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O que mudou para time de Iniesta ir de quase rebaixado a sensação no Japão

Iniesta e o técnico Thorsten Fink são duas das principais peças do Vissel Kobe - Etsuo Hara/Getty Images
Iniesta e o técnico Thorsten Fink são duas das principais peças do Vissel Kobe Imagem: Etsuo Hara/Getty Images

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

07/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Vissel Kobe conquistou os primeiros títulos de sua história em 2020
  • Time de Iniesta venceu a Copa do Imperador e a Copa do Japão
  • Chegada do técnico Thorsten Fink ajudou a equipe a engrenar
  • UOL Esporte conversou com Fink e com o brasileiro Dankler

A temporada 2020 já entrou para a história do Vissel Kobe. Se até o ano passado o clube de Iniesta e Podolski ainda não sabia o que era levantar uma taça, agora já são dois títulos conquistados: a Copa do Imperador, após vitória por 2 a 0 sobre o Kashima Antlers, de Zico, em final disputada em 1º de janeiro, e a Supercopa do Japão, vencida em 8 de fevereiro numa emocionante disputa de pênaltis contra o Yokohama F. Marinos.

Mas o momento de glórias demorou a chegar para o clube que, apesar de fundado em 1966 com o nome de Kawasaki Steel Soccer Club, só virou Vissel Kobe em 1994 após a cidade de Kobe entrar em acordo com a Kawasaki Steel para criar um clube profissional de futebol. Mesmo com o alto investimento e as contratações de Lucas Podolski, em 2017, Andrés Iniesta, em 2018, e David Villa, que chegou na temporada passada e já se aposentou, o Vissel demorou a engrenar e por pouco não acabou rebaixado na J-League de 2018, quando se salvou apenas nas últimas rodadas.

A história só começou a mudar a partir da metade do ano passado, quando o técnico alemão Thorsten Fink, ex-jogador do Bayern de Munique, assumiu o comando da equipe — ele estreou em 15 de junho e logo engatou uma sequência de quatro jogos sem perder, com três vitórias. Antes de ele chegar, porém, a fase era das piores: foram nove derrotas consecutivas, entre jogos da J-League e da Copa da Liga do Japão.

Técnico alemão Thorsten Fink comemora título da Copa do Imperador, pelo Vissel Kobe, com o filho - Arquivo pessoal/Thorsten Fink - Arquivo pessoal/Thorsten Fink
Thorsten Fink comemora título da Copa do Imperador com o filho
Imagem: Arquivo pessoal/Thorsten Fink

"O time vinha de nove derrotas consecutivas. Fui o terceiro treinador da temporada. Os atletas não acreditavam neles mesmos e jogavam um futebol muito defensivo. Então, conversei várias vezes de forma individual e com toda a equipe. Já havia visto uma partida ao vivo. Nós passamos a jogar com mais pressão, mais posse de bola. Demos passos pequenos no começo. Também havia problemas no nível defensivo. Então, busquei o melhor sistema de jogo com o intuito de ter mais a bola e uma defesa mais sólida", diz Thorsten Fink em entrevista ao UOL Esporte.

Mas o que não vinha funcionando antes do técnico alemão?

"Eu não sei. Na sua maioria tinha a ver com o caráter da equipe, convicção. Eles tinham dúvidas. Porém, quem duvida não vence, e vencedores não duvidam. Eles não acreditavam na filosofia do clube", acrescenta Fink, que em julho também ganhou o reforço do experiente Thomas Vermaelen, zagueiro belga ex-Barcelona.

As coisas começaram a dar certo e, além dos títulos conquistados mais para frente, o Vissel Kobe deixou a zona de perigo da J-League e terminou a temporada em situação confortável, na oitava colocação da tabela. Com Fink, o time obteve um aproveitamento de 55% no Campeonato Japonês, contra 19% de Takayuki Yoshida e 47% do espanhol Juan Manuel Lillo, os outros técnicos que passaram pelo Vissel em 2019.

