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Negueba ri de piadas de 'haters' envolvendo Vinicius Jr.: 'Não me esquecem'

Negueba enfrenta marcação em jogo do Gyeongnam FC pela Liga dos Campeões da Ásia - Han Myung-Gu/Getty Images
Negueba enfrenta marcação em jogo do Gyeongnam FC pela Liga dos Campeões da Ásia Imagem: Han Myung-Gu/Getty Images

Bruno Fernandes e Josué Seixas

Colaboração para o UOL, em Maceió (AL)

15/05/2020 04h00

Guilherme Ferreira Pinto nunca foi esquecido pelos torcedores brasileiros. Mas, se alguém tentar achar a referência nesse nome, não vai encontrar nenhuma. A dica é que ele era da base do Flamengo, se tornou profissional no clube, quando Vanderlei Luxemburgo era técnico, e jogou só uma partida com o nome de Guilherme. Ficou na dúvida? Então, pode chamá-lo de Negueba.

Assim fica fácil. É Negueba para cá, Negueba para lá. Toda vez que se fala em Vinícius Júnior, que atua no Real Madrid, e se tenta desmerecê-lo nas redes sociais, é recorrente a entrada do nome de Negueba na jogada, como se fosse demérito ser qualquer um dos dois.

"É complicado, as pessoas querem desmerecer comparando um ao outro. Eu aprendi a tratar da melhor forma possível, porque quem está ou passa por um clube grande como o Flamengo está se expondo, não tem jeito. Não conheço o Vinicius Júnior pessoalmente, mas tenho amigos que conhecem ele e falam muito bem dele. Eu falo com a minha esposa: 'Caraca, não é possível, eu já estou há três anos fora. Os caras não me esquecem'. Porque de vez em quando vem alguma matéria, alguma coisa assim", afirma Negueba, rindo.

O ex-jogador do Flamengo está na Coreia do Sul há três anos, onde foi eleito o melhor meia do campeonato em 2018. Por lá, o futebol já está voltando. O Gyeongnam, clube que defende, disputou o primeiro jogo no último domingo (10) e empatou, mas o brasileiro não jogou devido a uma lesão no joelho.

Mas, é claro, ele sabe que o nome dele é inesquecível no Brasil. Vanderlei Luxemburgo disse isso lá atrás, quando o obrigou a colocar Negueba na camisa. Com o tempo e a maturidade, o jogador aprovou o apelido e aprendeu a lidar com as críticas e as tentativas de desmerecê-lo com bom-humor.

Sobre semelhanças entre os dois, o jogador conta que vê algumas. Tem uma jogada ou outra que possam ser parecidas, mas talvez o que as pessoas 'peguem no pé' sejam as semelhanças estruturais: ambos são negros, crias da base do Flamengo e chamaram atenção logo no começo. Em relação a jogador do Real Madrid, Negueba já o considera um grande jogador.

Maturidade se desenvolveu na Coreia

O que ele vê de positivo também é uma diferença entre eles. Negueba, por exemplo, diz que a falta de maturidade o fez se acomodar um pouco. Depois, ao sofrer lesões, começou a se desanimar.

"Em todo clube que não me machuquei, como no Flamengo no começo, no Coritiba, no Londrina e aqui na Coreia, por exemplo, eu fiz ótimas temporadas. O que aconteceu em uma época é que eu fiquei muito para baixo, bem desanimado e desacreditado. Tive que parar e reavaliar o que queria da minha carreira, porque havia uma dificuldade para retomar o que eu fazia. Aqui, para você ter ideia, compro as coisas para me cuidar depois dos treinos. Muda muita coisa quando a gente amadurece", avaliou o jogador, que atualmente está com 28 anos.

Além da maturidade, o jogador acredita que, com um trabalho mais atencioso e qualificado, enquanto estava na base e na subida ao profissional do Flamengo, talvez pudesse ter chegado mais longe. "Eu acho que não fui muito lapidado na base. Hoje em dia eles estão aproveitando melhor a base. Quando eu surgi em 2010, o Flamengo estava brigando para não cair para a segunda divisão. Foi tudo muito depressa. Tinha que entrar para jogar. O profissional é mais complicado."

Questionado sobre a falta de convocações à seleção brasileira quando se tornou profissional, já que tinha sido campeão do Mundial sub-20 e do Sul-Americano sub-20, além de destaque na Copa São Paulo de Futebol Júnior, Negueba explicou que essa linha do tempo não é tão regular ou certeira assim. Nas palavras dele, não é necessário apenas jogar bem, mas também se manter no mais alto nível para conseguir uma vaga na seleção principal.

"O exemplo é o Vinicius Júnior, a base toda de seleção e agora ele está bem, mas não está sendo convocado para a seleção brasileira. O Bruno Henrique levou tempo para chegar na seleção, mesmo no alto nível. Claro que ele foi, mas teve uma demora. O Gabigol também, fazendo gol pra caramba e demorou a ir. Então, é muito complicado a seleção brasileira no profissional."

De volta ao Brasil

Sobre a possibilidade de voltar ao Brasil, Negueba conta que encontrou no futebol coreano algo que tinha perdido no brasileiro. Apesar de possuir uma ótima relação com as torcidas pelos clubes em que jogou, principalmente a rubro-negra, não se vê retornando ao país nos próximos anos.

Um motivo é que, na sua visão, não há preconceito no país asiático, mas, sim, uma curiosidade por ser estrangeiro. Por morar em uma região de interior, Negueba conta que não se vê muitos estrangeiros na rua e, quando sai para passear com sua família, as pessoas pedem para tocar nos cabelos de sua filha pequena, por exemplo.

"Eles são muito corretos em relação a essas coisas. De vez em quando acontece isso [de mexerem no cabelo da filha], já que eu moro no interior aqui da Coreia, e eles lá não são muito acostumados a ter estrangeiros. Vemos que não é racismo e sim a curiosidade de não ter o contato normalmente", conta.

Alguns clubes brasileiros já o procuraram com propostas, mas, no momento, ele não vê essa mudança como prioridade. "Eu pretendo ficar um pouco mais por aqui, pois eu encontrei meu futebol de novo e recuperei a alegria que eu sempre tive de jogar futebol e estou muito feliz nesses três anos no futebol coreano."