Topo

Sindicância vê "inconsistências" em aumento de gastos e acordos do Cruzeiro

Wagner Pires de Sá, presidente do Cruzeiro, é alvo de investigação da Polícia Civil e do Ministério Público - Washington Alves/Light Press/Cruzeiro
Wagner Pires de Sá, presidente do Cruzeiro, é alvo de investigação da Polícia Civil e do Ministério Público Imagem: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro

Enrico Bruno e Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

31/07/2019 18h40

A comissão de sindicância montada por Zezé Perrella, presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, ainda não apresentou o relatório sobre as contas prestadas pela diretoria. No entanto, os conselheiros Jarbas Matias dos Reis e Walter Cardinali Júnior já o confeccionaram e apresentaram uma série de "inconsistências" na administração de Wagner Pires de Sá. O aumento dos gastos e pagamentos irregulares são os mais destacados. Por fim, sugerem uma auditoria externa nos documentos.

Em uma apresentação de 70 páginas, a qual o UOL obteve acesso, eles fazem ponderações relevantes sobre os gastos da gestão de Wagner Pires de Sá. Entre eles, o aumento mensal de R$ 7.541.133,00 da folha salarial, ocorrido entre dezembro de 2017 e abril de 2019. Outro ponto abordado é o gasto mensal com membros do Conselho Deliberativo. Em 2017, não havia conselheiros remunerados na Toca da Raposa. Hoje, há 30 no quadro de funcionários e eles custam R$ 670.592,00 por mês, de acordo com o relatório.

Eles ainda apresentam inconsistências nos documentos analisados. Em oito tópicos, a dupla explica o que considera inconsistente no trabalho:

1) valores pagos diferentes dos contratados;

2) funcionários contratados por CLT que também prestam serviços através de empresas que são sócios;

3) contratos inativos que ainda recebem pagamentos;

4) contratos de 2018 onde o contratado recebeu pagamentos referente a serviços prestados em 2017, cuja função inexistia;

5) mais de um intermediário para negociação de um mesmo atleta;

6) pagamento de intermediação para renovação de contrato de atletas que já são do Cruzeiro Esporte Clube;

7) objetos contratados diferentes da prestação de serviço;

8) detectamos um contrato de prestação de serviço, cuja contratada não teve identificado no clube seu trabalho.

Em um relatório em que preserva identidades, a dupla de conselheiros faz várias contestações. Veja, abaixo, os principais pontos abordados pelo documento:

Custos dos funcionários

O primeiro aspecto abordado no relatório da Comissão de Sindicância é referente ao gasto que o clube tem com os seus funcionários. Ao todo, são 717 integrantes do quadro, 93 a mais que em dezembro de 2017, último mês da gestão de Gilvan de Pinho Tavares.

O aumento no número de pessoas significou uma ampliação de 59% dos gastos. A remuneração mensal saiu de R$ 12.728.458,00 para R$ 20.269.591,00. Isto representa um aumento anual de R$ 90.439.596,00 no pagamento de salários de funcionários.

De acordo com o relatório, "mais de 90% dos funcionários tiveram mais de 10% de aumento no período".

Pagamento a conselheiros

O estudo mostra também o que é gasto com conselheiros no clube. Em 2017, não havia membro do Conselho Deliberativo remunerado pelo Cruzeiro. A situação foi alterada no decorrer de 2018, quando o clube passou a gastar R$ 645.092,00 por mês desta forma. Em abril de 2019, o valor era ainda maior - R$ 670.592,00. Anualmente, o clube gasta R$ 8.051.424,00 com remunerações de conselheiros por meio de pessoa jurídica.

"Compliance"

A dupla entende o termo compliance como "estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos" e crê que o ideal seria manter o "Cruzeiro Esporte Clube em total harmonia e me conformidade com seu estatuto e regimento interno, mantendo-se as boas e seguras práticas administrativas, promovendo assim uma gestão segura e responsável".

Conforme o relatório, "foram sugeridas 242 ações pelo Compliance e somente 13 foram implantadas, e em diversos momentos foram informados os riscos desta não implantação".

O clube gastou R$ 1.260.006,00 com o Compliance. O valor foi dividido em 33 parcelas de R$ 38.182,00. O período vigente é de abril de 2018 a dezembro de 2020, quando se encerra a atual gestão.

Conclusão

"Em função do grande número de documentos à serem analisados, sugerimos que seja contratada uma auditoria externa para uma análise pormenorizada de todos os documentos. Com a verificação dos contratos e seus respectivos pagamentos, notas fiscais, tipos de contrato, objeto, prestação de serviço, prazos, sócios, transações comerciais, intermediações para contratação e renovação de contrato de jogadores e valores, pesquisa de salário junto ao mercado e análise da desproporcionalidade nos aumentos de remunerações".