Os cabelos loiros de Thorsten Fink fizeram sucesso na Alemanha, principalmente entre as fãs do Hamburgo - Kiyoshi Ota/Getty Images - Kiyoshi Ota/Getty Images
Imagem: Kiyoshi Ota/Getty Images

"A chegada do Fink foi de suma importância porque nós passávamos por um momento muito delicado dentro da competição. Nós tínhamos nove partidas sem vencer. A chegada dele nos trouxe aquela motivação que dá em todos os atletas, em qualquer clube, quando você não vem tendo um bom aproveitamento com um treinador e muda. Já tem aquela motivação individual de querer mostrar trabalho, a potência do grupo, e isso nos trouxe essa motivação interna, de cada um", conta o zagueiro brasileiro Dankler, de 28 anos, ex-Vitória e Botafogo e que defende o Vissel desde o começo de 2019.

Mudanças de sistema ao longo da partida

Além da motivação, Dankler aponta o trabalho dentro das quatro linhas feito pelo comandante alemão como fator essencial para a melhora do Vissel Kobe ao longo da temporada passada.

"O trabalho que ele trouxe para a equipe, o sistema, a facilidade da nossa equipe de jogar no 3-5-2, no 4-3-3, no 5-4-1... Nossa equipe muda muito de sistema dentro da partida. Ele implementou esse trabalho dentro do grupo, de mudarmos muito a formação dentro do próprio jogo conforme ele vai acontecendo. Ele dá um sinal e nós já mudamos. Creio que isso foi de suma importância para a equipe. Abraçamos o projeto, confiamos no que ele trouxe e trabalhamos muito porque não é fácil você ficar mudando de sistema dentro da própria partida. E com isso conseguimos mudar toda situação que passávamos dentro da equipe", elogia o zagueiro titular absoluto do Vissel.

Dankler, zagueiro brasileiro, cumprimenta David Villa, companheiro de Vissel Kobe - Divulgação - Divulgação
Dankler cumprimenta David Villa, que se aposentou no jogo do título da Copa do Imperador
Imagem: Divulgação

"Quando ele chegou, já conseguimos a primeira vitória diante do FC Tokyo, que é uma grande equipe, fora de casa... Essa vitória foi muito importante porque vimos que podíamos sair da situação que estávamos, brigando para não ser rebaixado. Nós terminamos o campeonato japonês em oitavo lugar. Creio que se não tivéssemos passado nove jogos sem vencer, poderíamos ter buscado algo muito maior dentro da competição. Mas conseguimos dar a volta por cima, nos recuperar na J-League, e dentro dos outros campeonatos também fomos crescendo automaticamente, como na Imperador, que fomos campeões, o primeiro título da história do Vissel Kobe. Ganhamos confiança até para essa nova temporada e fomos campeão da Supercopa do Japão. Ainda começamos muito bem na Champions League da Ásia. Isso é fruto de um trabalho que vem sendo feito há longo prazo", acrescenta.

De acordo com o zagueiro brasileiro, a parte física foi outro ponto que evoluiu bastante após a chegada de Fink, que exigiu trabalhos intensos além do que o grupo vinha fazendo. Depois de um início ruim em 2019, o Vissel encerrou o ano com oito vitórias em 12 jogos da J-League.

"Quando eu cheguei aqui, na segunda partida da J-League, falava-se muito da pré-temporada, que não foi intensa, forte. Foram trabalhos que não exigiam muito a parte física. Não posso falar porque não participei da pré-temporada, mas é o que diziam, que estávamos pagando pela pré-temporada que fizemos. A gente sempre começava bem no primeiro tempo e depois caía bastante", conta.

"E com a chegada do Finkel, com o trabalho intenso que ele trouxe, que exigia bastante, fez a gente recuperar a parte física. Quando no final da temporada algumas equipes foram caindo, nós viemos num crescimento físico e técnico muito grande, com essa questão do sistema que ele implementou. Isso fez com que nossa equipe tivesse uma evolução muito grande", acrescenta o zagueiro.

O fator Iniesta: "melhor jogador que vi na vida"

Não tem como falar de Vissel Kobe e não falar de Iniesta, certo? E também não há quem trabalhe com o espanhol que não se derreta pelo futebol do jogador campeão mundial em 2010. Hoje com 35 anos, o ex-craque do Barcelona já soma 44 partidas com a camisa do time japonês e acumula atuações de gala pelo Vissel.

"O Iniesta é um artista com a bola. Ele é o melhor jogador que vi na vida e também possui ótimo caráter", exalta o técnico Thorsten Fink.

