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Moraes Moreira embalou título do Bahia e virou amigo de Zico e Jairzinho

Zulmair Rocha/UOL
Imagem: Zulmair Rocha/UOL

José Edgar de Matos e Leo Burlá

Do UOL, em São Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ)

14/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • "Boleiro", Moraes Moreira comandou o trio elétrico responsável pela festa do Bahia campeão brasileiro em 1988.
  • Na festa, o músico fez uma música para Bobô, craque daquela conquista.
  • A relação com futebol gerou amizades de Moraes Moreira com lendas do futebol brasileiro, como Zico e Jairzinho.
  • "Era de uma turma boa e que jogava umas peladas em um sítio no Recreio dos Bandeirantes. Com o tempo, nos aproximamos", disse Zico ao UOL Esporte.
  • "Frequentava a casa dos Novos Baianos, lá tinha um campo espetacular. Era um lindo movimento entre música e futebol", comentou Jairzinho.
  • Moraes Moreira morreu ontem (13), aos 72 anos, no Rio de Janeiro.

A relação entre Moraes Moreira e o futebol transcende a música "Saudades do Galinho", composta para refletir o quanto o torcedor do Flamengo se encontrava órfão com a saída de Zico para a Udinese, da Itália. Rubro-Negro de "carteirinha", o eterno músico dos Novos Baianos, que morreu ontem (13), criou amizade com o próprio Galinho, se aproximou de boleiros como Jairzinho e ainda embalou o título brasileiro de outro clube, o Bahia.

Baiano de Ituaçu, Moraes Moreira reservava um espaço no coração para simpatizar com o Esporte Clube Bahia. Em 1988, o ex-integrante dos Novos Baianos comandou o trio elétrico de Dodô e Osmar para comemorar o título brasileiro do clube tricolor. A festa pelo título teve até música especial feita para Bobô, craque daquela conquista por parte da equipe soteropolitana.

"Trio elétrico de Bobô e Osmar. Agita a bandeira e grita para toda a nação, torcida brasileira: Bahia, Bahia, Bahia campeão", cantou Moraes Moreira para o microfone da TV Globo, que cobria a festa.

Ser a voz do título do Bahia é apenas um exemplo da proximidade de Moraes Moreira com o futebol. O cantor e lenda do Carnaval baiano se tornou amigo de lendas brasileiras da modalidade. Talvez Zico surja como grande símbolo das amizades criadas em uma pelada promovida pelos Novos Baianos.

"Conheci o Moraes quando ele jogava no time dos Novos Baianos. O Fagner [cantor] foi algumas vezes e acabei indo assistir. Vi boa parte da turma, como Pepeu [Gomes], Evandro [Mesquita], Afonsinho, com quem não tinha muita intimidade antes, por ser do Botafogo", comentou Zico, em conversa com o UOL Esporte.

Moraes Moreira - Reprodução - Reprodução
Moraes Moreira com a camisa do Flamengo na capa de "Pintando o Oito"
Imagem: Reprodução

"Era de uma turma boa e que jogava umas peladas em um sítio no Recreio dos Bandeirantes [zona oeste do Rio de Janeiro]. Com o tempo, nos aproximamos. Ele era flamenguista de carteirinha, eu sempre gostei muito da música dele. Então passamos a nos ver mais", contou.

A amizade entre Moraes e Zico cresceu depois de o músico escrever sobre o camisa 10 da Gávea. A tristeza pela saída do ídolo para o futebol italiano gerou uma das composições mais icônicas sobre o esporte mais popular do país.

A cordialidade entre os dois se manteve em todos os encontros, até o último, ocorrido em 2017, ano em que o Flamengo prestou uma homenagem aos 70 anos do músico no salão nobre da Gávea [ver vídeo abaixo].

"Foi uma das grandes homenagens que recebi. A música dele fala com o coração do torcedor, isso é mais significativo. O sentimento é de emoção, acho que ele conseguiu traduzir o que o torcedor do Flamengo estava sentindo. Quando voltei, a gente se encontrou várias vezes, passamos a fazer muitas entrevistas juntos. Foi uma relação muito boa", recorda-se Zico, amigo de Moraes Moreira.

Ainda na Gávea, outra lenda flamenguista também lembra com carinho da relação com o cantor. Em conversa com a reportagem, Júnior ratifica o quanto Moraes Moreira se tornou íntimo de todo um elenco, a partir da exposição como ilustre torcedor rubro-negro.

"Ele foi um grande parceiro nosso, amigo mesmo, de frequentar vestiário, de ir aos jogos. É um cara com quem sempre tivemos uma ligação bem forte. Gravamos até um clipe com ele no nosso vestiário ['Flamengo Vitorioso']. Moraes frequentava muito a nossa concentração e eu o conheço desde a época dos Novos Baianos", declarou o lateral da seleção de 1982 e atual comentarista da TV Globo, também fã do baiano como músico.

"A obra musical dele é realmente é uma coisa espetacular. Por mais que não estivéssemos frequentemente juntos, sempre que nos encontrávamos ele era uma pessoa bem carinhosa. Foi uma pena. Em 1995, quando gravei um disco em homenagem ao centenário do Flamengo, o Moraes toca comigo uma música. Ele não poderia ficar fora dessa", sentencia.

Engana-se, porém, que Moraes era clubista nas relações. Ídolo do Botafogo, o tricampeão mundial Jairzinho também construiu relação de amizade com o músico.

Vivendo em um sítio por conta do isolamento social recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por conta da pandemia de coronavírus, o Furacão do Tri, na Copa do México, lembra com carinho dos seguidos encontros nas "peladas" dos novos baianos.

"Nossa relação era a mais próxima possível, bela amizade. Era um respeito pela parte musical e ele também jogava uma bola de alto nível. Foi sempre um bom relacionamento entre cantor e jogador", disse o camisa 7 do Mundial de 1970, em conversa com o UOL Esporte.

"Frequentava a casa dos Novos Baianos, lá tinha um campo espetacular. Eles tinham o prazer de receber jogadores atuantes e ex-jogadores. Era um lindo movimento entre música e futebol. Era uma harmonia de alto nível", lembra Jairzinho, lamentando a morte do amigo da bola e da música.

Lenda da cultura nacional, Moraes Moreira morreu na manhã de ontem (13), aos 72 anos, de infarto agudo do miocárdio em sua casa, localizada justamente no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. A informação acabou sendo confirmada ao UOL pela própria assessoria de imprensa dos Novos Baianos