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Advogado diz que empresária acusada esteve na casa de Ronaldinho no Rio

Ronaldinho em foto com a empresária paraguaia Dalia López - Reprodução
Ronaldinho em foto com a empresária paraguaia Dalia López Imagem: Reprodução

Marcelo Damato e Ricardo Perrone

Colaboração para o UOL, em São Paulo e de Assunção (PAR)

10/03/2020 04h00

Dalia López, empresária que intermediou a confecção de documentos paraguaios falsos para Ronaldinho Gaúcho e Assis, chegou a se encontrar com o ex-jogador brasileiro numa casa do ídolo no Rio de Janeiro. O episódio foi relatado às autoridades paraguaias pelo empresário brasileiro Wilmondes Sousa Lira, que também portava documentos falsos e está preso em Assunção, assim como os irmãos ex-jogadores.

A informação foi colhida pela reportagem em entrevista concedida por Jorge Kronawetter, advogado de Lira e sua mulher, Paula Oliveira Lira.
O defensor também afirmou que seu cliente recebeu ameaças visando seu silêncio no processo. Ele só falou com as autoridades após trocar os responsáveis por sua defesa.

Por conta das ameaças, o advogado atual de Wilmondes conseguiu sua transferência de prisão. Agora ele está no mesmo local em que Ronaldinho e seu irmão estão na capital paraguaia.

De acordo com Kronawetter, havia uma relação anterior ao episódio no Paraguai entre Dália e Ronaldinho Gaúcho. Tal situação, em tese, tira parte do peso da responsabilidade de seu cliente pela ligação entre a empresária e o ex-jogador.

"Isso pode ser comprovado pelas viagens que a senhora Dalia fez ao Brasil. Numa oportunidade, no Brasil, ele (Lira) põe a senhora Dalia em contato com Ronaldinho para ela compartilhar seu projeto (de ações beneficentes por meio de sua ONG). Isso no Brasil, não no Paraguai. Ela conversou com o Ronaldinho lá. Ela tomou um avião e foi conversar com o Ronaldinho no Brasil, na casa de Ronaldinho no Rio de Janeiro. Isso é o que o meu cliente disse em seu depoimento."

Por sua vez, Sergio Queiroz, advogado do ex-jogador do Barcelona, disse não ter a informação de que esse relato está registrado no depoimento do empresário.

Lira se aproximou de Dalia porque ela tinha relação estreita com a mulher do empresário. As duas são sócias de uma empresa paraguaia que, segundo o defensor do casal, nunca chegou a funcionar

"Para ter essa empresa, a senhora Paula precisou obter uma cédula de identidade paraguaia. Quem ajudou foi a senhora Dalia. Todo o procedimento foi feito de maneira legal. Então, ela e Wilmondes confiavam em Dalia. As conversas entre todos (incluindo empresária e
e ex-jogador) geraram a ideia de Wilmondes, Ronaldinho e Assis terem a cédula de identidade paraguaia para um dia poderem ter uma empresa no Paraguai. Como existia a confiança em Dalia, foi pedido para que ela cuidasse disso", afirmou o advogado.

Kronawetter diz que para um estrangeiro ter uma empresa em território paraguaio não é preciso obter passaporte local. Basta ter a cédula de identidade paraguaia. Conforme explicação do advogado, esse documento é obtido após um processo chamado radicação, que não exige que o estrangeiro more por pelo menos três anos no país. Entre outras exigências é necessário ter ficha limpa.

Ainda segundo a explicação do defensor de Lira, os três anos de residência no Paraguai são necessários para quem pretende obter a nacionalidade local. Documentos falsos em posse de Ronaldinho e Assis indicavam que ambos eram naturalizados paraguaios.

"É importante dizer que em nenhum momento Wilmondes, Ronaldinho e Assis pediram para a senhora Dalia providenciar passaporte. Eles só queriam a cédula de identidade. Por isso, Ronaldinho deve ter pensado que seu passaporte era um presente", afirmou o advogado.

Ainda pelo relato do advogado, Dalia disse que a presença de Ronaldinho em um órgão público para tratar da documentação, geraria tumulto. Então, explicou que tinha contatos que permitiriam a retirada dos documentos sem a presença dos dois nesses órgãos. A documentação foi entregue a eles no aeroporto de Assunção.

Ele ressalta que Lira chegou três dias antes de Ronaldinho ao Paraguai com objetivo de preparar sua participação em eventos beneficentes ligados à instituição comandada por Dalia e entrou no país com a cédula identidade identidade providenciada por ela. "Para mim, Wilmondes, Ronaldinho e Assis são vítimas. Eles acreditavam que os documentos eram verdadeiros. A senhora Dalia é vítima? Não sei. Dos quatro, ela é a única que tem a obrigação de conhecer os trâmites para obter essa documentação", opinou o advogado.

Apesar de Wilmondes ter embarcado antes para o Paraguai com a intenção de preparar a visita de Ronaldinho, o defensor nega que ele tenha envolvimento com um evento num cassino, que também levantou suspeitas por parte das autoridades paraguaias.

O advogado afirmou que seu cliente deu informações para o Ministério Público que ajudaram a identificar membros da máfia da falsificação de documentos no Paraguai.

"Ele não sabe o nome dos gestores (despachantes responsáveis pelos documentos), isso é tarefa para senhora Dalia. Mas falou o que sabia. É importante lembrar que por trás de tudo isso está estrutura da máfia dos documentos. Isso explica porque ele foi ameaçado. Quando o senhor Wilmondes foi preso, falaram para sua mulher que ele precisava ficar quieto, que deveria ter cuidado. Foram ameaças anônimas", apontou o advogado.

O defensor rebate a versão de que seu cliente tenha sido acusado de associação criminosa e de que ele tenha produzido documentos falsos. Ele trabalha para que essas duas acusações sejam retiradas e para que o trâmite inclua apenas a acusação de uso de documentação falsa, crime que já foi imputado a ele.

Já a defesa de Dalia alega que a responsabilidade pela documentação falsa é dos despachantes procurados por ela. A versão de momento é de que ela solicitou os documentos dentro da legalidade.

A empresária teve a prisão preventiva decretada, mas ainda não se apresentou às autoridades, apesar de seus advogados terem conversado com o Ministério Público nesta segunda (9).