Os elogios de Dankler não ficam atrás: "É um jogador indiscutível. É muito diferente e, com certeza, é o atleta de mais alto nível que já pude jogar. Ele sempre faz o imprevisível. Ele é aquele jogador que faz o inesperado. Então, por isso já dá para ter noção do que ele representa para toda equipe. Todos sabem da qualidade e de tudo que ele pode fazer dentro de campo porque ele já demonstrou e continua demonstrando a cada dia e a cada partida. É algo surreal".

"Por mais que já tenhamos a certeza da capacidade dele, quando ele faz o imprevisível sempre tira aquele 'uh' da torcida. E a gente comenta: 'esse cara é indiscutível, fora de série'. Já pude jogar com outros atletas como o Seedorf, no Botafogo, Podolski e David Villa aqui, que também são diferenciados, mas o Iniesta é o jogador que eu pude jogar e ainda estou jogando que é o mais fora de série", acrescenta o zagueiro.

Andrés Iniesta cumprimenta brasileiro Dankler após gol do Vissel Kobe - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

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THORSTEN FINK

1 - Administrar as estrelas do elenco... Vem sendo um dos grandes desafios até aqui? Algum deles deu mais trabalho?

Sim. Nem todos os treinadores conseguem trabalhar com estrelas. Este foi o desafio. Nós tínhamos oito, mas só cinco delas podiam atuar. As estrelas querem sempre jogar. Foi necessário explicar o porquê de não estarem jogando e qual era a nossa estratégia. Tivemos alguns problemas iniciais, mas acabaram entendendo as minhas palavras.

2 - O Vissel está preparado para vencer a Liga dos Campeões Asiática?

Por que não? É bastante difícil, mas nós temos que almejar vencer a ACL. Entretanto, não é uma obrigação. Várias equipes japonesas ganharam esse título no passado.

3 - Depois de mais de 30 anos jogando e trabalhando como técnico na Europa... Como vem sendo a experiência no Japão? O que tem de melhor e pior que a Europa?

O respeito é enorme aqui. As pessoas são honestas. Eu gosto desta mentalidade, vencendo ou não. O futebol é rápido e os treinadores adotam boas estratégias. Contudo, na vertente física, os campeonatos europeus e as melhores ligas são mais desenvolvidos. Por esse motivo os estrangeiros fazem a diferença aqui.

4 - Como vê o trabalho do compatriota Jürgen Klopp? Ele, de certa forma, ajuda os técnicos alemães a ganharem mais visibilidade e confiança por parte dos clubes?

Sim. Ajuda um pouco. Todos procuram por treinadores alemães. Eu gosto do estilo do Jurgen, onde podemos ver paixão e união, porém tenho um estilo próprio.

DANKLER

1 - Até quando você tem contrato com o Vissel? Depois disso, sonha em voltar ao Brasil ou ainda quer ficar mais tempo no exterior?

Tenho contrato até dezembro de 2020, só que eles têm a opção de que, se eu jogar uma porcentagem pela J-League, já se renova automaticamente. Quanto a voltar para o Brasil, pode ser, se for um clube grande que tenha ambição grande, que pense em ganhar títulos, com um projeto positivo, eu voltaria. Mas ainda penso em voltar para a Europa ou até permanecer aqui no Japão. São lugares onde pude ter uma evolução muito grande.

Aqui no Japão venho crescendo a cada dia, a cada jogo, e graças a Deus consegui fazer uma temporada maravilhosa no ano passado, e já começamos muito bem esse ano. Primeiro dia do ano já fomos campeões, com o título inédito para o Vissel, e no dia 8 conseguimos outro título. Dois títulos em dois meses. E agora estamos disputando a Champions League da Ásia e, dia 23, começa a J-League. Espero que a gente possa fazer grandes competições e trazer mais títulos para o Vissel. A vontade que termos de continuar fazendo história é muito grande.

2 - O quanto um técnico pode fazer a diferença em um time? Ou depende mais dos jogadores?

O técnico pode fazer uma grande diferença, a forma como ele leva seus atletas, como conduz o grupo. Claro que, dentro de campo, somos nós que precisamos estar atuando bem para que os resultados venham. Mas, muitas das vezes, a chegada de um treinador, a forma como ele passa confiança, o trabalho, faz muita diferença para a equipe. E, com certeza, a chegada dele foi de suma importância para a equipe, e tivemos esse crescimento juntos. Somos uma equipe muito forte, competitiva, que juntou com a comissão técnica do Finkel, todos entraram em concordância e teve esse crescimento da equipe.