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Jonas diz adeus ao futebol nesta quarta com 300 gols e idolatria no Benfica

Reprodução/SLBenfica
Imagem: Reprodução/SLBenfica

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de Lisboa (POR)

10/07/2019 04h00

Por volta das 15h30 (de Brasília), o Benfica dará início nesta quarta-feira a apresentação de seus jogadores para a próxima temporada. Quando a bola rolar em seguida para o amistoso contra o Anderlecht, da Bélgica, um nome não ecoará no alto-falante do Estádio da Luz, em Lisboa: aos 35 anos, o brasileiro Jonas decidiu se aposentar e dará adeus aos gramados após chegar a acordo com os portugueses para encerrar o seu contrato.

Ao lado dos torcedores que o batizaram de Pistolas ao longo de seus cinco anos com a camiseta encarnada, o atacante será homenageado com uma programação especial para se despedir oficialmente do futebol.

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Conforme apurado pelo UOL Esporte, Jonas bateu o martelo em reunião na noite da última segunda para receber parte do salário anual de 3 milhões de euros (R$ 12,3 milhões) a que teria direito em seu último ano de vínculo.

Não está descartado que venha ocupar um cargo na diretoria da equipe, a exemplo do que aconteceu com o compatriota Luisão, ex-zagueiro.

Em seu último jogo pelo Benfica, ainda em maio, Jonas chorou ao entrar durante a goleada de 4 a 1 sobre o Santa Clara, que sacramentou o título português. A imagem viralizou nas redes sociais.

Ao mesmo passo, conforme revelado pela reportagem naquela altura, indicava o fim iminente da sua carreira. Nos últimos meses, Jonas se deslocou por diversas vezes até a Espanha para tratar dores lombares que o perseguiam e, no final das contas, tiveram peso fundamental em sua decisão para antecipar a sua retirada.

Mesmo com o problema nas costas, o veterano recebeu consultas de Palmeiras, Santos, China e Arábia Saudita durante o período.

Poderia incrementar ainda mais o seu pé de meia, porém, preferiu seguir em Lisboa em virtude da adaptação de sua família e de seus planos de aposentadoria no Benfica. Nas férias no Brasil, então, resolveu pendurar as chuteiras.

"O Jonas se prepara (financeiramente) para parar desde que começou", afirmou seu irmão Tiago Gonçalves, responsável por cuidar de seus passos, em contato com o UOL Esporte.

Jonas retornou a Portugal na quarta-feira passada e chegou a se dirigir ao CT na segunda para rever os companheiros, mas ficou de fora de qualquer atividade no período, se concentrando na resolução do seu contrato que, a princípio, se encerraria somente em junho de 2020.

Farmacêutico que virou profissional aos 20 anos

Com excelentes passagens também por Grêmio e Valencia, Jonas pôs um ponto final em sua carreira depois de balançar as redes 300 vezes, sendo 137 delas carregando o escudo do Benfica.

Foi muito mais do que o atacante poderia ter imaginado em suas andanças ainda como adolescente pelo interior de São Paulo. Ele resistiu a se dedicar mais firmemente aos gramados, chegando a entrar na faculdade, trabalhando no balcão da farmácia de um de seus irmãos e somente aos 20 anos, praticamente sem qualquer formação na base, se profissionalizando no Guarani.

No sentido mais literal do termo, foi um autodidata da arte de fazer gol.

Jonas comemora gol do Benfica contra o Portimonense - Patricia de Melo Moreira/AFP - Patricia de Melo Moreira/AFP
Imagem: Patricia de Melo Moreira/AFP

No auge de sua carreira, sonhou em disputar uma Copa do Mundo pela seleção brasileira. Em 2018, o seu entorno tinha a confiança de que a chance poderia surgir com Tite. No fim, ela nunca veio, mas o atacante não tem do que reclamar: ele foi muito feliz na Europa.

"Usando uma expressão muito portuguesa, Jonas foi um achado", afirmou Nuno Martins, repórter que cobre o Benfica para o jornal Record, ao UOL Esporte.

"Ele chegou ao Benfica como jogador livre, sem contrato, depois de ter rescindido com o Valencia. E veio no ponto, com as qualidades refinadas. Mostrou um faro apurado pelo gol e inteligência nas movimentações. Sai como segundo melhor marcador estrangeiro do Benfica (atrás do paraguaio Cardozo). Uma pena que os problemas físicos não o tenham deixado ir mais longe", completa.

Principal goleador do Brasil ao longo da última década no futebol europeu, Jonas conquistou, ao todo, quatro Ligas Portuguesas, duas Taças da Liga, duas Supertaças e uma Taça de Portugal.

"Jonas fica na história do Benfica como um dos melhores estrangeiros de sempre, pelo papel relevante que teve e por todos os títulos que conquistou, mas também por ser um dos negócios mais extraordinários da história do futebol português. Ele foi contratado a custo zero, com o mercado fechado. A partir daqui, fez crescer uma lenda no clube encarnado, ficando ligado ao tetra", analisou Tomás da Cunha, comentarista da Eleven Sports, ao UOL Esporte.

"Ele brilhou com (Jorge) Jesus e (Rui) Vitória. Foi o líder espiritual da recuperação de 2015/16, provando que também tinha um peso enorme no vestiário do Benfica. Além disso, e o mais importante de tudo: afirmou-se como um jogador marcante neste século do futebol português, decisivo em quase todos os títulos e registros goleadores fantásticos. O fato de terminar a carreira no Benfica, não no auge, mas ainda com alguma participação, fortalece ainda mais o status de referência do clube", conclui.

Reverenciado até pelos rivais, Jonas foi, como cantam os torcedores na Luz, outro número 10 imortal do Benfica.