 3 a 0 e eles gritando que era goleada. Quando o Flamengo começou a marcar, ficamos na nossa. Só que, meu amigo, quando virou o jogo... Eu entrei no quarto dos caras com um chute e fiquei zoando eles. 'Toma essa aí', e tal".

Assim como a alcunha "Ronaldinho", o apelido "Negueba" surgiu cedo. Quando chegou no Flamengo, ainda na base, tinha um jogador que também se chamava Negueba. O primeiro digno do nome foi dispensado. Funcionários do clube e companheiros de time acharam a semelhança interessante e "foi ficando e ficando e minha mãe até brincou. A pessoa põe um nome bonito, Guilherme, e colocam Negueba", explica.

No profissional, não foi diferente. No primeiro jogo, não estava Negueba na camisa, mas Guilherme, a camisa-memória para sempre guardada na casa da mãe — o único jogo em que não foi Negueba. "Quando acabou o jogo, o Luxemburgo meio que se tocou e me chamou e perguntou que Guilherme era esse e mandou colocar Negueba na camisa. Eu não entendi muito, só que ele veio dizendo que era para eu aprender a dar autógrafo com o nome Negueba. Ele disse que não queria me ver dando autógrafo com o nome de Guilherme, de jeito nenhum".

Tem açúcar aí?

Já em atividade na Coreia do Sul, durante férias no Brasil, o jogador foi surpreendido em casa por uma visita inesperada. Estava jogando futmesa com um parente e escutou alguém chamando na porta, só que não esperava visitas. Ignorou e seguiu o jogo. Os gritos continuaram. "Ô de casa, ô de casa"... E nada. Negueba nem tinha ideia de quem era. Daí a pouco, chega uma nova pergunta: "Tem açúcar aí?". Nessa, ele teve que ir até a porta. Era Ronaldinho, que estava querendo tirar uma brincadeira com o amigo.

"Pô, imagina: você está em casa e o Ronaldinho Gaúcho, que você cresceu vendo jogar, te fazendo uma visita, uma visita de peso. Ele passou pelo meu condomínio, parou, brincou comigo e foi embora pra casa dele. Meu irmão ficou até sem acreditar direito."

Um tempo antes, Negueba também já tinha feito uma visita, mas com convite. Foram ele, a esposa e a filha pequena conhecer a casa de Ronaldinho. Tinham passado um tempo sem se ver quando Ronaldinho resolveu surpreendê-lo.

Passados alguns anos, Negueba afirma que se entristece com a situação do amigo, mas que prefere não comentar sobre o assunto.

Estaduais e Campeonato Brasileiro

Agora, Negueba se concentra na recuperação de uma lesão no joelho, a mesma que teve quando estava no São Paulo. Durante a pandemia do novo coronavírus, ele não deixou de treinar e está quase pronto para voltar a jogar. Segundo ele, as duas pernas já estão ficando com o mesmo nível de musculatura.

Sobre a Covid-19, o jogador discorda do retorno do esporte no Brasil. Uma pessoa da família da esposa do atleta, inclusive, faleceu em decorrência da doença. Ele explica que a opinião é baseada na experiência que está tendo na Coreia do Sul.

"Aqui, nós tivemos muita conscientização, prevenção. O clube chegou, conversou, explicou sobre os cuidados. Nem sequer paramos de treinar. Ganhamos máscaras, álcool em gel. Mas o futebol só está voltando nesse momento porque o número de casos está caindo. No Brasil, nós vemos que todo dia aumenta. E, cara, deveria ser saúde em primeiro lugar. Eu acho que deveria esperar um pouco mais essa pandemia diminuir um pouco para que voltasse", opina.